Paro por um
instante; tento me desvencilhar de tudo o que possa me distrair. Muito
lentamente minha mente vai se acalmando, os turbilhões violentos e
intermináveis de pensamentos vão se tornando uma linha organizada e serena,
calma a ponto de poder eu compreender o que se passa nas profundezas do meu
intelecto; e é isso que me proponho a fazer.
Essa tarefa de
investigador da psique sempre me entreteve ao longo da minha vida. Desde
pequeno me esforço para entender tudo aquilo que sinto, tarefa essa que, a
princípio, foi muito difícil para mim. Com o passar do tempo minha mente se
tornou mais ágil, minha capacidade de imaginar se tornou mais potente, mais
domesticada, assim como minha capacidade de me dedicar, por muito tempo, à
investigação de algum assunto; todos esses novos atributos me permitiram
elaborar modelos mais precisos e abrangentes, relacionando quase todas as
coisas que eu sou capaz de perceber.
Atualmente, esse
meu exercício constante adquiriu novas proporções. Utilizando papeis e uma
lapiseira, proponho-me a tentar transmitir todas as minhas impressões e
concepções. Agora eu faço com que meus pensamentos turbulentos e inconstantes
repousem serenos, claros e eternos, em várias folhas de papel. Eu escrevo,
escrevo e escrevo; tento expressar desde o pensamento mais simples até o mais
complexo, sem deixar nada escondido na minha mente. Essa tarefa, um tanto
complicada, passou a ser minha prioridade, tomando espaço de muitas outras
formas de utilizar o meu tempo.
Esse
direcionamento específico do meu tempo já foi, em momentos anteriores da minha
vida, uma atitude que muito me incomodou. Minha imaginação, sempre incansável,
criava os cenários mais incríveis para todas as minhas possíveis atividades,
fazendo com que a limitação de tudo aquilo que eu poderia fazer se tornasse
absurdamente sufocante, quase sempre me obrigando a abandonar a direção à qual
me propunha seguir. O tempo passou e consegui domesticar a minha imaginação;
atualmente utilizo-a para o meu próprio benefício, e não mais me permito
acreditar em quimeras absurdas, infundadas.
Entretanto,
mesmo com toda minha maturidade adquirida — que se deve, em grande parte, à literatura e
à escrita —, não sei se a minha imaginação, mesmo em uma condição quase
que incontrolável, seria capaz de desconstruir ou desmerecer essas atividades
tão nobres, às quais me proponho, cheio de vontade, atualmente. Digo isso pois
a arte — que desenvolvo na forma de escrita — é a única forma de
externarmos a nossa introspecção e comunicar a todas a forma como interpretamos
as coisas; ela será o único vestígio de nossa existência, e eu, que sempre
pensei diferente, sinto uma necessidade quase que alucinante de fazer arte, de
poder mostras para as pessoas como eu enxergo o mundo, a existência.
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