Podemos perceber a existência de
dois mundos dentro de nós. Um deles, o maior, parece conter as informações mais
valiosas sobre aquilo que somos, aquilo que desejamos, aquilo que tememos.
Nesse mundo vasto, do qual não temos controle, nossas concepções permanecem
distantes do nosso alcance, assim como o funcionamento da mente permanece
escondido para nós.
O segundo mundo, presente dentro de
nós, é um ambiente mensurável, onde os acontecimentos e nossas reações parecem
adquirir proporções que nos permite entendê-los, controla-los. Entretanto, por
mais que potencializemos esse nosso segundo mundo, muitos acontecimentos
permanecem inexplicáveis para nós, permanecem obscuros, sem que consigamos
defini-los e transportá-los para nosso segundo mundo, onde tudo é mais claro e
coerente.
Com o auxílio do nosso segundo mundo,
podemos alterar os conteúdos que permanecem nas profundezas da nossa mente. No
entanto, essa é uma tarefa complexa, e exige que tenhamos um segundo mundo
muito bem estruturado e abrangente; essas características são necessárias pois
nossa mente almeja, involuntariamente, manter nossas concepções e objetivos.
Nesse caso, para que possamos driblar essa resistência intrínseca, é preciso
que tenhamos a capacidade de atacar os conceitos do primeiro mundo em todas as
suas frentes, não possibilitando a presença de nenhuma parte do mesmo que não consiga
ser refutada veementemente. Sem executarmos uma desconstrução nesses parâmetros,
não nos tornamos capazes de alterar os nossos conteúdos profundos, pois um
resquício que seja, que alimente concepções anteriormente estruturadas, será o
responsável por permitir a manutenção, a sobrevivência, daquilo que queremos
alterar.
Referente a essas construções
profundas, que são incrivelmente difíceis de serem alteradas, podemos dizer que
elas ocorrem naturalmente, sendo sua elaboração uma característica estrutural
imprescindível para nossa mente. Nesse caso podemos salientar o quanto é
necessário que nos atentemos aos acontecimentos à nossa volta, para que sejamos
capazes de identificar os conteúdos que são absorvidos pela nossa mente e que
se tornam incrivelmente influentes sobre nós.
Nossos atos possuem relação com as
estruturas do nosso primeiro mundo, sendo eles oriundos de conceitos
previamente elaborados pelo nosso intelecto, sem a necessidade da participação
do nosso segundo mundo para que fossem definidos.
Essas estruturas profundas e
inconscientes são construídas desde tenra idade. Nesse caso, seria necessário
que o indivíduo possuísse uma memória incomum para que ele se tornasse capaz de
identificar, no segundo mundo, acontecimentos que determinaram a nossa forma de
ser. Sem uma memória diferenciada, torna-se difícil estruturarmos e definirmos
as nossas sensações, e, sem isso, torna-se ainda mais difícil encontrarmos os
verdadeiros motivos e combatermos, alterarmos, nossos conceitos profundos.
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