Olá. Primeiramente tenho de dizer que fico muito feliz que tenha
gostado do livro. O fato de o livro ter sido elaborado com um proposito
comercial me deixou muito preocupado com relação a uma abordagem mais profunda e
especializada daquilo que foi proposto e construído por mim. Tenho que admitir
que muitas passagens foram simplificadas e a história simplesmente foi cortada
e omitida perante momentos onde os personagens começavam a refletir de forma
profunda, assim como a descrição dos personagens e dos ambientes, que se
tornaram sucintas e cheias de estereótipos (para fornecer referências
generalizadas, que facilitariam a interpretação por parte de todos os tipos de
leitores). No entanto, não abandonei minhas ideias para escrever um livro que
pudesse ter sucesso comercial - que pudesse agradar a grande massa de
leitores-; elas permanecem dentro do livro, sendo apresentadas de forma
subjetiva, estando praticamente ocultas dentre as passagens da história, sendo
apenas reveladas para alguém com um olhar mais atento e direcionado; para essas
pessoas elas se tornam gritantes.
Por meio desta que pode ser considerada uma carta, irei tentar elucidar
as passagens que transmitem a minha verdadeira forma de pensar e o verdadeiro
sentido do livro. Peço para que depois de tais explicações você releia o livro
e me transmita aquilo que você enxergou em sua releitura mais direcionada; ao
mesmo tempo, irei lhe enviar dois outros livros que escrevi, que irão ajudá-lo
a compreender aquilo que penso, e que adoraria que fosse analisado e debatido
por alguma pessoa que fosse especializada no assunto ou que, de preferência, se identificasse com aquilo que foi abordado no livro, podendo, dessa forma, fornecer uma perspectiva mais profunda e real sobre aquilo que tentei desenvolver com muito esforço, utilizando para tanto apenas minha imaginação, que, infelizmente, não pôde contar com experiências profundas, que poderiam me fornecer relações exatas, capazes de fazer com que o livro se tornasse ainda mais crível e bem estruturado.
Antes de iniciar a explicação do livro, preciso falar sobre minha maior
referência literária, sendo ela o autor Robert Musil. Tenho de dizer que quando
escrevi o LAER ROMA ainda não tinha contato com as obras desse autor;
entretanto, minhas perspectivas sobre muitos temas são absurdamente parecidas
com as desse autor que tanto admiro, e, após ter contato com tais obras, essa
coincidência de pensamentos fez com que eu me sentisse com muita vontade de
publicar minhas obras.
Ainda explanando sobre minhas referências literárias, tenho de salientar
minha paixão pelas obras de Nietzsche, sendo ele o responsável por fornecer a
base de todo o livro, sendo ela a vontade de potência, argumento esse que
servirá de fundamento para criticar a metafísica do amor e a manutenção das
espécies; sendo essa a principal discussão, o tema principal do livro.
Após feitas as devidas apresentações, irei introduzir dois textos,
escritos por mim, que foram fundamentais para a criação do livro. No primeiro
texto - que eu gostaria que fosse publicado junto com o livro, mas que foi
barrado pelo editor – tento elaborar a verdadeira sinopse, aquela que contém a
verdadeira essência do livro e não todas aquelas baboseiras sobre “bom partido”
escritas pelo editor Há Ha.
Sinopse do LAER ROMA, escrita por mim:
Laer Roma é um título exótico
que representa o conteúdo do livro, que é referente aos padrões de interações
pessoais de nossa sociedade atual. O autor Joseph Campbell, em uma de suas
análises, apresenta a teoria de que o amor, escrito ao contrário se refere a
Roma, condizente à forma institucionalizada assumida atualmente com relação a
esse assunto; laer é algo sem sentido, estranho, ligado a algo estatizado e
quase que obrigatório; definindo assim a expectativa atual do amor (segundo a
concepção geral). Aqueles que enxergam o mundo de um modo diferente, até mesmo
ao contrário (como se enxergassem através de um espelho) do que é definido como
normal, são os que ainda conseguem interpretar e possuir valores magnânimos em
suas vidas.
O livro se refere a um garoto,
chamado Lucas, que tem uma visão diferente de mundo (comparado à visão geral).
Ele é um garoto de ótima condição financeira, que lida com questões
filosóficas, existenciais, e com a ambivalência dos sentimentos. No livro Lucas
se encontra praticamente em um estado pôs assassinato do totem (referente às
pesquisas de Freud com relação ao complexo de Édipo), onde os valores vigentes
deixam de existir e novos valores são integrados, sem mais possuírem relação
com uma figura divina e onipotente; sendo o responsável por criar suas próprias
crenças e condutas, Lucas define suas interpretações sobre suas sensações e
percepções, sendo elas dignas de um ser evoluído, quase como o super-homem
descrito por Nietzsche. Essa característica faz com que não recorra à
mistificação do antigo pai (que determina condutas e formas de ser), na figura de
um ser onipresente como deus. Essas características o permitem viver uma vida
intensa, racional, ilimitada e, acima de tudo, real. No livro, essa conduta de
Lucas é subjetiva, se caracterizando principalmente pela completa ausência do
pai.
A essência do livro se
caracteriza por uma crítica à libido sexual, definida por Freud como a base da
vontade humana, e refuta os argumentos apresentados por Schopenhauer sobre o sentido do amor. Com relação ao amor (que é a temática do
livro), são descritas as experiências e interpretações de Lucas, esse ser
humano tido como evoluído, que transmitem uma forma de amar inovadora,
definindo uma nova teoria da interação entre os seres humanos e o meio.
O próximo texto foi escrito por
mim antes do livro, e serviu como referência, como o caminho a ser seguido por
mim durante a história que tentei desenvolver. Esse fato se torna evidente
quando me precipito, quando acelero a história, tendo como único objetivo alcançar
o final, que eu me propus a externar, e que me fez desenvolver uma história,
criar personagens, cenários e um enredo, tudo com a intenção de tornar a ideia
mais comercial e atrativa, não sendo discriminada por ser apresentada de modo
estritamente teórico e maçante.
Texto que serviu
como referência para o livro:
As
coisas à nossa volta parecem ser inertes, irrelevantes, não suscitando nada de
especial, ou diferente, em nós. No entanto, às vezes nos deparamos com algum
elemento que ultrapassa a nossa indiferença e frieza perante as coisas e parece
nos atingir violentamente, adquirindo um poder descomunal sobre nós. Esse
objeto, que se torna um elemento de suma importância, passa a influenciar
diretamente o nosso estado de espírito, o nosso humor. Cada vez que esse
elemento se afasta, cada separação forçada, faz-nos sentir uma tristeza
profunda, uma redução da potência; assim como cada aproximação do objeto é
responsável por uma alegria reconfortante e satisfatória, um aumento da
potência.
Entretanto,
o objeto que tanto estimamos apenas pode nos influenciar quando se encontra à
distância, quando permanece intocável e inverificável. A partir do momento em
que conseguimos entender e perscrutar pormenorizadamente o objeto que tanto
estimamos, esse simplesmente é desconstruído, perde-se em meio a uma definição
embasada em proporções realistas, que refutam tudo aquilo que havíamos
imaginado que aquele objeto poderia nos proporcionar.
Após
a nossa desilusão inicial, vamos percebendo o quanto nossa alma apenas almeja
desejar, ser direcionada a algo, sendo a obtenção dessa algo um acontecimento
aterrorizante, desesperador. Então, podemos nos considerar como sendo
perseguidores de ideais; para ser mais exato, podemos nos considerar como
ciclistas, que precisam estar em movimento, em direção a algo, para que não
paremos, atitude essa que muito provavelmente nos fará perder o equilíbrio, nos
fará cair.
Mas,
mesmo com a nossa necessidade intrínseca de movimento, de ideais, às vezes
algumas pessoas obtêm um nível intelectual que não as permitem se desvencilhar
da dolorosa constatação de que a vida é totalmente inútil, que nossos ideais
são completamente absurdos e nunca nos levam a nada. Nesses casos, de
desconstrução intelectual profunda, a vida começa a se assemelhar a um sonho, a
um acontecimento distante e sem relação conosco, onde nada mais tem a
capacidade de se tornar um ideal, de nos influenciar de forma intensa.
Incrivelmente
apáticos e desiludidos, os seres intelectualmente desenvolvidos passam a
desprezar as suas atitudes e esforços, que para eles passam a ser considerados
como sendo desnecessários. A vida e todos os seus aspectos passam a ser
irrelevantes; o intelecto perde por completo a possibilidade de elaborar
objetivos inconscientes, cabendo apenas à analise consciente do indivíduo a
tarefa de elaborar e se posicionar perante as coisas; essa característica, a
princípio, incomoda sobremaneira, por não mais permitir a construção de
qualquer tipo de ideal, de meta, mesmo sendo essas elaborações inconscientes e
equivocadas, fazendo com que o indivíduo se depare com uma dor profunda e sem
fim, que não é amenizada pela construção de ideais e de cenários que afugentam
as incertezas e o desespero. Cada novo acontecimento apenas entristece, apenas
incomoda. No auge do desespero, o ser racional quer, a todo custo, fugir de si
mesmo, por não mais se suportar, por não mais suportar as condições que a vida
lhe apresenta.
Esse
aspecto raro e perigoso, é o responsável por causar a mais sensível e profunda
das mudanças, fazendo com que o indivíduo perca sua capacidade primordial e
primitiva de formular sua alma, e adquira uma definição mais refinada e
evoluída para os aspectos referentes à sua alma.
Após
essa mudança drástica, o indivíduo se torna capaz de formular sua alma tendo
como base parâmetros que não possuem relação direta com o próprio indivíduo e
seu corpo. Dotada de uma elaboração que se tornou completamente virtual e
desprendida dos aspectos corporais, a alma não mais consegue adotar parâmetros
limitados, que tenham relação apenas com o próprio indivíduo.
Esse
ser racional e evoluído, que atingiu essas condições psíquicas, torna-se capaz
de amar, torna-se capaz de valorizar algo externo a ele de forma muito mais
intensa do que o modo como valoriza a si próprio.
A
capacidade de amar desses seres raros faz com que eles obtenham uma condição parcialmente
exata da maneira como as coisas devem ser. Esse cenário de admiração profunda
por algo restringe as múltiplas possibilidades que constantemente estão
competindo para influenciar nossas ações, nosso jeito de ser e de nos portarmos
perante as coisas. Essa característica permite que esses indivíduos se sintam
completamente seguros de si e de suas ideias e atitudes.
Durante
essa paixão profunda dos seres evoluídos, a ausência de múltiplas
possibilidades torna as ações muito mais potentes, precisas; torna a vida mais
bem direcionada, mais precisa, mais fácil. A mente não mais se depara com
parâmetros múltiplos a serem desenvolvidos, analisados e ponderados, aspecto
esse que proporciona uma maior capacidade de concentração e uma calma profunda
à mente.
Entretanto,
o ser de raciocínio evoluído acaba por desconstruir o objeto que tanto o
encantou, que lhe direcionou e que proporcionou tanta satisfação. Ainda
possuindo sua estrutura apaixonada e bem direcionada, o indivíduo raro vai
desconstruindo o objeto amado. Em sua mente bem direcionada e que não mais
possui parâmetros múltiplos e concorrentes, que incitam avaliações e
proposições imensuráveis, a desconstrução permite que o indivíduo se depare com
o nirvana, com a ausência da alma.
A
sensação de êxtase absoluto, de satisfação absoluta, do fim da vontade, da
potência máxima, nunca dura muito tempo. A mente se propõe, de imediato, nesses
casos, a reconstruir a alma, a posicionar-se perante o espírito.
O
retorno dessa experiência rara é sempre transformador. Após conhecer a
necessidade mais profunda e primordial do intelecto, da nossa existência, o
indivíduo adquiri uma informação que irá fazer com que ele altere, por
completo, a forma de analisar e de se posicionar perante as coisas.
Acho que me estendi demais em
uma explicação que eu pretendia transmitir de forma sucinta, mas esse é o
grande problema, sendo esse problema ainda presente em minha vida; minhas
reflexões sobre muitos assuntos me parecem ser intermináveis, fazendo com que
seja preciso que eu escreva muitos e muitos textos, sem que com isso eu consiga
expressar aquilo que realmente penso e sinto, que ainda permanece
incompreensível nas profundezas insondáveis da minha mente.
Mesmo com essa explicação pela metade, que não relaciona minhas referências
com a história construída no livro LAER ROMA, sinto que não devo me estender
mais. Eu forneci os textos que serviram de base para o livro e também irei
emprestar meus dois últimos livros. Eu ficaria muito satisfeito se você os
lesse e me externasse suas opiniões sobre minhas interpretações sobre muitos
sentimentos e sensações.
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