Para cumprir o que prometi, irei
descrever, espero que de forma sucinta, como que estruturei o livro Laer Roma,
que, como já disse, é muito mais profundo do que parece.
Como você pôde perceber, o livro: O
diário é uma continuação, ou, melhor dizendo, é um livro onde continuo a
abordar, de um jeito mais profundo e original, muitas das ideias presentes no
Laer Roma.
Antes de iniciar a explicação, é
preciso dizer que ambos os livros se tratam de alienação, de imposição social,
que transforma as pessoas, fazendo com que elas absorvam conceitos responsáveis
por definir tudo aquilo que elas sentem ou pensam. No primeiro livro, essa
questão é limitada ao embate entre o agente responsável pela inserção dos
conceitos vigentes —a mãe — e o indivíduo que assimilará tais conceitos,
passando a possuir uma mentalidade específica e pré-determinada — o filho —;
nesse processo comum, com o qual nos deparamos constantemente ao longo de nossas
vidas, o filho deve abandonar qualquer tipo de particularidade para absorver
aquilo que lhe é imposto. Nesse primeiro livro essa relação é ridícula, pois a
mãe, sendo ela destituída de força de vontade, egoísta e restringida por suas
ilusões entorpecedoras, é incapaz de representar um desafio à altura do
protagonista, que a refuta sem nenhuma dificuldade, podendo ele, sem se ver
obrigado a absorver nada, ser capaz de estabelecer associações próprias,
estritamente relacionadas com aquilo que ele realmente sente e percebe.
Para colaborar com essa batalha
relativamente fácil, agentes externos e um pai autoritário também foram
eliminados.
No segundo livro, o ambiente
torna-se mais amplo. A família do protagonista não é autoritária, não tem de
ser combatida em busca de uma mentalidade própria; entretanto, a imposição
social ocorre através das interações do protagonista em sua escola que tem o
nome de Riulop, que ao contrário quer dizer poluir, representando assim uma
instituição responsável por introduzir valores e definir um modelo específico,
que deve ser valorizado por todos, sem exceções.
A discrepância entre as
interpretações do protagonista e os valores vigentes faz com que ele passe a se
enxergar como alguém retrógrado, abjeto, por não se adequar àquilo que é
estimado por todos, assim desenvolvendo uma má consciência a respeito de si
mesmo e de suas atitudes.
Em um terceiro livro pretendo
explorar a interação entre o filho e um pai autoritário, mas esse é um projeto
futuro...
Voltando ao primeiro livro (Laer
Roma), pode parecer estranha a data da história, que ocorreu em 1978, no
entanto, essa data é fundamental para que eu pudesse alcançar aquilo que
pretendia com o livro, que era a criação de uma ilusão por parte do
protagonista.
No segundo livro escrevo sobre o
quanto a internet nos permite realmente desenvolver aquilo que antes era
desenvolvido inconscientemente, apenas pela nossa imaginação mais
irrepreensível e exagerada, dessa forma mostrando o quanto nossa vida é vazia,
o quanto as recompensas impressionantes e os cenários suntuosos existem apenas
na nossa imaginação, sendo esses exageros criados em função da falta de uma
confrontação da realidade com aquilo que se passa na nossa mente. Dessa forma,
foi meu desejo escapar de uma era digital, onde todo mundo encontra todo mundo,
para que o protagonista desenvolvesse suas interações, com a pessoa que
simpatizava, através apenas de seus desenvolvimentos inconscientes e
exagerados, que, por fim, transformaram uma afinidade banal em uma ilusão exagerada
e absurdamente intensa.
No fim do livro, em meio ao auge de
sua ilusão, o protagonista reencontra aquela que incita o seu ideal, sendo esse
encontro cortado, propositalmente, pois a partir daí existirá apenas desilusão,
o que não agrada as pessoas comuns, que estão a todo o momento em busca de uma
ilusão, sendo o amor a maior dessas ilusões; lembre-se que o Laer Roma é um
livro comercial, tem que estar relacionado ao que a maioria das pessoas almejam
e àquilo que elas são capazes de assimilar.
Utilizando conceitos cotidianos,
tive de fazer muito uso da aparência física dos personagens, por ser esse um
dos principais parâmetros em se tratando daquilo que uma pessoa é capaz de
pensar sobre a outra. Também fiz uso de estereótipos, com os quais me deparo constantemente
durante as conversas com as pessoas mais cegas e estúpidas, sendo elas,
infelizmente, a grande maioria das pessoas que encontro; esses estereótipos
fizeram com que eu abandonasse a necessidade de uma análise mais aprofundada e,
ao mesmo tempo, foram os responsáveis por fornecer para o leitor a forma pela
qual eu gostaria que eles enxergassem os personagens que compõe a trama: uma
pessoa que valoriza sua aparência, a obtenção de músculos, como sendo alguém
quase que retardado e incapaz de reflexões, pensamentos profundos e sentimentos
intensos; uma mãe fútil que valoriza nada além do que seu status social e o
dinheiro; uma menina estúpida, incapaz de elaborar conceitos próprios, tendo de
assimilar tudo aquilo que dizem ser a forma correta de se interpretar as coisas
e os acontecimentos. Além disso, tive que fazer com que o personagem principal
fosse alguém rico, aspecto esse que também contribui para um julgamento
positivo por parte do leitor, afinal, vivemos em um mundo absurdamente
alienado, materialista e estúpido.
Mesmo com um objetivo a ser
alcançado, os personagens utilizados na história são, ao meu ver, rasos e mal
elaborados, mas as pessoas gostaram, pelo menos me dizem isso Ha Há, e isso é o
mais importante.
Além dessas características cotidianas,
também tentei salientar o quanto as pessoas são egoístas, assim como o quanto
os governos e as sociedades são movidas por desejos e motivos egocêntricos, que
não visam nada além do que benefícios próprios. Além dessa característica,
tentei demonstrar o quanto nossa vida social, nossa vida cotidiana, é falsa,
cheia de expressões dissimuladas, cheias de segundas intenções, que escondem
verdadeiras impressões e motivações. Tentei externar essas referências de forma
implícita, utilizando para isso os discursos da mãe e da Isabela; achei que
para tanto não precisaria fazer uma referência muito profunda, por considerar
ser essa uma característica muito comum, sendo as pessoas capazes de facilmente
identificar tais aspectos. Ao meu ver,
essas características tão comuns são as responsáveis por afastar as pessoas de
qualquer tipo de verdade sobre si mesmas, assim como as afastam de descobertas
mais profundas. “A coisa mais perigosa é a mentira; o homem que mente acaba
mentindo para si mesmo, até o ponto de não mais identificar qualquer tipo de
verdade. Após isso, sem poder identificar motivos verdadeiros, ele se torna
incapaz de amar, se torna incapaz de realmente enxergar, passando a viver uma
vida absolutamente artificial e falsa, sem nenhuma relação com o seu verdadeiro
ser.” Nesse contexto, tento, através do livro, valorizar a sinceridade, algo
tão raro atualmente, assim como tento demonstrar o quanto uma constituição
destituída de ego é capaz de fazer associações mais abrangentes e exatas, por
ser ela destituída de algo a ser protegido, de algo que precisa ser estimado,
aspecto esse que faz com que as pessoas egocêntricas tenham uma concepção
completamente deturpada sobre as cosias. O personagem principal tenta
demonstrar a supremacia de uma constituição destituída de ego e sincera, em
detrimento de constituições dissimuladas e egoístas (como as de sua mãe e a da
Isabela). Ao mesmo tempo que o personagem demonstra claramente sua
discrepância, sua mãe acaba por identificá-lo como uma ameaça àquilo que ela é,
fazendo com que ela se sinta mal perante um mundo sem ideais entorpecedores,
passando a desprezar o filho, atribuindo tudo que ela considera como sendo as
piores características, que uma pessoa pode possuir, à pessoa que ameaça seus
ideais e desejos impensados e mundanos. Nesse caso, tento demonstrar o quanto a
maternidade não é motivo suficiente para evitar um desprezo profundo, um ódio
profundo.
Em se tratando dos principais
objetivos do livro, posso dizer ser a desconstrução de uma interpretação Freudiana
a principal razão da minha empreitada em desenvolver a história. Não sei te
explicar o quanto a perspectiva comum me enoja; as pessoas são incapazes de
analisar o que quer que for, e, consequentemente, reproduzem, sem nem ao menos
parar para analisar aquilo que repetem e valorizam, tudo aquilo que foi dito e
imposto como sendo a verdade. Nesse mundo alienado e sem qualquer tipo de senso
crítico, vejo Freud como sendo um dos autores responsáveis por definir os
pilares da nossa cultura cotidiana, e, portanto, alguém a ser combatido,
desacreditado, tendo como objetivo a destruição de regras e definições
incoerentes. Meus estudos sobre as teorias Freudianas foram exaustivos, e seus
textos são, em grande parte, muito incoerentes; mas, ainda mais distante do que
muitas proposições inconsistentes do autor, vejo as pessoas como reprodutoras
de tais conhecimentos, sendo elas incapazes de ler qualquer um dos textos e
conceitos que citam, mas, ao mesmo tempo, possuindo uma vontade imensa de
citá-los, incorporando-os a definições impensadas e ridículas, e isso é o que
mais vejo atualmente. Essa vontade, essa necessidade, de citar o autor tem
relação com a mistificação do mesmo como sendo a pessoa mais precisa, mais
coerente, em se tratando de interpretar a realidade e a natureza humana, o que
considero ser completamente equivocado, exigindo, por minha parte, um esforço
literário para introduzir novas possibilidades e alternativas, que permitem que
as pessoas possam refutar as limitadas teorias Freudianas, que, infelizmente,
ditam a forma como as pessoas interpretam os acontecimentos atualmente. Para
tal tarefa, que não foi fácil, fiz uso de escritores que refutam as bases das
proposições Freudianas, sendo Jung o principal deles, utilizei-os para que
pudesse adequar minha forma de pensar a modelos anteriores, que já haviam sido
elaborados e que não parecessem absurdamente estranhos para as pessoas.
Infelizmente, alguns desses conceitos, opostos aos conceitos Freudianos, possuem
aspectos místicos, atributo mortal em nosso mundo moderno materialista, sendo
essa outra razão para a publicação do livro, o estabelecimento de conceitos,
antes místicos, inexplicáveis e raros, tendo como base aspectos realistas e
palpáveis.
Mesmo sendo essa uma razão
suficiente, ao meu ver, para a publicação do livro, ela não foi a única, e, até
certo ponto, foi um motivo quase que secundário. Aquilo que muito me motivou a
escrever o livro foi a vontade de estimular as pessoas a desenvolverem seus
próprios conceitos, suas próprias histórias, permitindo com que se tornassem
independentes, donas do seu próprio mundo, não mais necessitando de
instituições que determinem aquilo que elas devem pensar ou sentir; além disso,
quis fornecer uma vasta referência literária, a qual não é encontrada durante o
ensino médio, mas que, na minha opinião, é de suma importância em se tratando
de elucidar questões pelas quais passam alguns adolescentes, sendo, até mesmo,
imprescindível para um adolescente intelectual, que se depara com problemas
intelectuais. Vi a necessidade de fornecer tais referências em função dos
livros que fui obrigado a ler no colegial, sendo todos eles completamente
inúteis em se tratando de fornecerem ferramentas que me ajudassem a resolver
questões que me incomodavam, e servindo apenas para fazer com que eu repudiasse
a literatura, por considerar que os livros eram sempre enfadonhos e
desnecessários, atributo esse que é não correto.
No manuscrito original é possível
encontrar muitos e muitos erros gramaticais, de concordância, etc. Minha intenção
era deixar clara a falta de conhecimentos gramaticais que, mesmo assim, não foi
capaz de impedir o autor de desenvolver no papel as suas ideias. Essa
característica, que permaneceu na versão final, tornando-se apenas menos
frequente, tem como intuito incitar a sensação que tive quando descobri que
Dostoiévski escrevia muito mal, que Bukowski escrevia como um semianalfabeto e
que Rimbaud não se importava nem um pouco com a gramática, desde que suas
ideias estivessem claras no papel; saber que esses grandes escritores não se
importavam muito com a gramática fez com que eu abandonasse minha insegurança
com relação ao uso correto da língua portuguesa, permitindo-me, somente após a
superação desse medo paralisante, desenvolver minhas histórias e impressões, e
é isso que almejei transmitir às pessoas que leram o meu primeiro livro.
Quando jovem adquiri uma certa
obsessão por livros que desrespeitavam regras gramaticais ou tentavam criar uma
gramática própria, um sistema próprio de descrição e classificação das coisas.
Esse ato de transgressão não era apoiado por ninguém, mas muito pelo contrário.
Minhas tentativas exaustivas de abolir a crase ou de criar uma gramática sem
ss, sc, c, ç, sem acentos, em vista de criar palavras mais fáceis e uniformes,
com o intuito de diminuir o tempo que as pessoas gastam aprendendo o idioma e
as permitir gastarem mais tempo com o desenvolvimento de suas ideias, eram
tidas apenas como uma necessidade preguiçosa, o que era totalmente equivocado,
sendo, pelo menos para mim, a adequação a regras anteriormente estipuladas uma
atitude muito mais fácil de ser alcançada, quando comparada à criação de um
sistema próprio e coerente. Lembro-me até mesmo da primeira vez que descobri
que gostava muito de literatura, sendo essa vez uma conversa que tive com um
amigo, que me disse que prezava muito mais os autores analfabetos, pois esses
pareciam dedicar muito mais tempo ao desenvolvimento de suas ideias e
impressões do que à maneira gramaticalmente correta de descrever aquilo que
sentiam e pensavam, fazendo com que seus livros se tornassem muito mais
completos e interessantes do que os livros de autores muito preocupados com a
gramática, que pareciam dedicar muito mais tempo pesquisando a forma correta de
se escrever, em detrimento do aprimoramento de suas ideias. Essas palavras, de
um amigo meu, soaram, para mim, como um ato extremo de transgressão, que ia
completamente contra tudo aquilo que eu havia aprendido como sendo literatura
desde então. Eu via professores analisando autores apenas através da capacidade
de seguir regras e escrever corretamente, sendo esse atributo colocado em
primeiro lugar e eclipsando qualquer tipo de análise mais profunda dos textos,
aspecto esse que me incomodava muito, exageradamente, exigindo, de minha parte,
a necessidade de tentar mostrar que a literatura de verdade é muito mais do que
um arranjo, embasado em regras pré-estipuladas, de palavras, é muito mais do
que concordância ou ideias rasas e mal elaboradas; ela é, na verdade, um ato de
transgressão, de verificação daquilo que nos é imposto, de criação daquilo que
sentimos e percebemos, de identificação e de definição do nosso mundo; e foi
esse tipo de literatura que pretendi externar no meu livro, fazendo com que as
pessoas abandonassem aquilo que professores pedantes e burros dizem ser a
verdadeira literatura.
Tendo todos esses objetivos a serem
alcançados, fiquei muito feliz por ter conseguido escrever um livro que
relacionasse tais parâmetros — que eram
extensos, discrepantes entre si e me deram muito mais muito trabalho para
relacioná-los de forma coerente —, assim como
me senti satisfeito por ser capaz de descrever uma a história sob a perspectiva
de um personagem complexo, atributo esse que também não foi nada fácil.
Em sua faceta mais sensível e profunda,
o livro fala sobre amor e sobre aquilo que acho que as pessoas sentem, de
acordo com livros e algumas poucas observações — pois
em Sertãozinho é impossível estimar intensamente alguém, as pessoas aqui são,
em sua grande maioria, mega toscas, e aquelas que são um pouco interessantes
são desvalorizadas pela grande maioria tosca, por não se adequarem aos
parâmetros ridículos, e são deixadas de lado, ficam meio que desaparecidas,
escondidas por aí. A princípio, o protagonista está apaixonado, deparado com
uma sensação nova, que faz com que ele se sinta mais potente do que nunca,
fazendo com que, consequentemente, ele se sinta muito bem e feliz; ao mesmo
tempo, ele se vê receoso perante a valorização exagerada de uma pessoa em
particular, de um objeto em específico, incitando-o a tentar desconstruir
aquilo que é intenso e está se formando em sua mente — nesse caso, posso considerar essa como sendo mais uma
característica intrínseca de uma constituição mais consciente, mais racional, e
isso me deixa muito satisfeito, por ser eu alguém responsável por descrever
mais profundamente tal mecanismo; sei que outros autores desenvolveram essa
característica muito bem, considero Proust como sendo o melhor deles, mas,
mesmo assim, fico feliz por poder abordar um tema que considero estar muito
presente ao longo de nossas vidas, e, ao mesmo tempo, fico muito feliz por
poder identificar mais uma característica da nossa razão pura, que no incrível
livro de Kant foi especulada muito rasamente, definindo o menor esforço como
sendo uma parte intrínseca do nosso ser, e parando, infelizmente, por aí; ou,
melhor dizendo, posso considerar essa descoberta como podendo ser caracterizada
como derivada de uma crítica da razão consciente, pois as pessoas buscam,
avidamente, possuírem ideais e estruturas exatas, ilusões bem definidas e muito
bem direcionadas, que as tornam absurdamente vulneráveis, em se tratando de
quando se deparam com qualquer aspecto que ameaça tais ideais profundos,
aspecto esse que não é encontrado em pessoas racionais, que ao perceberem algum
tipo de construção exagerada tratam de alterar e afugentar tais parâmetros.
Assim o personagem se esforça para desconstruir esse sentimento,
relacionando-se com outra pessoa, que, em sua mente, será capaz de fazer com
que ele desconstrua seus sentimentos intensos, que são direcionados a uma
direção específica, atributo esse que o torna vulnerável, suscetível e fraco,
não importando o quanto essa pessoa em específico o faça se sentir bem.
Tendo essa perspectiva profunda
instalada em seu intelecto, o personagem se sente satisfeito ao ler o livro de
Schopenhauer sobre o amor, que lhe incita a ideia de que pode direcionar seus
sentimentos para onde bem entender, sendo seus sentimentos relacionados a nada
além do que desejos sexuais.
Sua mente, que estava bem
estruturada e tinha Ana como base dessa estrutura, sofre uma desconstrução
completa no momento em que o personagem vai se encontrar com a Isabela, o que
lhe permite sentir o nirvana (sensação essa que tentei descrever mais
profundamente no segundo livro).
Obtendo sucesso na tarefa de abdicar
à sua construção intensa, ele continua a viver satisfatoriamente, sem saber que
aquilo que o faz se sentir bem ainda está presente, influenciando-o, sem que
ele perceba. Esse aspecto, que coloquei no livro, tem como intuito fazer com
que as pessoas passem a questionar a sua capacidade de identificar seus verdadeiros
motivos, seus verdadeiros desejos e estruturas mais profundas, que, na
realidade, permanecem muito longe de qualquer percepção consciente,
influenciando-nos, de forma intensa, sem que possamos identificar o que
realmente é importante e essencial para nós. Essa característica nos remete a
nossa constituição em grande parte obscura e inconsciente, sendo que podemos
considerar que grande parte de nossas atitudes e motivos são misteriosos para
nós.
Ao perder aquilo que o agradava, ele
mergulha em uma fase dolorosa, de desespero, que foi floreada no livro,
diminuída, para não expressar sentimentos intensos, contra os quais as pessoas
comuns se protegem desde sempre e, portanto, estaria muito aquém de suas
realidades, não as permitindo compreender tais sensações. Nesse momento,
finalmente percebendo aquilo que o influenciava profundamente, ele passa a
desenvolver inconscientemente a ideia que Ana passou a representar em sua
mente. A distância do objeto que passou a ser desejado intensamente só faz com
que o protagonista exagere ainda mais em suas definições, criando, dessa forma,
uma imagem completamente equivocada e irreal.
Tornando-se uma ilusão exagerada, a
Ana passa a representar algo que todas as pessoas ou possuem ou buscam
avidamente, mas que, quase sempre, permanece oculto e muito longe de uma
identificação consciente.
Percebendo tais aspectos da nossa constituição,
o protagonista consegue facilmente refutar aquilo que estava escrito na
metafísica do amor, dessa forma refutando a base da teoria psicanalítica e se
vendo no papel de definir uma nova perspectiva que realmente relacione aquilo
que ele percebe, conduzindo-o à definição final do livro, que tenta estabelecer
uma nova forma de enxergarmos as coisas e nossos impulsos profundos.
Tentando explicar agora, vejo o
quanto eu perdi o controle do livro, vejo o quanto eu ainda preciso melhorar e
desenvolver mais satisfatoriamente os meus conceitos. Mas, mesmo com minha
falta de habilidade, as pessoas gostaram do livro; e isso, digo novamente, é o
mais importante.
No final do livro, tentei externar
uma nova forma de interpretar a psique humana e nossa necessidade mais
profunda, e imprescindível. Essa parte final, que ficou confusa, tenho de
admitir, foi como que um guia para o livro, sendo que sua existência é anterior
a qualquer tipo de possível elaboração de um roteiro do livro, sendo ela
utilizada como uma das referências, como um guia que me direcionasse durante a
elaboração da história.
Muitas pessoas dizem ser evidente a
minha pressa, ao longo da história, em alcançar a revelação final, a definição
das impressões desconexas, do protagonista, ao longo do livro. Tal observação é
precisa, exata, sendo essa pressa mais um dos meus defeitos.
Deixando de lado a correria e os
acontecimentos mal desenvolvidos, em função da minha vontade exagerada de
apresentar o ensaio final, passo agora a me concentrar no surgimento, na
formulação e na adaptação do final do livro, que constitui na inserção de
elementos e conceitos comuns, que poderiam ser assimilados pelas pessoas. Para
tanto, tive de alterar o conceito principal, com o qual realmente me identifico
— que foi expresso em sua total dimensão no livro O diário —, inserindo
conceitos desenvolvidos por Platão — Anima Mundi, para ser mais exato — e um
enfoque mais materialista, que me permitiu até mesmo apresentar o vergonhoso
exemplo da gravidade, que encontrei em um dos livros que li, das teorias de
Nietzsche e sua vontade de potência. Essas alterações foram necessárias para
fornecer ferramentas que facilitassem a compreensão, que, por fim, parece não
ter sido alcançada pelas pessoas que leram o livro, que, na maioria das vezes,
são incapazes de externar qualquer tipo de interpretação própria com relação ao
último capítulo.
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