Na última organização onde trabalhei, a cultura
organizacional era quase que absolutamente informal, sem que ninguém se
preocupasse em defini-la ou regulá-la com precisão. Entretanto, mesmo com essa
ausência de controle, em um parâmetro fundamental de uma empresa, todos os
colaboradores seguiam normas que eram compartilhadas por todos. A palavra Deus
era usada por todos, constantemente, sendo eles incapazes de definir com
precisão o que aquilo queria dizer, mas que, de alguma forma, trazia conforto e
satisfação quando pronunciada. As pessoas tinham como principal objetivo o
sexo, e todos valorizavam isso acima de tudo; no entanto, essas mesmas pessoas
associavam o acúmulo de capital a oportunidades de transarem com pessoas
melhores, e isso fazia com que elas se dedicassem a seus trabalhos,
assiduamente, pois pensavam que promoções e aumentos lhes proporcionariam mais,
e melhores, oportunidades de sexo. Essa mentalidade básica, que era seguida por
todos, sem exceções, era explicita naqueles que eram chamados de “peões” e
implícita, floreada e disfarçada, em pessoas que ocupavam cargos que exigiam
maior esforço intelectual. Aqueles que conseguiam disfarçar bem sua sexualidade
exagerada e doentia eram tidos como sendo educados e inteligentes. Um dia, um
desses seres “super-educados” disse que leu um livro de Freud; todos do seu
setor ficaram curiosos e o consideraram como sendo um dos poucos homens que
havia lido aquilo que consideravam como sendo uma espécie de “bíblia
contemporânea”. Em uma outra situação, um homem disse que havia ido na igreja;
ninguém entendeu o que queria dizer aquilo, então o homem tentou explicar o que
era: “Ah, eu fui por curiosidade, achei que era uma espécie de museu; chegando
lá peguei um papel na porta, que era tipo um itinerário, com músicas e textos.
Um homem com uma roupa esquisita ficava lendo um livro para as pessoas. Lá
dentro pude ver umas imagens e estátuas legais, mas quando tentei andar pelo
local, para vê-las melhor e mais de perto, percebi que as pessoas, pelas suas
reações, não aprovavam essa minha atitude, então retornei ao lugar onde estava
sentado e fiquei imitando o que todos à minha volta faziam.” Tudo mundo
continuou olhando, meio sem entenderem nada; então alguém falou: “Esse local
pode ser considerado como sendo um de clube do livro.” Aquele que havia ido à
igreja pensou por um momento e disse, logo em seguida: “Você tem razão, é
exatamente isso. Um grandioso clube do livro.” Todos acharam aquilo
interessante; o mesmo homem que havia definido aquele local como sendo um clube
do livro disse: “ E ainda dizem que a literatura está em baixa hoje em dia.”
Todos riram e voltaram aos seus afazeres.
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