segunda-feira, 25 de julho de 2016

A respeito do livro Laer Roma

Olá. Primeiramente tenho de dizer que fico muito feliz que tenha gostado do livro. O fato de o livro ter sido elaborado com um proposito comercial me deixou muito preocupado com relação a uma abordagem mais profunda e especializada daquilo que foi proposto e construído por mim. Tenho que admitir que muitas passagens foram simplificadas e a história simplesmente foi cortada e omitida perante momentos onde os personagens começavam a refletir de forma profunda, assim como a descrição dos personagens e dos ambientes, que se tornaram sucintas e cheias de estereótipos (para fornecer referências generalizadas, que facilitariam a interpretação por parte de todos os tipos de leitores). No entanto, não abandonei minhas ideias para escrever um livro que pudesse ter sucesso comercial - que pudesse agradar a grande massa de leitores-; elas permanecem dentro do livro, sendo apresentadas de forma subjetiva, estando praticamente ocultas dentre as passagens da história, sendo apenas reveladas para alguém com um olhar mais atento e direcionado; para essas pessoas elas se tornam gritantes.
Por meio desta que pode ser considerada uma carta, irei tentar elucidar as passagens que transmitem a minha verdadeira forma de pensar e o verdadeiro sentido do livro. Peço para que depois de tais explicações você releia o livro e me transmita aquilo que você enxergou em sua releitura mais direcionada; ao mesmo tempo, irei lhe enviar dois outros livros que escrevi, que irão ajudá-lo a compreender aquilo que penso, e que adoraria que fosse analisado e debatido por alguma pessoa que fosse especializada no assunto ou que, de preferência, se identificasse com aquilo que foi abordado no livro, podendo, dessa forma, fornecer uma perspectiva mais profunda e real sobre aquilo que tentei desenvolver com muito esforço, utilizando para tanto apenas minha imaginação, que, infelizmente, não pôde contar com experiências profundas, que poderiam me fornecer relações exatas, capazes de fazer com que o livro se tornasse ainda mais crível e bem estruturado.
Antes de iniciar a explicação do livro, preciso falar sobre minha maior referência literária, sendo ela o autor Robert Musil. Tenho de dizer que quando escrevi o LAER ROMA ainda não tinha contato com as obras desse autor; entretanto, minhas perspectivas sobre muitos temas são absurdamente parecidas com as desse autor que tanto admiro, e, após ter contato com tais obras, essa coincidência de pensamentos fez com que eu me sentisse com muita vontade de publicar minhas obras.
Ainda explanando sobre minhas referências literárias, tenho de salientar minha paixão pelas obras de Nietzsche, sendo ele o responsável por fornecer a base de todo o livro, sendo ela a vontade de potência, argumento esse que servirá de fundamento para criticar a metafísica do amor e a manutenção das espécies; sendo essa a principal discussão, o tema principal do livro.
Após feitas as devidas apresentações, irei introduzir dois textos, escritos por mim, que foram fundamentais para a criação do livro. No primeiro texto - que eu gostaria que fosse publicado junto com o livro, mas que foi barrado pelo editor – tento elaborar a verdadeira sinopse, aquela que contém a verdadeira essência do livro e não todas aquelas baboseiras sobre “bom partido” escritas pelo editor Há Ha.


Sinopse do LAER ROMA, escrita por mim:
Laer Roma é um título exótico que representa o conteúdo do livro, que é referente aos padrões de interações pessoais de nossa sociedade atual. O autor Joseph Campbell, em uma de suas análises, apresenta a teoria de que o amor, escrito ao contrário se refere a Roma, condizente à forma institucionalizada assumida atualmente com relação a esse assunto; laer é algo sem sentido, estranho, ligado a algo estatizado e quase que obrigatório; definindo assim a expectativa atual do amor (segundo a concepção geral). Aqueles que enxergam o mundo de um modo diferente, até mesmo ao contrário (como se enxergassem através de um espelho) do que é definido como normal, são os que ainda conseguem interpretar e possuir valores magnânimos em suas vidas.
O livro se refere a um garoto, chamado Lucas, que tem uma visão diferente de mundo (comparado à visão geral). Ele é um garoto de ótima condição financeira, que lida com questões filosóficas, existenciais, e com a ambivalência dos sentimentos. No livro Lucas se encontra praticamente em um estado pôs assassinato do totem (referente às pesquisas de Freud com relação ao complexo de Édipo), onde os valores vigentes deixam de existir e novos valores são integrados, sem mais possuírem relação com uma figura divina e onipotente; sendo o responsável por criar suas próprias crenças e condutas, Lucas define suas interpretações sobre suas sensações e percepções, sendo elas dignas de um ser evoluído, quase como o super-homem descrito por Nietzsche. Essa característica faz com que não recorra à mistificação do antigo pai (que determina condutas e formas de ser), na figura de um ser onipresente como deus. Essas características o permitem viver uma vida intensa, racional, ilimitada e, acima de tudo, real. No livro, essa conduta de Lucas é subjetiva, se caracterizando principalmente pela completa ausência do pai.
A essência do livro se caracteriza por uma crítica à libido sexual, definida por Freud como a base da vontade humana, e refuta os argumentos apresentados por Schopenhauer sobre o sentido do amor. Com relação ao amor (que é a temática do livro), são descritas as experiências e interpretações de Lucas, esse ser humano tido como evoluído, que transmitem uma forma de amar inovadora, definindo uma nova teoria da interação entre os seres humanos e o meio.

O próximo texto foi escrito por mim antes do livro, e serviu como referência, como o caminho a ser seguido por mim durante a história que tentei desenvolver. Esse fato se torna evidente quando me precipito, quando acelero a história, tendo como único objetivo alcançar o final, que eu me propus a externar, e que me fez desenvolver uma história, criar personagens, cenários e um enredo, tudo com a intenção de tornar a ideia mais comercial e atrativa, não sendo discriminada por ser apresentada de modo estritamente teórico e maçante.


Texto que serviu como referência para o livro:
As coisas à nossa volta parecem ser inertes, irrelevantes, não suscitando nada de especial, ou diferente, em nós. No entanto, às vezes nos deparamos com algum elemento que ultrapassa a nossa indiferença e frieza perante as coisas e parece nos atingir violentamente, adquirindo um poder descomunal sobre nós. Esse objeto, que se torna um elemento de suma importância, passa a influenciar diretamente o nosso estado de espírito, o nosso humor. Cada vez que esse elemento se afasta, cada separação forçada, faz-nos sentir uma tristeza profunda, uma redução da potência; assim como cada aproximação do objeto é responsável por uma alegria reconfortante e satisfatória, um aumento da potência.
Entretanto, o objeto que tanto estimamos apenas pode nos influenciar quando se encontra à distância, quando permanece intocável e inverificável. A partir do momento em que conseguimos entender e perscrutar pormenorizadamente o objeto que tanto estimamos, esse simplesmente é desconstruído, perde-se em meio a uma definição embasada em proporções realistas, que refutam tudo aquilo que havíamos imaginado que aquele objeto poderia nos proporcionar.
Após a nossa desilusão inicial, vamos percebendo o quanto nossa alma apenas almeja desejar, ser direcionada a algo, sendo a obtenção dessa algo um acontecimento aterrorizante, desesperador. Então, podemos nos considerar como sendo perseguidores de ideais; para ser mais exato, podemos nos considerar como ciclistas, que precisam estar em movimento, em direção a algo, para que não paremos, atitude essa que muito provavelmente nos fará perder o equilíbrio, nos fará cair.
Mas, mesmo com a nossa necessidade intrínseca de movimento, de ideais, às vezes algumas pessoas obtêm um nível intelectual que não as permitem se desvencilhar da dolorosa constatação de que a vida é totalmente inútil, que nossos ideais são completamente absurdos e nunca nos levam a nada. Nesses casos, de desconstrução intelectual profunda, a vida começa a se assemelhar a um sonho, a um acontecimento distante e sem relação conosco, onde nada mais tem a capacidade de se tornar um ideal, de nos influenciar de forma intensa.
Incrivelmente apáticos e desiludidos, os seres intelectualmente desenvolvidos passam a desprezar as suas atitudes e esforços, que para eles passam a ser considerados como sendo desnecessários. A vida e todos os seus aspectos passam a ser irrelevantes; o intelecto perde por completo a possibilidade de elaborar objetivos inconscientes, cabendo apenas à analise consciente do indivíduo a tarefa de elaborar e se posicionar perante as coisas; essa característica, a princípio, incomoda sobremaneira, por não mais permitir a construção de qualquer tipo de ideal, de meta, mesmo sendo essas elaborações inconscientes e equivocadas, fazendo com que o indivíduo se depare com uma dor profunda e sem fim, que não é amenizada pela construção de ideais e de cenários que afugentam as incertezas e o desespero. Cada novo acontecimento apenas entristece, apenas incomoda. No auge do desespero, o ser racional quer, a todo custo, fugir de si mesmo, por não mais se suportar, por não mais suportar as condições que a vida lhe apresenta.
Esse aspecto raro e perigoso, é o responsável por causar a mais sensível e profunda das mudanças, fazendo com que o indivíduo perca sua capacidade primordial e primitiva de formular sua alma, e adquira uma definição mais refinada e evoluída para os aspectos referentes à sua alma.
Após essa mudança drástica, o indivíduo se torna capaz de formular sua alma tendo como base parâmetros que não possuem relação direta com o próprio indivíduo e seu corpo. Dotada de uma elaboração que se tornou completamente virtual e desprendida dos aspectos corporais, a alma não mais consegue adotar parâmetros limitados, que tenham relação apenas com o próprio indivíduo.
Esse ser racional e evoluído, que atingiu essas condições psíquicas, torna-se capaz de amar, torna-se capaz de valorizar algo externo a ele de forma muito mais intensa do que o modo como valoriza a si próprio.
A capacidade de amar desses seres raros faz com que eles obtenham uma condição parcialmente exata da maneira como as coisas devem ser. Esse cenário de admiração profunda por algo restringe as múltiplas possibilidades que constantemente estão competindo para influenciar nossas ações, nosso jeito de ser e de nos portarmos perante as coisas. Essa característica permite que esses indivíduos se sintam completamente seguros de si e de suas ideias e atitudes.
Durante essa paixão profunda dos seres evoluídos, a ausência de múltiplas possibilidades torna as ações muito mais potentes, precisas; torna a vida mais bem direcionada, mais precisa, mais fácil. A mente não mais se depara com parâmetros múltiplos a serem desenvolvidos, analisados e ponderados, aspecto esse que proporciona uma maior capacidade de concentração e uma calma profunda à mente.
Entretanto, o ser de raciocínio evoluído acaba por desconstruir o objeto que tanto o encantou, que lhe direcionou e que proporcionou tanta satisfação. Ainda possuindo sua estrutura apaixonada e bem direcionada, o indivíduo raro vai desconstruindo o objeto amado. Em sua mente bem direcionada e que não mais possui parâmetros múltiplos e concorrentes, que incitam avaliações e proposições imensuráveis, a desconstrução permite que o indivíduo se depare com o nirvana, com a ausência da alma.
A sensação de êxtase absoluto, de satisfação absoluta, do fim da vontade, da potência máxima, nunca dura muito tempo. A mente se propõe, de imediato, nesses casos, a reconstruir a alma, a posicionar-se perante o espírito.
O retorno dessa experiência rara é sempre transformador. Após conhecer a necessidade mais profunda e primordial do intelecto, da nossa existência, o indivíduo adquiri uma informação que irá fazer com que ele altere, por completo, a forma de analisar e de se posicionar perante as coisas.


Acho que me estendi demais em uma explicação que eu pretendia transmitir de forma sucinta, mas esse é o grande problema, sendo esse problema ainda presente em minha vida; minhas reflexões sobre muitos assuntos me parecem ser intermináveis, fazendo com que seja preciso que eu escreva muitos e muitos textos, sem que com isso eu consiga expressar aquilo que realmente penso e sinto, que ainda permanece incompreensível nas profundezas insondáveis da minha mente.
          Mesmo com essa explicação pela metade, que não relaciona minhas referências com a história construída no livro LAER ROMA, sinto que não devo me estender mais. Eu forneci os textos que serviram de base para o livro e também irei emprestar meus dois últimos livros. Eu ficaria muito satisfeito se você os lesse e me externasse suas opiniões sobre minhas interpretações sobre muitos sentimentos e sensações.

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