Após vários livros, tornei-me
incapaz de me imaginar antes de absorver todo aquele conhecimento, não mais
conseguia me enxergar como não possuindo um pensamento refinado e uma
constituição conceitual múltipla. Infelizmente, meu conhecimento fez com que me
tornasse ainda mais discrepante, ainda mais incomum, ainda mais nocivo às
ilusões que todos nutriam; como um Sócrates contemporâneo, eu saía por aí, sem
rumo, enxergando em demasia e destruindo qualquer ideal que as pessoas tentavam
impor a mim.
Não
demorou muito para que as conversas das pessoas à minha volta se tornassem
insuportáveis para mim. Sentindo que ninguém tinha nada de relevante a dizer,
tornei-me recluso, isolando-me em mim mesmo; tranquei-me em minha mente e
decidi aprofundar ainda mais meus conhecimentos sobre a psique.
Descobri
que a interpretação que eu fazia do ambiente à minha volta era classificada
como sendo o espírito. Possuindo uma definição mais precisa para um dos
assuntos que tanto me interessavam, comecei a aprofundar ainda mais meus
conhecimentos sobre o espírito, tomando como referência minhas próprias experiências
e alguns livros. Desde o princípio percebi que a tarefa à qual me propunha
seria extremamente complexa e perigosa. Em contraposição àqueles que se
autointitulavam pesquisadores da psique, eu realmente analisava e sentia as
informações e parâmetros aos quais me empenhava para desvendar e compreender.
Os poucos leitores e professores que conheci fizeram com que eu passasse a
desprezar o conhecimento adquirido em universidades, em instituições de ensino.
Para mim, todos os pseudointelectuais, que frequentavam e estimavam as instituições
de ensino que tanto me enojavam, careciam de um espírito amplo e múltiplo,
assim como careciam de imaginação e conceitos próprios. Passei a considerar os
universitários como sendo pessoas que possuíam espíritos duros, inflexíveis;
como possuindo uma alma exata e única, cheia de mecanismos de proteção; como
sendo quase que completamente inconscientes e incapazes de realmente enxergar
algo; por fim, considerava-os nada além do que exímios repetidores de
conceitos, sem nunca terem a capacidade de realmente verificarem aquilo que
falavam com tanta convicção. Infelizmente, por mais que eu tentasse, nunca
consegui refutar essas minhas impressões. Essas características fizeram com que
eu me tornasse um explorador solitário, por mais que eu não desejasse isso.
Às
vezes, eu me deparava com pessoas que realmente possuíam algum aspecto interessante,
que realmente poderia me ajudar em minhas investigações. Infelizmente, todas
essas pessoas realmente interessantes, que lidavam com emoções avassaladoras e
conceitos complexos, eram miseráveis, assustadoramente miseráveis e destruídas
pelas profundezas do intelecto.
CONT....
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