segunda-feira, 25 de julho de 2016

Minhas impressões sobre o livro: A teoria do romance

           Passo agora a me concentrar em lhe descrever minhas impressões sobre o livro de Lukács, que me deixou decepcionado, fazendo, até mesmo, com que eu riscasse uma de suas obras de minha lista de leitura, por não mais considerá-la como sendo capaz de acrescentar muitas coisas — sendo o meu tempo para a leitura um tanto escasso não posso me dar ao luxo de ler obras que sinto não poderem me acrescentar e ajudar muito. A obra em questão é: A ontologia do ser social, podendo eu deduzir como sendo o livro onde Lukács diz ter encontrado as respostas que faltaram na teoria do romance, que, no entanto, são evidentes, sendo elas direcionadas ao materialismo, o que me fez deduzir que em sua obra posterior o autor torna-se capaz de capturar o espírito do nosso tempo através de uma perspectiva materialista, aspecto esse que é absolutamente correto, completamente gritante e descaradamente evidente, mas que não me ajuda a desenvolver minhas ideias, que se encontram em esferas mais profundas e fundamentais da nossa constituição.
            Ao mesmo tempo que Luckács parece se esforçar para formular conceitos, que são evidentes por si próprios, praticamente gritantes quando observamos as pessoas e suas motivações, e não exigem muito esforço de observação, gostei, até certo ponto, do modo como o autor traça a evolução de modelos literários predominantes em cada época, que vieram descambar, segundo o autor, no romance moderno, onde tudo é desconstruído e não resta mais nada de concreto. Na evolução cronológica, traçada pelo autor, ele generaliza e comete erros; diz que antigamente existia a tragédia, onde o herói enfrentava muitas dificuldades, mas que internamente eram irrelevantes, pois os protagonistas possuíam um conteúdo conceitual forme e inquestionável, que os direcionavam , sem maiores problemas, por essas empreitadas; posteriormente veio o romance romântico, onde o herói passa por períodos conturbados, onde a incerteza é eliminada com a estruturação de conceitos exatos, que passam a direcionar o protagonista — caso esse que considero como sendo o estilo do meu primeiro livro —; e, alcançando aquilo que o autor diz ser o momento literário contemporâneo, encontramos o modernismo, ou o romance moderno, onde nada sobrevive, onde tudo é destruído e se renova a todo o momento. Ao meu ver, essa definição é errônea. Através dos tempos, grandes autores modernos escreveram em períodos de predominância romântica ou dramática, assim como obras românticas e dramáticas ainda existem em nosso mundo contemporâneo.
            Desse modo, podemos dizer, sem titubear, que no mundo existem infinitas perspectivas, sendo que o modernismo existiu na tragédia e no romance romântico, e vice-versa, cabendo apenas aos detentores de poder determinar conceitos vigentes, aquilo que deve ser seguido e valorizado em detrimento daquilo que deve ser desestimulado e marginalizado. Essa perspectiva me deixa um tanto triste, até certo ponto, pois me faz imaginar em quantos grandes livros foram simplesmente descartados e nunca publicados, ou analisados por um grande público, por causa de suas inadequações aos parâmetros vigentes, à estrutura e à forma vigente de se enxergar e interpretar as cosias. A investigação da determinação dos valores vigentes, que é muito mais interessante, pelo menos para mim, e complexa, é deixada de lado pelo autor.
Ao mesmo tempo que uma questão importante é ignorada, considero que autor comete outro grande equívoco ao dizer o quanto a literatura faz uso da filosofia em suas construções, mas, mesmo com todo o empenho dos autores, não consegue fazer uso de praticamente nada que os conceitos filosóficos têm a nos oferecer. Essa afirmação me incomodou e foi mais uma generalização infeliz.
Podemos salientar o quanto Tolstói faz uso de conceitos elaborados por Espinoza ou o quanto Dostoiévski faz uso de ideias de Schopenhauer mas não é capaz de elaborar histórias que contenham a vastidão conceitual do filósofo alemão, assim como podemos citar vários exemplos de autores que fazem uso de apenas uma simples interpretação ou conceito de uma grande filósofo para desenvolver toda uma história. No entanto, deparamo-nos, muitas vezes, com autores que abandonaram a filosofia e se dedicaram exclusivamente à literatura, por considerarem a segunda opção, e somente ela, capaz de transmitir e relatar experiências que o formato do texto filosófico de suas épocas era incapaz de mensurar e estruturar, o que os possibilitou criarem obras que servem de referência para a elaboração de teses filosóficas, atributo esse que torna a generalização de Luckács ainda mais descabida.
Entretanto, o livro tem lampejos realmente interessantes, que nos conduzem diretamente a questões contemporâneas, a problemas que a cultura da desconstrução incute em nossas mentes e não mais nos permite possuir uma vida saudável e eficiente, mas, infelizmente, tais questões, que realmente me chamaram a atenção, foram simplesmente abandonadas, deixadas de lado para a continuação da exposição dos formatos literários.
Essa omissão fez com que eu ficasse um tanto irritado, mas, ao mesmo tempo, me agradou, por fazer com que percebesse que meus escritos e propostas não são inteiramente descabidas, e tratam de assuntos que incomodam, até mesmo, grandes escritores.
Para externar com precisão minhas impressões acerca do livro, tentarei citar algumas questões relevantes que o livro suscitou em mim:
“Como recuperar a eficiência de um mundo bem estruturado em uma mentalidade que foi demolida?”
“Os livros de Tolstói parecem nos remeter à nossa natureza mais profunda, relatando experiências incríveis, como as reveladoras vivências de quase morte nos campos de batalha. Mas, no entanto, esses lampejos da verdadeira existência deixam muito a desejar, pois sempre são muito curtos e não nos permitem analisa-los com precisão.”
“Muitos livros são realmente perigosos; eles nos permitem desconstruir nossas lembranças mais entorpecedoras, fazendo com que sejamos inseridos em quase que um novo mundo, em um lugar desconhecido e doloroso, de onde corremos o risco de nunca mais sairmos, de nunca mais termos uma vida saudável.”
“Muitos escritores, que são considerados como sendo imortais e grandiosos, me parecem ser nada além do que homens superficiais, egoístas e incoerentes. Sinto que eles foram os responsáveis por fazer com que a religião, a cultura, se tornasse imprescindível para o ser humano, que, quando não abraça fortemente conceitos pré-determinados e limitados, se vê irremediavelmente desesperado, e sem alternativas, quando se depara com perspectivas novas, com novas associações e formas de ser, fazendo com que aqueles que experimentam sensações novas, ou até mesmo se arriscam em direção à descoberta de novas paragens, tornem-se os religiosos, ou os seres sociais, mais adeptos e fervorosos. Isso me incomoda muito, e, desde sempre, me vi imbuído da tarefa de ser o responsável por acabar com essa palhaçada ridícula.”
“Quando existiu uma paixão sensata e contida? Quando existiu um sentimento doloroso que não se amplia com o passar do tempo até se tornar alguma coisa completamente desesperadora? A resposta para essas questões é óbvia, sendo ela um categórico: nunca! Entretanto, essas questões iniciais levantam ainda mais questões... O que quer dizer aquilo que sentimos? Qual o motivo de muitos de nossos sentimentos e desejos?... Tais questionamentos nos parecem ser eternos, para sempre destinados a rondar nossas mentes, permitindo-nos encontrar uma infinidade de respostas plausíveis durante cada uma de nossas exaustivas investigações; entretanto, uma coisa me sinto seguro em dizer: Vivemos vidas cheias de som e fúria, que não significam nada.”
“Possuir um ideal inalcançável, capaz de estruturar e direcionar toda uma existência. Será essa a única forma de possuirmos uma vida saudável?”
A intenção do autor de sistematizar e de fugir de análises mais profundas, para não correr o risco de dizer coisas absurdas, me incomodou, podendo eu dizer que meu estilo é completamente diferente; sendo eu um Zé ninguém, sem nada a perder, escrevo sobre minhas sensações mais esquisitas, assim como tento explorar as sensações mais incomuns, profundas e afugentadas das outras pessoas, permitindo-me, apenas assim, elaborar os conceitos que, para uma mentalidade alienada e iludida, parecem ser os mais absurdos e incoerentes, afinal, todo conceitos elevado e exato foi, um dia, algo esdrúxulo e incompreensível, e isso não é de se espantar quando analisamos o quanto nossa cultura vigente é covarde e deturpa, de forma assustadora, a realidade em função da manutenção de interpretações artificiais e completamente incoerentes.
Mesmo me sentindo corajoso, e até mesmo inconsequente, quando me proponho a explorar algo, sinto-me sempre triste ao ler meus textos, pois acho que eles não são capazes de transmitir aquilo que enxergo, que sinto; essa sensação me incomoda e me faz questionar minhas empreitadas literárias, que parecem não surtir nenhum efeito em ninguém, sendo, dessa forma, uma perda de tempo, que poderia ser direcionado rumo a uma atividade mais relevante aos olhos das outras pessoas, que, por incrível que pareça, são incapazes apreciar e realmente valorizar o importante papel que tem a literatura em nossas vidas.
Sem defender nenhuma posição e escrevendo apenas por diversão, tenho apenas em mente o quanto alteraria minha escrita se tivesse pretensões acadêmicas, como as de Luckács; o que, mesmo assim, já é o suficiente para aceitar um livro um tanto covarde. Ao mesmo tempo, tenho de levar em consideração o quanto os livros de Luckács foram minuciosamente analisados e debatidos ao longo dos anos, fato esse que fez com que muitos de suas proposições, que a princípio eram originais e revolucionárias, parecem-me completamente batidas, nada além do que uma repetição enfadonha. Encontrando suas ideias em muitos outros livros posteriores, talvez tenha perdido o encanto de me impressionar com uma definição inovadora no livro que li; essa sensação foi por mim observada também no livro: Em busca do tempo perdido, que, de tanto ser analisado, usado como referência e citado, tornou-se um livro simplório, onde as grandes descobertas do autor tornaram-se banais, corriqueiras e incapazes de justificar a dedicação a uma leitura extensa.
           Para finalizar, essas foram algumas das minhas impressões com relação ao livro, sempre lembrando que a minha opinião é a de um leigo, que não conhece profundamente Luckács, nem suas obras e nem suas referências. 

Estrutura intrínseca do livro Laer Roma

               Para cumprir o que prometi, irei descrever, espero que de forma sucinta, como que estruturei o livro Laer Roma, que, como já disse, é muito mais profundo do que parece.
            Como você pôde perceber, o livro: O diário é uma continuação, ou, melhor dizendo, é um livro onde continuo a abordar, de um jeito mais profundo e original, muitas das ideias presentes no Laer Roma.
            Antes de iniciar a explicação, é preciso dizer que ambos os livros se tratam de alienação, de imposição social, que transforma as pessoas, fazendo com que elas absorvam conceitos responsáveis por definir tudo aquilo que elas sentem ou pensam. No primeiro livro, essa questão é limitada ao embate entre o agente responsável pela inserção dos conceitos vigentes —a mãe — e o indivíduo que assimilará tais conceitos, passando a possuir uma mentalidade específica e pré-determinada — o filho —; nesse processo comum, com o qual nos deparamos constantemente ao longo de nossas vidas, o filho deve abandonar qualquer tipo de particularidade para absorver aquilo que lhe é imposto. Nesse primeiro livro essa relação é ridícula, pois a mãe, sendo ela destituída de força de vontade, egoísta e restringida por suas ilusões entorpecedoras, é incapaz de representar um desafio à altura do protagonista, que a refuta sem nenhuma dificuldade, podendo ele, sem se ver obrigado a absorver nada, ser capaz de estabelecer associações próprias, estritamente relacionadas com aquilo que ele realmente sente e percebe.
            Para colaborar com essa batalha relativamente fácil, agentes externos e um pai autoritário também foram eliminados.
            No segundo livro, o ambiente torna-se mais amplo. A família do protagonista não é autoritária, não tem de ser combatida em busca de uma mentalidade própria; entretanto, a imposição social ocorre através das interações do protagonista em sua escola que tem o nome de Riulop, que ao contrário quer dizer poluir, representando assim uma instituição responsável por introduzir valores e definir um modelo específico, que deve ser valorizado por todos, sem exceções.
            A discrepância entre as interpretações do protagonista e os valores vigentes faz com que ele passe a se enxergar como alguém retrógrado, abjeto, por não se adequar àquilo que é estimado por todos, assim desenvolvendo uma má consciência a respeito de si mesmo e de suas atitudes.
            Em um terceiro livro pretendo explorar a interação entre o filho e um pai autoritário, mas esse é um projeto futuro...
            Voltando ao primeiro livro (Laer Roma), pode parecer estranha a data da história, que ocorreu em 1978, no entanto, essa data é fundamental para que eu pudesse alcançar aquilo que pretendia com o livro, que era a criação de uma ilusão por parte do protagonista.
            No segundo livro escrevo sobre o quanto a internet nos permite realmente desenvolver aquilo que antes era desenvolvido inconscientemente, apenas pela nossa imaginação mais irrepreensível e exagerada, dessa forma mostrando o quanto nossa vida é vazia, o quanto as recompensas impressionantes e os cenários suntuosos existem apenas na nossa imaginação, sendo esses exageros criados em função da falta de uma confrontação da realidade com aquilo que se passa na nossa mente. Dessa forma, foi meu desejo escapar de uma era digital, onde todo mundo encontra todo mundo, para que o protagonista desenvolvesse suas interações, com a pessoa que simpatizava, através apenas de seus desenvolvimentos inconscientes e exagerados, que, por fim, transformaram uma afinidade banal em uma ilusão exagerada e absurdamente intensa.
            No fim do livro, em meio ao auge de sua ilusão, o protagonista reencontra aquela que incita o seu ideal, sendo esse encontro cortado, propositalmente, pois a partir daí existirá apenas desilusão, o que não agrada as pessoas comuns, que estão a todo o momento em busca de uma ilusão, sendo o amor a maior dessas ilusões; lembre-se que o Laer Roma é um livro comercial, tem que estar relacionado ao que a maioria das pessoas almejam e àquilo que elas são capazes de assimilar.
            Utilizando conceitos cotidianos, tive de fazer muito uso da aparência física dos personagens, por ser esse um dos principais parâmetros em se tratando daquilo que uma pessoa é capaz de pensar sobre a outra. Também fiz uso de estereótipos, com os quais me deparo constantemente durante as conversas com as pessoas mais cegas e estúpidas, sendo elas, infelizmente, a grande maioria das pessoas que encontro; esses estereótipos fizeram com que eu abandonasse a necessidade de uma análise mais aprofundada e, ao mesmo tempo, foram os responsáveis por fornecer para o leitor a forma pela qual eu gostaria que eles enxergassem os personagens que compõe a trama: uma pessoa que valoriza sua aparência, a obtenção de músculos, como sendo alguém quase que retardado e incapaz de reflexões, pensamentos profundos e sentimentos intensos; uma mãe fútil que valoriza nada além do que seu status social e o dinheiro; uma menina estúpida, incapaz de elaborar conceitos próprios, tendo de assimilar tudo aquilo que dizem ser a forma correta de se interpretar as coisas e os acontecimentos. Além disso, tive que fazer com que o personagem principal fosse alguém rico, aspecto esse que também contribui para um julgamento positivo por parte do leitor, afinal, vivemos em um mundo absurdamente alienado, materialista e estúpido.
            Mesmo com um objetivo a ser alcançado, os personagens utilizados na história são, ao meu ver, rasos e mal elaborados, mas as pessoas gostaram, pelo menos me dizem isso Ha Há, e isso é o mais importante.
            Além dessas características cotidianas, também tentei salientar o quanto as pessoas são egoístas, assim como o quanto os governos e as sociedades são movidas por desejos e motivos egocêntricos, que não visam nada além do que benefícios próprios. Além dessa característica, tentei demonstrar o quanto nossa vida social, nossa vida cotidiana, é falsa, cheia de expressões dissimuladas, cheias de segundas intenções, que escondem verdadeiras impressões e motivações. Tentei externar essas referências de forma implícita, utilizando para isso os discursos da mãe e da Isabela; achei que para tanto não precisaria fazer uma referência muito profunda, por considerar ser essa uma característica muito comum, sendo as pessoas capazes de facilmente identificar tais aspectos.  Ao meu ver, essas características tão comuns são as responsáveis por afastar as pessoas de qualquer tipo de verdade sobre si mesmas, assim como as afastam de descobertas mais profundas. “A coisa mais perigosa é a mentira; o homem que mente acaba mentindo para si mesmo, até o ponto de não mais identificar qualquer tipo de verdade. Após isso, sem poder identificar motivos verdadeiros, ele se torna incapaz de amar, se torna incapaz de realmente enxergar, passando a viver uma vida absolutamente artificial e falsa, sem nenhuma relação com o seu verdadeiro ser.” Nesse contexto, tento, através do livro, valorizar a sinceridade, algo tão raro atualmente, assim como tento demonstrar o quanto uma constituição destituída de ego é capaz de fazer associações mais abrangentes e exatas, por ser ela destituída de algo a ser protegido, de algo que precisa ser estimado, aspecto esse que faz com que as pessoas egocêntricas tenham uma concepção completamente deturpada sobre as cosias. O personagem principal tenta demonstrar a supremacia de uma constituição destituída de ego e sincera, em detrimento de constituições dissimuladas e egoístas (como as de sua mãe e a da Isabela). Ao mesmo tempo que o personagem demonstra claramente sua discrepância, sua mãe acaba por identificá-lo como uma ameaça àquilo que ela é, fazendo com que ela se sinta mal perante um mundo sem ideais entorpecedores, passando a desprezar o filho, atribuindo tudo que ela considera como sendo as piores características, que uma pessoa pode possuir, à pessoa que ameaça seus ideais e desejos impensados e mundanos. Nesse caso, tento demonstrar o quanto a maternidade não é motivo suficiente para evitar um desprezo profundo, um ódio profundo.
            Em se tratando dos principais objetivos do livro, posso dizer ser a desconstrução de uma interpretação Freudiana a principal razão da minha empreitada em desenvolver a história. Não sei te explicar o quanto a perspectiva comum me enoja; as pessoas são incapazes de analisar o que quer que for, e, consequentemente, reproduzem, sem nem ao menos parar para analisar aquilo que repetem e valorizam, tudo aquilo que foi dito e imposto como sendo a verdade. Nesse mundo alienado e sem qualquer tipo de senso crítico, vejo Freud como sendo um dos autores responsáveis por definir os pilares da nossa cultura cotidiana, e, portanto, alguém a ser combatido, desacreditado, tendo como objetivo a destruição de regras e definições incoerentes. Meus estudos sobre as teorias Freudianas foram exaustivos, e seus textos são, em grande parte, muito incoerentes; mas, ainda mais distante do que muitas proposições inconsistentes do autor, vejo as pessoas como reprodutoras de tais conhecimentos, sendo elas incapazes de ler qualquer um dos textos e conceitos que citam, mas, ao mesmo tempo, possuindo uma vontade imensa de citá-los, incorporando-os a definições impensadas e ridículas, e isso é o que mais vejo atualmente. Essa vontade, essa necessidade, de citar o autor tem relação com a mistificação do mesmo como sendo a pessoa mais precisa, mais coerente, em se tratando de interpretar a realidade e a natureza humana, o que considero ser completamente equivocado, exigindo, por minha parte, um esforço literário para introduzir novas possibilidades e alternativas, que permitem que as pessoas possam refutar as limitadas teorias Freudianas, que, infelizmente, ditam a forma como as pessoas interpretam os acontecimentos atualmente. Para tal tarefa, que não foi fácil, fiz uso de escritores que refutam as bases das proposições Freudianas, sendo Jung o principal deles, utilizei-os para que pudesse adequar minha forma de pensar a modelos anteriores, que já haviam sido elaborados e que não parecessem absurdamente estranhos para as pessoas. Infelizmente, alguns desses conceitos, opostos aos conceitos Freudianos, possuem aspectos místicos, atributo mortal em nosso mundo moderno materialista, sendo essa outra razão para a publicação do livro, o estabelecimento de conceitos, antes místicos, inexplicáveis e raros, tendo como base aspectos realistas e palpáveis.
            Mesmo sendo essa uma razão suficiente, ao meu ver, para a publicação do livro, ela não foi a única, e, até certo ponto, foi um motivo quase que secundário. Aquilo que muito me motivou a escrever o livro foi a vontade de estimular as pessoas a desenvolverem seus próprios conceitos, suas próprias histórias, permitindo com que se tornassem independentes, donas do seu próprio mundo, não mais necessitando de instituições que determinem aquilo que elas devem pensar ou sentir; além disso, quis fornecer uma vasta referência literária, a qual não é encontrada durante o ensino médio, mas que, na minha opinião, é de suma importância em se tratando de elucidar questões pelas quais passam alguns adolescentes, sendo, até mesmo, imprescindível para um adolescente intelectual, que se depara com problemas intelectuais. Vi a necessidade de fornecer tais referências em função dos livros que fui obrigado a ler no colegial, sendo todos eles completamente inúteis em se tratando de fornecerem ferramentas que me ajudassem a resolver questões que me incomodavam, e servindo apenas para fazer com que eu repudiasse a literatura, por considerar que os livros eram sempre enfadonhos e desnecessários, atributo esse que é não correto.
            No manuscrito original é possível encontrar muitos e muitos erros gramaticais, de concordância, etc. Minha intenção era deixar clara a falta de conhecimentos gramaticais que, mesmo assim, não foi capaz de impedir o autor de desenvolver no papel as suas ideias. Essa característica, que permaneceu na versão final, tornando-se apenas menos frequente, tem como intuito incitar a sensação que tive quando descobri que Dostoiévski escrevia muito mal, que Bukowski escrevia como um semianalfabeto e que Rimbaud não se importava nem um pouco com a gramática, desde que suas ideias estivessem claras no papel; saber que esses grandes escritores não se importavam muito com a gramática fez com que eu abandonasse minha insegurança com relação ao uso correto da língua portuguesa, permitindo-me, somente após a superação desse medo paralisante, desenvolver minhas histórias e impressões, e é isso que almejei transmitir às pessoas que leram o meu primeiro livro.
            Quando jovem adquiri uma certa obsessão por livros que desrespeitavam regras gramaticais ou tentavam criar uma gramática própria, um sistema próprio de descrição e classificação das coisas. Esse ato de transgressão não era apoiado por ninguém, mas muito pelo contrário. Minhas tentativas exaustivas de abolir a crase ou de criar uma gramática sem ss, sc, c, ç, sem acentos, em vista de criar palavras mais fáceis e uniformes, com o intuito de diminuir o tempo que as pessoas gastam aprendendo o idioma e as permitir gastarem mais tempo com o desenvolvimento de suas ideias, eram tidas apenas como uma necessidade preguiçosa, o que era totalmente equivocado, sendo, pelo menos para mim, a adequação a regras anteriormente estipuladas uma atitude muito mais fácil de ser alcançada, quando comparada à criação de um sistema próprio e coerente. Lembro-me até mesmo da primeira vez que descobri que gostava muito de literatura, sendo essa vez uma conversa que tive com um amigo, que me disse que prezava muito mais os autores analfabetos, pois esses pareciam dedicar muito mais tempo ao desenvolvimento de suas ideias e impressões do que à maneira gramaticalmente correta de descrever aquilo que sentiam e pensavam, fazendo com que seus livros se tornassem muito mais completos e interessantes do que os livros de autores muito preocupados com a gramática, que pareciam dedicar muito mais tempo pesquisando a forma correta de se escrever, em detrimento do aprimoramento de suas ideias. Essas palavras, de um amigo meu, soaram, para mim, como um ato extremo de transgressão, que ia completamente contra tudo aquilo que eu havia aprendido como sendo literatura desde então. Eu via professores analisando autores apenas através da capacidade de seguir regras e escrever corretamente, sendo esse atributo colocado em primeiro lugar e eclipsando qualquer tipo de análise mais profunda dos textos, aspecto esse que me incomodava muito, exageradamente, exigindo, de minha parte, a necessidade de tentar mostrar que a literatura de verdade é muito mais do que um arranjo, embasado em regras pré-estipuladas, de palavras, é muito mais do que concordância ou ideias rasas e mal elaboradas; ela é, na verdade, um ato de transgressão, de verificação daquilo que nos é imposto, de criação daquilo que sentimos e percebemos, de identificação e de definição do nosso mundo; e foi esse tipo de literatura que pretendi externar no meu livro, fazendo com que as pessoas abandonassem aquilo que professores pedantes e burros dizem ser a verdadeira literatura.
            Tendo todos esses objetivos a serem alcançados, fiquei muito feliz por ter conseguido escrever um livro que relacionasse tais parâmetros que eram extensos, discrepantes entre si e me deram muito mais muito trabalho para relacioná-los de forma coerente , assim como me senti satisfeito por ser capaz de descrever uma a história sob a perspectiva de um personagem complexo, atributo esse que também não foi nada fácil.
            Em sua faceta mais sensível e profunda, o livro fala sobre amor e sobre aquilo que acho que as pessoas sentem, de acordo com livros e algumas poucas observações pois em Sertãozinho é impossível estimar intensamente alguém, as pessoas aqui são, em sua grande maioria, mega toscas, e aquelas que são um pouco interessantes são desvalorizadas pela grande maioria tosca, por não se adequarem aos parâmetros ridículos, e são deixadas de lado, ficam meio que desaparecidas, escondidas por aí. A princípio, o protagonista está apaixonado, deparado com uma sensação nova, que faz com que ele se sinta mais potente do que nunca, fazendo com que, consequentemente, ele se sinta muito bem e feliz; ao mesmo tempo, ele se vê receoso perante a valorização exagerada de uma pessoa em particular, de um objeto em específico, incitando-o a tentar desconstruir aquilo que é intenso e está se formando em sua mente — nesse caso, posso considerar essa como sendo mais uma característica intrínseca de uma constituição mais consciente, mais racional, e isso me deixa muito satisfeito, por ser eu alguém responsável por descrever mais profundamente tal mecanismo; sei que outros autores desenvolveram essa característica muito bem, considero Proust como sendo o melhor deles, mas, mesmo assim, fico feliz por poder abordar um tema que considero estar muito presente ao longo de nossas vidas, e, ao mesmo tempo, fico muito feliz por poder identificar mais uma característica da nossa razão pura, que no incrível livro de Kant foi especulada muito rasamente, definindo o menor esforço como sendo uma parte intrínseca do nosso ser, e parando, infelizmente, por aí; ou, melhor dizendo, posso considerar essa descoberta como podendo ser caracterizada como derivada de uma crítica da razão consciente, pois as pessoas buscam, avidamente, possuírem ideais e estruturas exatas, ilusões bem definidas e muito bem direcionadas, que as tornam absurdamente vulneráveis, em se tratando de quando se deparam com qualquer aspecto que ameaça tais ideais profundos, aspecto esse que não é encontrado em pessoas racionais, que ao perceberem algum tipo de construção exagerada tratam de alterar e afugentar tais parâmetros. Assim o personagem se esforça para desconstruir esse sentimento, relacionando-se com outra pessoa, que, em sua mente, será capaz de fazer com que ele desconstrua seus sentimentos intensos, que são direcionados a uma direção específica, atributo esse que o torna vulnerável, suscetível e fraco, não importando o quanto essa pessoa em específico o faça se sentir bem.
            Tendo essa perspectiva profunda instalada em seu intelecto, o personagem se sente satisfeito ao ler o livro de Schopenhauer sobre o amor, que lhe incita a ideia de que pode direcionar seus sentimentos para onde bem entender, sendo seus sentimentos relacionados a nada além do que desejos sexuais.
            Sua mente, que estava bem estruturada e tinha Ana como base dessa estrutura, sofre uma desconstrução completa no momento em que o personagem vai se encontrar com a Isabela, o que lhe permite sentir o nirvana (sensação essa que tentei descrever mais profundamente no segundo livro).
            Obtendo sucesso na tarefa de abdicar à sua construção intensa, ele continua a viver satisfatoriamente, sem saber que aquilo que o faz se sentir bem ainda está presente, influenciando-o, sem que ele perceba. Esse aspecto, que coloquei no livro, tem como intuito fazer com que as pessoas passem a questionar a sua capacidade de identificar seus verdadeiros motivos, seus verdadeiros desejos e estruturas mais profundas, que, na realidade, permanecem muito longe de qualquer percepção consciente, influenciando-nos, de forma intensa, sem que possamos identificar o que realmente é importante e essencial para nós. Essa característica nos remete a nossa constituição em grande parte obscura e inconsciente, sendo que podemos considerar que grande parte de nossas atitudes e motivos são misteriosos para nós.
            Ao perder aquilo que o agradava, ele mergulha em uma fase dolorosa, de desespero, que foi floreada no livro, diminuída, para não expressar sentimentos intensos, contra os quais as pessoas comuns se protegem desde sempre e, portanto, estaria muito aquém de suas realidades, não as permitindo compreender tais sensações. Nesse momento, finalmente percebendo aquilo que o influenciava profundamente, ele passa a desenvolver inconscientemente a ideia que Ana passou a representar em sua mente. A distância do objeto que passou a ser desejado intensamente só faz com que o protagonista exagere ainda mais em suas definições, criando, dessa forma, uma imagem completamente equivocada e irreal.
            Tornando-se uma ilusão exagerada, a Ana passa a representar algo que todas as pessoas ou possuem ou buscam avidamente, mas que, quase sempre, permanece oculto e muito longe de uma identificação consciente.
            Percebendo tais aspectos da nossa constituição, o protagonista consegue facilmente refutar aquilo que estava escrito na metafísica do amor, dessa forma refutando a base da teoria psicanalítica e se vendo no papel de definir uma nova perspectiva que realmente relacione aquilo que ele percebe, conduzindo-o à definição final do livro, que tenta estabelecer uma nova forma de enxergarmos as coisas e nossos impulsos profundos.
            Tentando explicar agora, vejo o quanto eu perdi o controle do livro, vejo o quanto eu ainda preciso melhorar e desenvolver mais satisfatoriamente os meus conceitos. Mas, mesmo com minha falta de habilidade, as pessoas gostaram do livro; e isso, digo novamente, é o mais importante.
            No final do livro, tentei externar uma nova forma de interpretar a psique humana e nossa necessidade mais profunda, e imprescindível. Essa parte final, que ficou confusa, tenho de admitir, foi como que um guia para o livro, sendo que sua existência é anterior a qualquer tipo de possível elaboração de um roteiro do livro, sendo ela utilizada como uma das referências, como um guia que me direcionasse durante a elaboração da história.
           Muitas pessoas dizem ser evidente a minha pressa, ao longo da história, em alcançar a revelação final, a definição das impressões desconexas, do protagonista, ao longo do livro. Tal observação é precisa, exata, sendo essa pressa mais um dos meus defeitos.
            Deixando de lado a correria e os acontecimentos mal desenvolvidos, em função da minha vontade exagerada de apresentar o ensaio final, passo agora a me concentrar no surgimento, na formulação e na adaptação do final do livro, que constitui na inserção de elementos e conceitos comuns, que poderiam ser assimilados pelas pessoas. Para tanto, tive de alterar o conceito principal, com o qual realmente me identifico — que foi expresso em sua total dimensão no livro O diário —, inserindo conceitos desenvolvidos por Platão — Anima Mundi, para ser mais exato — e um enfoque mais materialista, que me permitiu até mesmo apresentar o vergonhoso exemplo da gravidade, que encontrei em um dos livros que li, das teorias de Nietzsche e sua vontade de potência. Essas alterações foram necessárias para fornecer ferramentas que facilitassem a compreensão, que, por fim, parece não ter sido alcançada pelas pessoas que leram o livro, que, na maioria das vezes, são incapazes de externar qualquer tipo de interpretação própria com relação ao último capítulo.

A respeito do livro Laer Roma

Olá. Primeiramente tenho de dizer que fico muito feliz que tenha gostado do livro. O fato de o livro ter sido elaborado com um proposito comercial me deixou muito preocupado com relação a uma abordagem mais profunda e especializada daquilo que foi proposto e construído por mim. Tenho que admitir que muitas passagens foram simplificadas e a história simplesmente foi cortada e omitida perante momentos onde os personagens começavam a refletir de forma profunda, assim como a descrição dos personagens e dos ambientes, que se tornaram sucintas e cheias de estereótipos (para fornecer referências generalizadas, que facilitariam a interpretação por parte de todos os tipos de leitores). No entanto, não abandonei minhas ideias para escrever um livro que pudesse ter sucesso comercial - que pudesse agradar a grande massa de leitores-; elas permanecem dentro do livro, sendo apresentadas de forma subjetiva, estando praticamente ocultas dentre as passagens da história, sendo apenas reveladas para alguém com um olhar mais atento e direcionado; para essas pessoas elas se tornam gritantes.
Por meio desta que pode ser considerada uma carta, irei tentar elucidar as passagens que transmitem a minha verdadeira forma de pensar e o verdadeiro sentido do livro. Peço para que depois de tais explicações você releia o livro e me transmita aquilo que você enxergou em sua releitura mais direcionada; ao mesmo tempo, irei lhe enviar dois outros livros que escrevi, que irão ajudá-lo a compreender aquilo que penso, e que adoraria que fosse analisado e debatido por alguma pessoa que fosse especializada no assunto ou que, de preferência, se identificasse com aquilo que foi abordado no livro, podendo, dessa forma, fornecer uma perspectiva mais profunda e real sobre aquilo que tentei desenvolver com muito esforço, utilizando para tanto apenas minha imaginação, que, infelizmente, não pôde contar com experiências profundas, que poderiam me fornecer relações exatas, capazes de fazer com que o livro se tornasse ainda mais crível e bem estruturado.
Antes de iniciar a explicação do livro, preciso falar sobre minha maior referência literária, sendo ela o autor Robert Musil. Tenho de dizer que quando escrevi o LAER ROMA ainda não tinha contato com as obras desse autor; entretanto, minhas perspectivas sobre muitos temas são absurdamente parecidas com as desse autor que tanto admiro, e, após ter contato com tais obras, essa coincidência de pensamentos fez com que eu me sentisse com muita vontade de publicar minhas obras.
Ainda explanando sobre minhas referências literárias, tenho de salientar minha paixão pelas obras de Nietzsche, sendo ele o responsável por fornecer a base de todo o livro, sendo ela a vontade de potência, argumento esse que servirá de fundamento para criticar a metafísica do amor e a manutenção das espécies; sendo essa a principal discussão, o tema principal do livro.
Após feitas as devidas apresentações, irei introduzir dois textos, escritos por mim, que foram fundamentais para a criação do livro. No primeiro texto - que eu gostaria que fosse publicado junto com o livro, mas que foi barrado pelo editor – tento elaborar a verdadeira sinopse, aquela que contém a verdadeira essência do livro e não todas aquelas baboseiras sobre “bom partido” escritas pelo editor Há Ha.


Sinopse do LAER ROMA, escrita por mim:
Laer Roma é um título exótico que representa o conteúdo do livro, que é referente aos padrões de interações pessoais de nossa sociedade atual. O autor Joseph Campbell, em uma de suas análises, apresenta a teoria de que o amor, escrito ao contrário se refere a Roma, condizente à forma institucionalizada assumida atualmente com relação a esse assunto; laer é algo sem sentido, estranho, ligado a algo estatizado e quase que obrigatório; definindo assim a expectativa atual do amor (segundo a concepção geral). Aqueles que enxergam o mundo de um modo diferente, até mesmo ao contrário (como se enxergassem através de um espelho) do que é definido como normal, são os que ainda conseguem interpretar e possuir valores magnânimos em suas vidas.
O livro se refere a um garoto, chamado Lucas, que tem uma visão diferente de mundo (comparado à visão geral). Ele é um garoto de ótima condição financeira, que lida com questões filosóficas, existenciais, e com a ambivalência dos sentimentos. No livro Lucas se encontra praticamente em um estado pôs assassinato do totem (referente às pesquisas de Freud com relação ao complexo de Édipo), onde os valores vigentes deixam de existir e novos valores são integrados, sem mais possuírem relação com uma figura divina e onipotente; sendo o responsável por criar suas próprias crenças e condutas, Lucas define suas interpretações sobre suas sensações e percepções, sendo elas dignas de um ser evoluído, quase como o super-homem descrito por Nietzsche. Essa característica faz com que não recorra à mistificação do antigo pai (que determina condutas e formas de ser), na figura de um ser onipresente como deus. Essas características o permitem viver uma vida intensa, racional, ilimitada e, acima de tudo, real. No livro, essa conduta de Lucas é subjetiva, se caracterizando principalmente pela completa ausência do pai.
A essência do livro se caracteriza por uma crítica à libido sexual, definida por Freud como a base da vontade humana, e refuta os argumentos apresentados por Schopenhauer sobre o sentido do amor. Com relação ao amor (que é a temática do livro), são descritas as experiências e interpretações de Lucas, esse ser humano tido como evoluído, que transmitem uma forma de amar inovadora, definindo uma nova teoria da interação entre os seres humanos e o meio.

O próximo texto foi escrito por mim antes do livro, e serviu como referência, como o caminho a ser seguido por mim durante a história que tentei desenvolver. Esse fato se torna evidente quando me precipito, quando acelero a história, tendo como único objetivo alcançar o final, que eu me propus a externar, e que me fez desenvolver uma história, criar personagens, cenários e um enredo, tudo com a intenção de tornar a ideia mais comercial e atrativa, não sendo discriminada por ser apresentada de modo estritamente teórico e maçante.


Texto que serviu como referência para o livro:
As coisas à nossa volta parecem ser inertes, irrelevantes, não suscitando nada de especial, ou diferente, em nós. No entanto, às vezes nos deparamos com algum elemento que ultrapassa a nossa indiferença e frieza perante as coisas e parece nos atingir violentamente, adquirindo um poder descomunal sobre nós. Esse objeto, que se torna um elemento de suma importância, passa a influenciar diretamente o nosso estado de espírito, o nosso humor. Cada vez que esse elemento se afasta, cada separação forçada, faz-nos sentir uma tristeza profunda, uma redução da potência; assim como cada aproximação do objeto é responsável por uma alegria reconfortante e satisfatória, um aumento da potência.
Entretanto, o objeto que tanto estimamos apenas pode nos influenciar quando se encontra à distância, quando permanece intocável e inverificável. A partir do momento em que conseguimos entender e perscrutar pormenorizadamente o objeto que tanto estimamos, esse simplesmente é desconstruído, perde-se em meio a uma definição embasada em proporções realistas, que refutam tudo aquilo que havíamos imaginado que aquele objeto poderia nos proporcionar.
Após a nossa desilusão inicial, vamos percebendo o quanto nossa alma apenas almeja desejar, ser direcionada a algo, sendo a obtenção dessa algo um acontecimento aterrorizante, desesperador. Então, podemos nos considerar como sendo perseguidores de ideais; para ser mais exato, podemos nos considerar como ciclistas, que precisam estar em movimento, em direção a algo, para que não paremos, atitude essa que muito provavelmente nos fará perder o equilíbrio, nos fará cair.
Mas, mesmo com a nossa necessidade intrínseca de movimento, de ideais, às vezes algumas pessoas obtêm um nível intelectual que não as permitem se desvencilhar da dolorosa constatação de que a vida é totalmente inútil, que nossos ideais são completamente absurdos e nunca nos levam a nada. Nesses casos, de desconstrução intelectual profunda, a vida começa a se assemelhar a um sonho, a um acontecimento distante e sem relação conosco, onde nada mais tem a capacidade de se tornar um ideal, de nos influenciar de forma intensa.
Incrivelmente apáticos e desiludidos, os seres intelectualmente desenvolvidos passam a desprezar as suas atitudes e esforços, que para eles passam a ser considerados como sendo desnecessários. A vida e todos os seus aspectos passam a ser irrelevantes; o intelecto perde por completo a possibilidade de elaborar objetivos inconscientes, cabendo apenas à analise consciente do indivíduo a tarefa de elaborar e se posicionar perante as coisas; essa característica, a princípio, incomoda sobremaneira, por não mais permitir a construção de qualquer tipo de ideal, de meta, mesmo sendo essas elaborações inconscientes e equivocadas, fazendo com que o indivíduo se depare com uma dor profunda e sem fim, que não é amenizada pela construção de ideais e de cenários que afugentam as incertezas e o desespero. Cada novo acontecimento apenas entristece, apenas incomoda. No auge do desespero, o ser racional quer, a todo custo, fugir de si mesmo, por não mais se suportar, por não mais suportar as condições que a vida lhe apresenta.
Esse aspecto raro e perigoso, é o responsável por causar a mais sensível e profunda das mudanças, fazendo com que o indivíduo perca sua capacidade primordial e primitiva de formular sua alma, e adquira uma definição mais refinada e evoluída para os aspectos referentes à sua alma.
Após essa mudança drástica, o indivíduo se torna capaz de formular sua alma tendo como base parâmetros que não possuem relação direta com o próprio indivíduo e seu corpo. Dotada de uma elaboração que se tornou completamente virtual e desprendida dos aspectos corporais, a alma não mais consegue adotar parâmetros limitados, que tenham relação apenas com o próprio indivíduo.
Esse ser racional e evoluído, que atingiu essas condições psíquicas, torna-se capaz de amar, torna-se capaz de valorizar algo externo a ele de forma muito mais intensa do que o modo como valoriza a si próprio.
A capacidade de amar desses seres raros faz com que eles obtenham uma condição parcialmente exata da maneira como as coisas devem ser. Esse cenário de admiração profunda por algo restringe as múltiplas possibilidades que constantemente estão competindo para influenciar nossas ações, nosso jeito de ser e de nos portarmos perante as coisas. Essa característica permite que esses indivíduos se sintam completamente seguros de si e de suas ideias e atitudes.
Durante essa paixão profunda dos seres evoluídos, a ausência de múltiplas possibilidades torna as ações muito mais potentes, precisas; torna a vida mais bem direcionada, mais precisa, mais fácil. A mente não mais se depara com parâmetros múltiplos a serem desenvolvidos, analisados e ponderados, aspecto esse que proporciona uma maior capacidade de concentração e uma calma profunda à mente.
Entretanto, o ser de raciocínio evoluído acaba por desconstruir o objeto que tanto o encantou, que lhe direcionou e que proporcionou tanta satisfação. Ainda possuindo sua estrutura apaixonada e bem direcionada, o indivíduo raro vai desconstruindo o objeto amado. Em sua mente bem direcionada e que não mais possui parâmetros múltiplos e concorrentes, que incitam avaliações e proposições imensuráveis, a desconstrução permite que o indivíduo se depare com o nirvana, com a ausência da alma.
A sensação de êxtase absoluto, de satisfação absoluta, do fim da vontade, da potência máxima, nunca dura muito tempo. A mente se propõe, de imediato, nesses casos, a reconstruir a alma, a posicionar-se perante o espírito.
O retorno dessa experiência rara é sempre transformador. Após conhecer a necessidade mais profunda e primordial do intelecto, da nossa existência, o indivíduo adquiri uma informação que irá fazer com que ele altere, por completo, a forma de analisar e de se posicionar perante as coisas.


Acho que me estendi demais em uma explicação que eu pretendia transmitir de forma sucinta, mas esse é o grande problema, sendo esse problema ainda presente em minha vida; minhas reflexões sobre muitos assuntos me parecem ser intermináveis, fazendo com que seja preciso que eu escreva muitos e muitos textos, sem que com isso eu consiga expressar aquilo que realmente penso e sinto, que ainda permanece incompreensível nas profundezas insondáveis da minha mente.
          Mesmo com essa explicação pela metade, que não relaciona minhas referências com a história construída no livro LAER ROMA, sinto que não devo me estender mais. Eu forneci os textos que serviram de base para o livro e também irei emprestar meus dois últimos livros. Eu ficaria muito satisfeito se você os lesse e me externasse suas opiniões sobre minhas interpretações sobre muitos sentimentos e sensações.