sábado, 13 de fevereiro de 2016

Hubo un tiempo

Hubo un tiempo cuando yo aún creía en algunas cosas, en eso tempo yo tenía ideales y mí perdía en ellos; yo mí vía rodeado por sueños inútiles que solamente mi hicieran quedar lejos de la realidad. Yo lo sé que esto es una cosa normal para casi todas las personas, pero yo no soy como ellas, yo nunca fue.

Os sinceros

            Sem medir suas palavras, ele apenas expressava aquilo que vinha à sua mente, sem fazer uso de filtros, sem se importar com o impacto que suas palavras causariam nas pessoas com que ele interagia.
        Sua sinceridade crua e ininterrupta, por mais irracional e inconsequente que parecesse a um observador externo, provinha de uma opção minuciosamente elaborada e almejada. Sentindo-se como sendo um indivíduo destituído de qualquer resquício de egoísmo, destituído de necessidade de companhia, que não possuía mecanismos de proteção e nem receios, ele se permitia externar sua verdadeira essência, permitia-se expressar seus pensamentos e opiniões mais profundas, que constantemente faziam com que as pessoas questionassem as ilusões que as afastavam de seus tormentos e fraquezas; por fazer com que as pessoas se sentissem desiludidas, ele era odiado por todos.

Aula técnica

            Após a demonstração de uma inspeção de soldagem por líquido penetrante, o instrutor reuniu seus alunos, que formavam uma turma de em torno de dez pessoas, em volta da peça que havia sido inspecionada. Algumas conversas descentralizadas podiam ser ouvidas, característica essa que salientava o quanto o grupo estava disperso; nelas os mais variados assuntos eram abordados. Alguns conversavam sobre futebol, outros sobre política, outros relembravam as técnicas utilizadas para a inspeção da peça, e alguns reclamavam do calor do ambiente, que, por causa do telhado de zinco, apresentava proporções exageradas; o horário também contribuía para com a sensação desconfortável que o calor em demasia causava naqueles que estavam inseridos naquele ambiente fabril. Aproximando-se do meio-dia, o sol irradiava diretamente o telhado do barracão.
            Percebendo o desconforto que o calor estava causando nas pessoas à sua volta, o instrutor interrompeu as conversas paralelas e, chamando toda a atenção para si, começou a fazer um discurso:
            — Pessoal. Pessoal! Eu sei que o calor está incomodando, mas tenho que avisar que essa é uma coisa que vocês vão ter que lidar nessa profissão — com um ar de superioridade, o instrutor sempre tentava identificar situações que poderiam incitar algum ensinamento para os alunos, após ouvir algumas pessoas reclamando do calor ele decidiu dizer algumas palavras a respeito disso. — Vocês devem se acostumar, pois quando forem fazer alguma inspeção em campo, não será diferente, sendo que algumas vezes o calor é até pior do que hoje.
      Um dos alunos, percebendo que o instrutor havia terminado seu breve discurso, fez um comentário cômico:
            — Olha a profissão que fomos escolher, ein. Há Há.
            — Há Há. É; essa é uma das partes ruins — disse o instrutor, mantendo seu discurso com ares de importância — mas essa profissão é muito satisfatória. Vocês irão conhecer muitos lugares, muitas pessoas, e não terão uma rotina chata como as pessoas do escritório.
            Muitos dos alunos concordaram, passando a demonstrarem maior satisfação. Na mente de quase todos, que ali se encontravam, aquelas palavras reforçavam escolhas pessoais, direcionamentos ao longo da vida, fazendo com que qualquer outra possibilidade discrepante de profissão se tornasse absurda, incoerente.
            Passando a imaginar o quanto a profissão de inspetor de soldagem era muito superior a todas as outras, muitos dos alunos alteraram suas expressões fatigadas pelo calor, substituindo-as por semblantes animados e satisfeitos.
            No entanto, algumas pessoas ainda se sentiam inseguras em relação à carreira que estavam decidindo seguir. A menção de um trabalho mais tranquilo e delicado, onde o calor não seria um problema, fez com que elas aumentassem, ainda mais, suas inseguranças. Os pensamentos se propagavam incessantemente em tais cabeças. O conforto de um escritório climatizado, que parecia tão satisfatório em mentes, tornava a realidade efetiva em algo doloroso.
            Percebendo seu direcionamento profissional, de muitos anos, sendo desconstruído, fazendo com que uma dor profunda e inconsciente começasse a surgir, um dos alunos disse com veemência:
            — Eu não suportaria trabalhar em um escritório o dia inteiro, parado no mesmo lugar, fazendo as mesmas tarefas monótonas e repetitivas sempre, e  sempre, e sempre. Eu não me vejo em outro lugar que não fosse na área de inspeção, onde a cada dia temos experiências novas, conhecemos pessoas novas.
            O discurso breve, que surgiu como uma rajada inconsciente violenta, fez com que o aluno se tornasse capaz de afugentar a possibilidade que tanto o incomodava e tornava sua realidade dolorosa, fazendo com que ele voltasse a se sentir satisfeito, fazendo com que o ambiente voltasse a adquirir proporções inquestionáveis, convictas e satisfatórias, que agradava a todos.
            A convicção intrínseca incitava pensamentos satisfatórios, o que fazia com que todos ali presentes ficassem em silêncio, por um breve momento, perdidos em suas ilusões particulares.
            Percebendo aquele silêncio inusitado, o instrutor voltou a falar sobre as atividades executadas pelos inspetores:
            — Além do calor, os inspetores devem ter muita paciência, pois, muitas vezes, nos deparamos com gerentes de produção que querem fazer de tudo para que o serviço de vocês seja executado o mais brevemente possível, para que o equipamento que está sendo inspecionado volte a funcionar. Eles não se importam com a qualidade da inspeção, só querem que tudo seja rápido. É nessas ocasiões que vocês têm de se impor, pois se o equipamento for danificado, por conta de ruptura em algum de seus componentes, a culpa recaíra, com certeza, sobre o inspetor. Por mais que isso gere conflito, o inspetor deve ser capaz de dizer não, deve impor seus prazos estimados de inspeção e não sucumbir à pressão.
            Essas palavras incitaram, novamente, a insegurança na mente de alguns dos alunos. Aquele que anteriormente havia se manifestado foi o que se sentiu mais inseguro. Sentindo a dor retornar, fazendo com passasse a se sentir muito mal e frustrado novamente, ele disparou, de novo, um discurso que afirmava a profissão que ele havia escolhido e que o definia, que criava uma estrutura exata e bem direcionada, que fazia com que ele afugentasse a dor e o desespero.
          — Sabe... Acho que o livre arbítrio não existe; nós, ao longo da vida, vamos sendo direcionados por Deus, que determina tudo aquilo que somos, tudo aquilo que devemos fazer. Nós não devemos lutar contra a força divina; devemos aceitar sua vontade e sermos aquilo que Deus que que sejamos.
                Por mais que suas palavras parecessem não possuir relação com o assunto que era abordado pelo instrutor, todos se sentiram satisfeitos com aquelas palavras, que deram um novo rumo ao discurso do instrutor.
            — Eu acredito que nossos destinos e ações já foram traçados por Deus, mas, ao mesmo tempo, se ficarmos parados, se não nos esforçarmos, se não nos empenharmos em busca de alguma coisa, não vamos alcançar a vida que foi traçada para nós. Nesse caso, eu acredito que Deus traça nossos caminhos e objetivos, mas cabe a nós nos esforçarmos para alcançá-los, pois, do contrário, não iremos obter a vida que foi definida para nós — o instrutor parecia não ser capaz de controlar e definir com exatidão o assunto que estava abordando. Sem se sentir satisfeito com seu discurso inicial, ele tentou complementar aquilo que havia falado. — Existe uma história que explica isso que falei: Um homem estava no mar, quase se afogando; mantendo-se tranquilo, ele acreditava que Deus iria ajudá-lo. Então, enquanto ele esperava pela ação de Deus, um barco parou próximo a ele e ofereceu ajuda; o homem recusou a ajuda, permanecendo onde estava, pois dizia a si mesmo que Deus iria salvá-lo. Após um longo período, quando o homem já estava com câimbras e não aguentava mais se manter na superfície, outro barco parou ao seu lado e lhe ofereceu ajuda, que também foi recusada. Por fim, o homem morreu afogado; chegando ao céu ele perguntou a Deus o motivo de sua omissão, ainda mais para com ele, que havia sido um homem correto e fiel em toda a sua vida. Sem se sentir influenciado pela decepção do homem, Deus respondeu que mandou a salvação, duas vezes, mas foi o homem o principal responsável por sua morte, por não ter aceitado e aproveitado tais oportunidades de salvação — todos ouviram atentamente a história, e, sentindo-se estimulado por tal atenção geral devota, o instrutor terminou seu discurso com sua interpretação da história. — Esse conto mostra o quanto Deus nos oferece oportunidades, o quanto Ele nos oferece possibilidades e meios para que sigamos nossos destinos, cabendo apenas nos esforçarmos em busca de obter tais destinos, que foram prescritos para nós.
            — E não é à toa que você coordena esse curso, o cara sabe das coisas. Há Há — disse um dos alunos, que obteve o consentimento de todos com suas palavras.
           As conversas novamente se tornaram dispersas. Os alunos dialogavam, entre si próprios, acerca de situações onde Deus lhes exigiu esforço para que eles obtivessem seus destinos, para que eles alcançassem aquilo que havia sido designado para eles, que estava escrito para eles.
            Enquanto todos conversavam entre si, um dos alunos olhou para o relógio e disse em voz alta:
            — O papo está bom, mas já são meio-dia e eu preciso it, tenho que passar no banco.

       Como que despertos de um transe, todos se dirigiram para a pequena porta do barracão, alcançaram a rua, onde o calor era menos severo, e cada um seguiu seu caminho.