segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Os dois mundos

            Podemos perceber a existência de dois mundos dentro de nós. Um deles, o maior, parece conter as informações mais valiosas sobre aquilo que somos, aquilo que desejamos, aquilo que tememos. Nesse mundo vasto, do qual não temos controle, nossas concepções permanecem distantes do nosso alcance, assim como o funcionamento da mente permanece escondido para nós.
            O segundo mundo, presente dentro de nós, é um ambiente mensurável, onde os acontecimentos e nossas reações parecem adquirir proporções que nos permite entendê-los, controla-los. Entretanto, por mais que potencializemos esse nosso segundo mundo, muitos acontecimentos permanecem inexplicáveis para nós, permanecem obscuros, sem que consigamos defini-los e transportá-los para nosso segundo mundo, onde tudo é mais claro e coerente.
        Com o auxílio do nosso segundo mundo, podemos alterar os conteúdos que permanecem nas profundezas da nossa mente. No entanto, essa é uma tarefa complexa, e exige que tenhamos um segundo mundo muito bem estruturado e abrangente; essas características são necessárias pois nossa mente almeja, involuntariamente, manter nossas concepções e objetivos. Nesse caso, para que possamos driblar essa resistência intrínseca, é preciso que tenhamos a capacidade de atacar os conceitos do primeiro mundo em todas as suas frentes, não possibilitando a presença de nenhuma parte do mesmo que não consiga ser refutada veementemente. Sem executarmos uma desconstrução nesses parâmetros, não nos tornamos capazes de alterar os nossos conteúdos profundos, pois um resquício que seja, que alimente concepções anteriormente estruturadas, será o responsável por permitir a manutenção, a sobrevivência, daquilo que queremos alterar.
              Referente a essas construções profundas, que são incrivelmente difíceis de serem alteradas, podemos dizer que elas ocorrem naturalmente, sendo sua elaboração uma característica estrutural imprescindível para nossa mente. Nesse caso podemos salientar o quanto é necessário que nos atentemos aos acontecimentos à nossa volta, para que sejamos capazes de identificar os conteúdos que são absorvidos pela nossa mente e que se tornam incrivelmente influentes sobre nós.
            Nossos atos possuem relação com as estruturas do nosso primeiro mundo, sendo eles oriundos de conceitos previamente elaborados pelo nosso intelecto, sem a necessidade da participação do nosso segundo mundo para que fossem definidos.
         Essas estruturas profundas e inconscientes são construídas desde tenra idade. Nesse caso, seria necessário que o indivíduo possuísse uma memória incomum para que ele se tornasse capaz de identificar, no segundo mundo, acontecimentos que determinaram a nossa forma de ser. Sem uma memória diferenciada, torna-se difícil estruturarmos e definirmos as nossas sensações, e, sem isso, torna-se ainda mais difícil encontrarmos os verdadeiros motivos e combatermos, alterarmos, nossos conceitos profundos.

Será que alguém é capaz de me entender?

                De repente algum pensamento, sendo ele incitado por algum acontecimento, ou podendo ocorrer de forma espontânea, faz com que desenvolvamos um cenário obscuro e desesperador na nossa mente. Perante essa nossa estrutura desesperadora, onde nos sentimos oprimidos perante as características do mundo à nossa volta, sentimo-nos impelidos a agir, a fazer algo que altere, que substitua nosso espírito desesperador.
            Nesse contexto, talvez a sexualidade seja a nossa atitude mais primitiva, tendo como intuito amenizar o cenário desesperados com o qual muitas vezes nos deparamos. Nesses casos, sentimo-nos impelidos ao gênero que mais nos agrada, ao gênero que estruturamos em nossa mente como sendo o responsável por nos proporcionar o único objetivo da nossa existência, por nos proporcionar a potência máxima, por nos proporcionar o nirvana.
            Durante a interação sexual, nosso espírito adquiri novas nuances, sendo elas satisfatórias, desse modo oferecendo um cenário mais aconchegante, mais tranquilo, fazendo com que nossa alma abandone o cenário anteriormente desesperador e aumente sua potência em um cenário menos opressor, desse modo fazendo com que nos sintamos mais satisfeitos.
            No entanto, nossa satisfação geralmente dura pouco; logo nos vemos novamente deparados com os agentes que incitam pensamentos penosos, que incitam a construção de um ambiente, no qual estamos inseridos (espírito), que é desesperador para nós.
            Novamente, em função do cenário opressor que se forma na nossa mente, sentimo-nos impelidos a agir de novo, a novamente executarmos ações que façam com que transformemos nosso espírito, que façam com que, novamente, o tornemos um cenário satisfatório.
            Esse ciclo pode ser considerado como sendo eterno nos animais e na maioria das pessoas. Na nossa vida os verdadeiros agentes que nos incomodam nunca serão pormenorizadamente investigados, sanados, restando a nós apenas ações impulsivas, que somente nos fornecem soluções provisórias para os verdadeiros problemas.
            No entanto, diferentemente da maioria das pessoas, alguns seres humanos adquirem um conhecimento e um poder de controle sobre a mente que impressionam. Eles se tornam capazes de mensurar as profundezas do intelecto, assim como são capazes de entender a maneira como seus conceitos estão estruturados em suas mentes. De posse dessas informações preciosas, esses seres raros são capazes de sanar o desespero, gerado por uma construção espiritual abjeta, apenas com a sua imaginação, assim como são capazes de estruturar cenários, em suas mentes, que os permitam direcionar toda a sua força rumo a objetivos que eles almejam, racionalmente, alcançar.
            Em um número relativamente alto de seres humanos, podemos observar a substituição do sexo por outra atividade que adquiri o poder de proporcionar parâmetros espirituais satisfatórios. Entretanto, o ser raro se diferencia dessas pessoas por ser capaz de direcionar, de forma racional, suas ações.
            Ah, a mente é tão vasta, e nossa consciência pode se tornar tão abrangente e eficiente, mas, para a infelicidade da maioria das pessoas, alcançar conceitos profundos e estruturar uma consciência abrangente são tarefas perigosíssimas, que, a princípio, exigem que o indivíduo suporte uma dor insuportável, sendo ela totalmente desnecessária, sendo ela coerente apenas aos teimosos destemidos, que não possuem nenhuma consideração pela vida.
            Por causa dessa característica, provavelmente meus textos, minhas ideias, podem ser compreendidos por poucas pessoas; para a grande maioria, minhas ideias serão, para sempre, esdrúxulas e incoerentes.

domingo, 29 de novembro de 2015

O materialismo e o ser humano primitivo

           As proposições materialistas parecem possuir um conteúdo quase que estritamente irracional, sistemático, dessa forma transformando em leis obrigatórias as características humanas mais deploráveis e primitivas.
        Após a invenção do dinheiro, as coisas e as pessoas adquiriram um novo modo de serem analisadas. Nesse contexto inteiramente monetário e materialista, os sentimentos e a moralidade foram abandonados, cedendo espaço para avaliações que têm como base o capital.
      O materialismo simplificou, ainda mais, as relações humanas. Baseadas em interesses particulares, as interações humanas ocorrem apenas quando alguma das partes nota a presença de algo que lhe possa beneficiar.
           Se Kant identifica a lei do menor esforço como sendo uma característica intrínseca em nós, podemos considerar o materialismo como sendo aquilo que mais nos agrada. Com ele nossos principais defeitos se tornam virtudes, as análises complexas e demoradas se tornam rápidas e práticas, e a interação entre as pessoas se torna simples e bem direcionada.
             Quando as pessoas vão finalmente entender que o ser humano é algo a ser superado?

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Be materialistic, please

          “Where do you think that this feeling will put you? I can answer this question for you, it will bring nothing to you. After your delusional thoughts are gone, after the reality shows to you the real meaning of things, you will regret about the lost time, about the crazy journey after the feeling. This aspect of your life will be so oppressive to you that when, in the future, you start to remind about your crazy youth acts, that when you remember of those old days, without a delusional mentality, you will feel desperate about your thoughts, at the point do despise everything that reminds you about love. It is necessary for you to adapt yourself to the social needs and expectations; it is necessary to surrender yourself to the reality that was created for us, nobody care if this concepts are true or not, the most important thing is that everyone believe in them, everyone build a life to reach them, and this is the most important thing!” After his words, the father looked anxious to his son, expecting his reply, already building up some scenarios and answers in his head, to deconstruct any kind of thought that was against his wish to direct his son to the path that he thinks was the most reasonable one.
            “You use the community to hide yourself from your feelings, from your thoughts. This is a coward move from you, a conception related to a weak person, who doesn’t have enough strength to run after his believes, to care about his thoughts, because of his weak constitution. You are someone who will always hide from something that wakes you up for action, that create a goal that demands a huge will to be reached. You are weak, and I will not listen to you.” Saying these words in a calm way, the son look to the father, to see his reaction. He get surprise to see an indifferent expression of his father, who start to respond the proposition said by the son.
           “Oh, my naïve kid. Tell me if you see me stepping back when I saw something that really interest me. Tell me if you see me talking about my opinions to anyone. Tell me if you see me trying to impose my point of views, and trying to be superior than persons who don’t agree with me. Tell me if I already said something that did not contain an amazing and unquestionable logical relation.” Said the father, looking indifferently to his son.
             “I cannot remember of you doing such things.”
          “Then you need to believe when I tell you about something that I really disagree. I am not saying any irrational word, I am saying something deeply developed, deeply analyzed.” The words came out vividly through the mouth of the father, hitting the son by surprise. He drop down his guard and start to speak in a more passive way.
             “Then what do you have against my search for love? Do you understand something about it?”
           “More than you think, my beloved son. And I can tell how it is irrelevant, and how you can use your uncommon strength to some easier and more worth task, at least a task that people will respect you by doing it.” The attention of the son, who was disperse in the beginning of the conversation, now was strictly directed to his father.
         “Now you caught my attention, I want to hear about what you have to say to change the direction of my efforts.”
            “This is nice, I have many things to say to you; I know that I don’t speak much but I might, and today I will show you that, but only for you, my son. Our feelings should remain locked in our mind; it is sad to say that, but trust no one, it is a crazy worlds that we live in, they hunt rare people and kill them, without mercy. Lock your feelings, or they will be used against you; preserve yourself, this is really important to be done.” The father looked thee; two sincere looks encountered themselves and the moment was perfect for the deepest thoughts, for deepest analyzes that probably will have the power to change conceptions forever.
            “No one, father? I think that you are exaggerating. Do someone that could be special to me will never exists? Everyone only wishes to fulfill their own vacancy, to reach their own goals, without caring about other person besides himself? Is that the only aspect that I will find on people?” The face of the son was scared by his thought. He pronounced his last words looking apprehensive to his father, waiting for an answer that will eliminate his bad state of mind, the bad constitution acquired by his spirit with his speech.
            “Almost that, my son. Someone who doesn’t think only about yourself is such a rare person that we find only a few ones during our life time. And even when you find them you need to test them, to really see their constitution; only after many tests you can trust in your judgement, only after that you can really say if you are with a rare person or not. But this kind of phenomenon are so so rare, that is easier don’t even think about it.” The answer of the father seems to bring calm to the mind of the son, and, with that, he fells even more curious about his father thoughts.
             “Then you are saying that the only thing that I will see in life is persons who will be with me, and care about me, only because their self interests?”
            “Yes, this is exactly what I am saying. And these common people have their own definition about love, and it is funny, and primitive. They believe that they are in love when they find someone that brings more benefits than everybody else. And, most of the time, this definition is considered superior, enlightened, because the majority of them consider that love is equal to sex.” The father couldn’t contain how this conception make him laugh, and with a discreet smile he look to the son, who was seriously looking to the wall above his father, thinking.
              “Then you are preventing me to abandon many things to discover this simply conceptions?”
            “Of course not” the father responded vividly “what I said was conceptions about love wrote by monkeys, by dull persons. If you search for love, I have sure that you will write something more human, more rational. Bur this is not the point here, the real human beings also talked about love. Some of them had the constitution to be in love, but they cannot found some idea that brings that make then understand this subject. These are a sad kind of poet, they defend love above all the things, but they are not able to feel it; they wrote about an ideal, about some image in their minds that will bring fulfillment to them. This kind of poets are common, unfortunately. They are dull ones, who swap their lives for illusions.” The son cannot comprehend all the father words, then, looking inquisitive to him, he starts to try to understand even better his father conception.
                “Now I am confused, father. What is the real definition about love?”
            “It is something complicated to explain without some detailed explanation about how our mind work. If you promise me to study and memorize your school matters I can try to explain it to you someday.”
            The son nodded and went to his room to study. While he was on his way to the room, the father, happy with the results of the conversation, scream to the boy who were already distant.
          “The real great men stay beyond love, my son. Remember that, it will help you a lot to understand my future explanation about the theme.”

domingo, 22 de novembro de 2015

Sometimes I fucking hate the so called artists

           The sign of decay, that is what we saw everywhere in art. The human beings seem to get even more lazy and irrational with the pass of the years, and this characteristic is express on the work of art.
            The huge task of the great men, who runs against their nature to see and understand the depth of the mind, seems to be an obsolete subject; the great sacrifice and the destructive experiences was replaced for the unconscious feelings, for the irrational love, for the common sense, and for the limited point of view.
            The artists are now rewarded by a work that doesn’t contain many aspects and interpretations. We all know that our mind is inclined to the right and surly definitions, that doesn’t have many parameters or possibilities; but this aspect of our thoughts was already proved as a wrong and primitive way of thinking. The real artists have to be able to bring to his works the view of the whole, the view of someone who sees beyond his wishes, beyond any interest; of someone who isn’t driven by irrational constructions, but, in the opposite way, has a big conscience that is capable to create a rational scenario for his feelings, for the events, for the things around they.
            The real artists, who struggle to create something inwardly, who doesn’t have a reactive and irrational form of expression, who risk everything to overcome his primitive constitution, his primitive mind, are often seen as a bad and untalented artists, that was not able to create something esthetically beautiful, to create something that set the mind in a state of accuracy and conviction, being that our highest definition of beauty.
            On the opposite way of these primitive conceptions, the real artists try to spread their multiple point of views and the feelings that is brought to our life by a complex way of thinking, that is more close to the reality.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Two worlds

           Our fears seem to block some aspects that life presents to us; it seems that our personality is built around those fears that remain as untouchables and danger areas within us.
           Casually, an old memory stick so hard on our mind that we are not able to deconstruct it. Differently of the real proportion of the things, of the situations that originate those bad memories, our mind develop, by itself, those memories until transform them into desperate scenarios. When we start to see these scenes forming around us, we do our best to run away from those situations, to improve the scenario that our mind crate about the world.

            Those bad scenarios terrifies us by their hopeless and the absurd scary consequences. We run from that all the time, at the first sight of some object that remember us of these bad memories, that make our mind access those scenarios that terrifies us. And we run away, every time, again, again and again, till we discover the deconstructive power of our conscience.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Eles ainda são melhores, por enquanto

            O homem sem imaginação deve se sentir feliz, pois não possui uma característica que torna a vida ainda mais complexa, ainda mais difícil.
            Incapaz de fazer associações próprias, os seres sem imaginação se adaptam facilmente àquilo que é imposto a eles. Por causa da falta de imaginação, provavelmente essa assimilação será lenta, assim como exigirá que os conceitos, a serem assimilados, sejam simples e não muito diferentes daquilo que estão costumados a enxergar, não contendo relações complexas e inovadoras, desse modo permitindo a assimilação dos mesmos por um ser intelectualmente limitado. A lentidão e a restrição do aprendizado são compensadas pela ausência da criação de concepções múltiplas, aspecto esse que incomoda, e muito, os seres dotados da capacidade de imaginar as coisas e estabelecer conceitos.
            Por causa da ausência de parâmetros múltiplos, em suas mentes, os conceitos morais são tratados como dogmas, pelos indivíduos intelectualmente limitados, garantindo que suas ações estejam sempre de acordo com os conceitos morais. Esse aspecto, que evidencia a incapacidade dessas pessoas de criarem e analisarem conceitos por si próprios, faz com que exista a necessidade de uma ordenação superior das coisas, sendo essa ordenação criada por um líder, ou, até mesmo, por um Deus.
            Esses seres possuem um olhar limitado, que apenas enxerga as concepções limitadas que eles possuem, dessa maneira restringindo a multiplicidade de conceitos e de causas que determinam as coisas, e estabelecendo relações, com as coisas, que não transmitem, não englobam, o real funcionamento, a verdadeira dimensão, daquilo que observam.
            Infelizmente, os seres intelectualmente limitados são a maioria, e implementam e obrigam todas as pessoas a aderirem às suas concepções limitadas sobre o mundo e os acontecimentos.

Into the despair

         At some point, everyone will feel desperate about your life, about your condition. The obscure scenario, that can be formed in our mind, create a deep necessity of action, a giant tension that become actions, that has the intention to correct, to erase, the frightful scenario that is established in our mind.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A consciência ampla

            A nuvem que é interpretada por Polônio, e que adquiri novas formas quando Hamlet externa suas impressões, talvez não tenha sido definida com diferentes formas apenas para que o príncipe da Dinamarca se sentisse satisfeito por possuir alguém que concordasse com suas suposições, talvez aquela nuvem pudesse ser interpretada de várias formas discrepantes entre si, atributo esse que permitiu que Polônio mudasse sua opinião, sinceramente, toda vez que Hamlet desenvolvia uma nova perspectiva sobre a nuvem.
            Tomando como base esse exemplo, podemos perceber o quanto nossas impressões variam, o quanto as coisas possuem interpretações múltiplas, plausíveis e lógicas. Essa característica intrínseca de tudo à nossa volta faz com que enxerguemos um novo arranjo das coisas, dependendo apenas da maneira como olhamos para essas coisas e a associação que fazemos daquilo que enxergamos.
            Essas nossas construções variáveis, e constantes, de conceitos e de cenários, faz com que nos portemos diferentemente perante situações similares, faz com que alteremos, por completo, nossas impressões e sentimentos.
            Um exemplo banal, que ilustra essa nossa característica profunda, é a concepção que se tinha de mulheres que usavam óculos. A princípio essa característica transmitia a ideia de deselegância, estupidez, fragilidade, sendo que, com o passar do tempo, com a alteração dos conceitos, essa mesma imagem passou a suscitar uma ideia de empreendedorismo, imponência, força; fazendo com que enxergássemos a mesma situação com uma concepção completamente diferente.
            Essa mudança de conceitos, que é frequente para aqueles que são muito racionais, evidencia o quanto a realidade que percebemos é virtual, assim como nos mostra o quanto são importantes e relevantes os conceitos pré-estabelecidos na nossa mente, sendo eles os responsáveis por nos situarem perante aquilo que percebemos. Só iremos ter sentimentos por aquilo que, de alguma forma, já está construído na nossa mente, por uma concepção previamente verificada e desenvolvida — sendo esse desenvolvimento, na maioria das vezes, inconsciente, situando-se nas profundezas do intelecto, sem que possamos percebê-lo conscientemente —; o novo nunca suscitará nada em nós, porque, por causa da presença de parâmetros que nunca observamos, não sabemos como nos portar perante esse novo cenário que encontramos.
            Com o desenvolvimento da nossa consciência, e com o aprimoramento das nossas interpretações, tornamo-nos capazes de enxergar as coisas sob as mais variadas perspectivas. Nesse caso, encontrarmos alguém que possua alguma coisa em comum conosco se torna uma tarefa simples, por causa da pluralidade conceitual que faz com que o ser consciente possua vários aspectos, várias interpretações das coisas.
            A ampliação do raciocínio destrói os sentimentos, sendo eles apenas reações nervosas, que têm relação com concepções exageradas, que não possuem relação com a realidade. Assim como os sentimentos, o amor também é abolido, após passar por uma análise estritamente racional.
            Dotados de uma frieza e de uma indiferença sem limites, os seres possuidores de uma consciência vasta são acusados, pelas pessoas comuns, como sendo falastrões, por não possuírem uma paixão irracional quando expressam suas opiniões e desejos. As mesmas pessoas comuns afirmam que os seres cheios de consciência são insensíveis, quando, na verdade, eles são incrivelmente sensíveis, ultrassensíveis.

É muito difícil, mas para os estúpidos é fácil

            Como é difícil entendermos as pessoas! Por mais que nos esforcemos, por mais que conversemos com elas por horas e horas, nunca somos capazes de estabelecer uma concepção exata sobre aquele com quem conversamos.
            A falta de clareza, a ausência de definições exatas, são parâmetros que sempre irão atormentar nossa mente, que não consegue suportar a presença de nada que possua uma definição imprecisa. Dessa forma, suprimindo o incômodo que uma interpretação imprecisa nos causa, criamos conceitos que não se aproximam da realidade daquilo que queremos definir.
            Nunca confiei em minhas construções inconscientes referentes às pessoas com as quais eu tive contato ao longo da minha vida, e sempre me espantei quando me deparava com aqueles que definiam uma pessoa após uma observação rápida, sendo esse espanto ampliado, ainda mais, quando via essa impressão capciosa perdurar ao longo dos tempos, sem nunca ser verificada ou observada com atenção.
            Por fim, esses desenvolvedores de conceitos capciosos são considerados os gurus do espírito, alguns, até mesmo, recebem o título de médiuns ou espíritos evoluídos. Todos esses construtores de conceitos capciosos são valorizados por todos, e eu nunca consegui entender o porquê.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Preferimos os burros convictos

            A multiplicidade de proposições e formas de se enxergar as coisas nos assusta demais; é do feitio humano estabelecer metas concisas e precisas, que não permitem espaço para interpretações complexas e múltiplas.

            Tendo em vista essa característica humana, todo discurso sincero, que demonstra incertezas e possibilidades variadas será desvalorizado por quase todas as pessoas. A vida verdadeira, assim como sua complexidade que envolve causas e consequências complexas, é sempre tida como assustadora, desesperadora, e será evitada pela maioria das pessoas.

O conceito de angústia

            Desde que a ideia de que aquilo enxergamos, que percebemos, não passa de um reflexo da realidade tornou-se um conceito preponderante em nossas análises, percebemos uma mudança drástica no modo como enxergamos as coisas, como interpretamos nossos conceitos e como consideramos conceitos alheios aos nossos. A relatividade de cada interpretação, de cada forma de perceber, tornou-se parâmetro essencial para que analisemos, com precisão, determinadas atitudes e definições.
            A imagem virtual do mundo, sendo ela particular e única, nos situa em meio às coisas, perante os acontecimentos.
            É tarefa do gênio enxergar mais do que as pessoas comuns, se esforçar e aprofundar seu pensamento, em um nível que um ser comum nunca será capaz de alcançar ou compreender. Essa empreitada perigosíssima é necessária para que a proposição que mais se aproxima do verdadeiro funcionamento da mente, que engloba e relaciona tudo aquilo que percebemos, seja descoberta, dessa forma, e apenas assim, nos permitindo controlar os nossos pensamentos e reações.
            Kierkegaard pode ser considerado como um desses gênios desbravadores, destemidos, que mergulharam em seus conceitos virtuais, explorando regiões inóspitas da existência, para que, com isso, pudesse nos fornecer elaborações importantíssimas.
            Ele foi categórico ao salientar o quanto nossas mais variadas possibilidades mais nos incomodam do que nos beneficiam; ele também soube desenvolver muito bem o estado de queda, de desespero, perante as condições que percebemos e que incitam a criação de um cenário virtual desesperador.
            Entretanto, mesmo com toda a sua percepção incomum, Kierkegaard parece não alcançar a ultraprofundidade encontrada em outros pensadores, e é por isso que grande parte de seus conceitos devem ser transportados, realocados, mesclados a proposições mais profundas, complexas e modernas, desse modo estabelecendo uma visão inovadora sobre o funcionamento do intelecto.
            Nietzsche talvez seja um dos pensadores mais profundos que já existiu; quando seus conceitos são mesclados aos de Kierkegaard, encontramos uma combinação quase que perfeita, que supre a doutrina religiosa que tanto obstruiu o pensamento do filósofo dinamarquês.
            Uma das proposições mais ousadas de Nietzsche foi sua vontade de potência, que, mesmo pertencendo ao mais moderno dos filósofos, repousa sobre a metafísica. No entanto, quando a vontade de potência é adaptada para uma concepção ainda mais relativa, subjetiva e inerente apenas aos seres vivos, aí então obtemos aquela que parece ser a mais coerente das proposições.
            Aplicando uma forma readaptada e mais moderna da vontade de potência às proposições de Kierkegaard, obtemos uma teoria extremamente coerente, que aprece ser capaz de abarcar todas as nossas sensações, desse modo fazendo com que nos tornemos capazes de mensurar corretamente e alterar os nossos conteúdos que antes nos eram ininteligíveis.
            Com o auxílio da vontade de potência podemos elaborar uma resolução para o motivo da queda, que permanecia misterioso para Kierkegaard, que foi incapaz de arriscar um motivo referente a isso.
            Primeiramente, é preciso que salientemos o quanto as nossas possibilidades nos oprimem, o quanto elas são nocivas e desesperadoras. Em nossa mente, onde os parâmetros são desenvolvidos em um ambiente particular, relativo, e os conceitos são estruturados e definidos sem que esses possuam uma relação exata com a realidade das coisas, costumamos definir nossas possibilidades de forma exagerada. Os cenários exagerados nos influenciam, por mais que existam apenas na nossa mente, esses parâmetros são absurdamente influentes em nossas decisões e estados de espírito.
            Essa característica do nosso intelecto é absurdamente opressiva quando o indivíduo possui múltiplas possibilidades, quando ele possui interpretações variadas e discrepantes entre si.
            É até mesmo engraçado ouvirmos os tão comuns pseudointelectuais falando sobre aumentarmos as nossas possibilidades. Suas interpretações, como sempre, são completamente equivocadas. Sem um espírito vasto, sem conceitos múltiplos, os pseudointelectuais apenas repetem conceitos, sem serem capazes de compreendê-los.
            Aqueles que possuem um espírito vasto, que enxergam as coisas com perspectivas discrepantes entre si, são os únicos capazes de explicar com precisão o efeito que o aumento das possibilidades causa em nós.
            O desespero sufocante e aterrador, é com isso que os seres cheios de espírito devem se acostumar, a princípio.
            Detentores de possibilidades variadas, os seres cheios de espírito permanecem tranquilos, serenos, até que uma de suas possibilidades seja definida como sendo a direção para onde o indivíduo deve seguir. Quando o intelecto do indivíduo começa a se restringir em função de uma possibilidade em particular, todas as outras possibilidades se tornam opressivas, aterrorizando o indivíduo até que esse se sinta desesperado.
            Com a definição de uma das possibilidades, aquilo que imaginávamos que essa possibilidade nos proporcionaria acaba por se perder em meio à realidade, proporcionando-nos resultados muito menores do que aqueles que esperávamos. Ao mesmo tempo que nos frustramos com a nossa decisão, todas as nossas outras possibilidades — que permanecem intactas na nossa mente, ainda apresentando os aspectos mais incríveis e satisfatórios, que só existem nas profundezas do intelecto — nos atormentam sobremaneira, fazendo com que nos sintamos ainda mais frustrados com a decisão que restringe as outras possibilidades, que passaram a ser ainda mais importantes para nós, ainda mais essenciais.
            Funcionando como um ideal opressivo, que torna a realidade insuportável, nossas mais variadas possibilidades fazem com que nos amedrontemos com os aspectos que a realidade passa a nos apresentar.
            A decisão, que anteriormente nos parecia ser tão correta, agora apenas nos oprime, nos aterroriza. Esse aspecto negativo penetra na nossa mente, adquirindo proporções ainda mais desesperadoras. Nosso espírito se torna um cenário completamente desolador, fazendo com que sintamos uma dor profunda, como que se o mundo estivesse desmoronando.
            O desespero impele o indivíduo a abandonar a decisão anteriormente definida, fazendo com que as possibilidades opressivas voltem a se tornar possíveis, dessa forma deixando de causar dor.
            Retornando à condição anterior de ausência de definições, o espírito volta a apresentar um cenário satisfatório, fazendo com que a alma se torne mais potente, mais ampla, característica essa que a aproxima das dimensões do espírito, fazendo com que o indivíduo se sinta satisfeito.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Keeping yourself distracted

          We can see clearly how we get used to work all week, to get our head busy with some tasks, to almost eliminate our reflexive contemplation of things around us and concentrate in specific and simple tasks.
            With this characteristic of our common behavior, we acquire constantly thoughts that have a lack of development, a lack of definition. These uncertain memories remain in our head; they stand hidden and still have a huge power to influence our feelings and actions.
            When we receive a time to rest, a time to be absent of our usual activities, our usual distractions, these memories that have a lack of development come back to us in a monstrous oppressive way, hurting us with the crazy and exaggerated interpretations that our unconscious is skilled doing.
            At the beginning our free time scares us, making us try to find anything that distract us, that make us forget about our oppressive and poorly developed memories.
            This scary characteristic makes a reflexive contemplation a hard state to achieve; it is easier stay afloat on the surface of our lives, it is easier and safer keep our mind distracted with constant tasks that only hide our real life and feelings, conducting us to nowhere.