segunda-feira, 25 de julho de 2016

Estrutura intrínseca do livro Laer Roma

               Para cumprir o que prometi, irei descrever, espero que de forma sucinta, como que estruturei o livro Laer Roma, que, como já disse, é muito mais profundo do que parece.
            Como você pôde perceber, o livro: O diário é uma continuação, ou, melhor dizendo, é um livro onde continuo a abordar, de um jeito mais profundo e original, muitas das ideias presentes no Laer Roma.
            Antes de iniciar a explicação, é preciso dizer que ambos os livros se tratam de alienação, de imposição social, que transforma as pessoas, fazendo com que elas absorvam conceitos responsáveis por definir tudo aquilo que elas sentem ou pensam. No primeiro livro, essa questão é limitada ao embate entre o agente responsável pela inserção dos conceitos vigentes —a mãe — e o indivíduo que assimilará tais conceitos, passando a possuir uma mentalidade específica e pré-determinada — o filho —; nesse processo comum, com o qual nos deparamos constantemente ao longo de nossas vidas, o filho deve abandonar qualquer tipo de particularidade para absorver aquilo que lhe é imposto. Nesse primeiro livro essa relação é ridícula, pois a mãe, sendo ela destituída de força de vontade, egoísta e restringida por suas ilusões entorpecedoras, é incapaz de representar um desafio à altura do protagonista, que a refuta sem nenhuma dificuldade, podendo ele, sem se ver obrigado a absorver nada, ser capaz de estabelecer associações próprias, estritamente relacionadas com aquilo que ele realmente sente e percebe.
            Para colaborar com essa batalha relativamente fácil, agentes externos e um pai autoritário também foram eliminados.
            No segundo livro, o ambiente torna-se mais amplo. A família do protagonista não é autoritária, não tem de ser combatida em busca de uma mentalidade própria; entretanto, a imposição social ocorre através das interações do protagonista em sua escola que tem o nome de Riulop, que ao contrário quer dizer poluir, representando assim uma instituição responsável por introduzir valores e definir um modelo específico, que deve ser valorizado por todos, sem exceções.
            A discrepância entre as interpretações do protagonista e os valores vigentes faz com que ele passe a se enxergar como alguém retrógrado, abjeto, por não se adequar àquilo que é estimado por todos, assim desenvolvendo uma má consciência a respeito de si mesmo e de suas atitudes.
            Em um terceiro livro pretendo explorar a interação entre o filho e um pai autoritário, mas esse é um projeto futuro...
            Voltando ao primeiro livro (Laer Roma), pode parecer estranha a data da história, que ocorreu em 1978, no entanto, essa data é fundamental para que eu pudesse alcançar aquilo que pretendia com o livro, que era a criação de uma ilusão por parte do protagonista.
            No segundo livro escrevo sobre o quanto a internet nos permite realmente desenvolver aquilo que antes era desenvolvido inconscientemente, apenas pela nossa imaginação mais irrepreensível e exagerada, dessa forma mostrando o quanto nossa vida é vazia, o quanto as recompensas impressionantes e os cenários suntuosos existem apenas na nossa imaginação, sendo esses exageros criados em função da falta de uma confrontação da realidade com aquilo que se passa na nossa mente. Dessa forma, foi meu desejo escapar de uma era digital, onde todo mundo encontra todo mundo, para que o protagonista desenvolvesse suas interações, com a pessoa que simpatizava, através apenas de seus desenvolvimentos inconscientes e exagerados, que, por fim, transformaram uma afinidade banal em uma ilusão exagerada e absurdamente intensa.
            No fim do livro, em meio ao auge de sua ilusão, o protagonista reencontra aquela que incita o seu ideal, sendo esse encontro cortado, propositalmente, pois a partir daí existirá apenas desilusão, o que não agrada as pessoas comuns, que estão a todo o momento em busca de uma ilusão, sendo o amor a maior dessas ilusões; lembre-se que o Laer Roma é um livro comercial, tem que estar relacionado ao que a maioria das pessoas almejam e àquilo que elas são capazes de assimilar.
            Utilizando conceitos cotidianos, tive de fazer muito uso da aparência física dos personagens, por ser esse um dos principais parâmetros em se tratando daquilo que uma pessoa é capaz de pensar sobre a outra. Também fiz uso de estereótipos, com os quais me deparo constantemente durante as conversas com as pessoas mais cegas e estúpidas, sendo elas, infelizmente, a grande maioria das pessoas que encontro; esses estereótipos fizeram com que eu abandonasse a necessidade de uma análise mais aprofundada e, ao mesmo tempo, foram os responsáveis por fornecer para o leitor a forma pela qual eu gostaria que eles enxergassem os personagens que compõe a trama: uma pessoa que valoriza sua aparência, a obtenção de músculos, como sendo alguém quase que retardado e incapaz de reflexões, pensamentos profundos e sentimentos intensos; uma mãe fútil que valoriza nada além do que seu status social e o dinheiro; uma menina estúpida, incapaz de elaborar conceitos próprios, tendo de assimilar tudo aquilo que dizem ser a forma correta de se interpretar as coisas e os acontecimentos. Além disso, tive que fazer com que o personagem principal fosse alguém rico, aspecto esse que também contribui para um julgamento positivo por parte do leitor, afinal, vivemos em um mundo absurdamente alienado, materialista e estúpido.
            Mesmo com um objetivo a ser alcançado, os personagens utilizados na história são, ao meu ver, rasos e mal elaborados, mas as pessoas gostaram, pelo menos me dizem isso Ha Há, e isso é o mais importante.
            Além dessas características cotidianas, também tentei salientar o quanto as pessoas são egoístas, assim como o quanto os governos e as sociedades são movidas por desejos e motivos egocêntricos, que não visam nada além do que benefícios próprios. Além dessa característica, tentei demonstrar o quanto nossa vida social, nossa vida cotidiana, é falsa, cheia de expressões dissimuladas, cheias de segundas intenções, que escondem verdadeiras impressões e motivações. Tentei externar essas referências de forma implícita, utilizando para isso os discursos da mãe e da Isabela; achei que para tanto não precisaria fazer uma referência muito profunda, por considerar ser essa uma característica muito comum, sendo as pessoas capazes de facilmente identificar tais aspectos.  Ao meu ver, essas características tão comuns são as responsáveis por afastar as pessoas de qualquer tipo de verdade sobre si mesmas, assim como as afastam de descobertas mais profundas. “A coisa mais perigosa é a mentira; o homem que mente acaba mentindo para si mesmo, até o ponto de não mais identificar qualquer tipo de verdade. Após isso, sem poder identificar motivos verdadeiros, ele se torna incapaz de amar, se torna incapaz de realmente enxergar, passando a viver uma vida absolutamente artificial e falsa, sem nenhuma relação com o seu verdadeiro ser.” Nesse contexto, tento, através do livro, valorizar a sinceridade, algo tão raro atualmente, assim como tento demonstrar o quanto uma constituição destituída de ego é capaz de fazer associações mais abrangentes e exatas, por ser ela destituída de algo a ser protegido, de algo que precisa ser estimado, aspecto esse que faz com que as pessoas egocêntricas tenham uma concepção completamente deturpada sobre as cosias. O personagem principal tenta demonstrar a supremacia de uma constituição destituída de ego e sincera, em detrimento de constituições dissimuladas e egoístas (como as de sua mãe e a da Isabela). Ao mesmo tempo que o personagem demonstra claramente sua discrepância, sua mãe acaba por identificá-lo como uma ameaça àquilo que ela é, fazendo com que ela se sinta mal perante um mundo sem ideais entorpecedores, passando a desprezar o filho, atribuindo tudo que ela considera como sendo as piores características, que uma pessoa pode possuir, à pessoa que ameaça seus ideais e desejos impensados e mundanos. Nesse caso, tento demonstrar o quanto a maternidade não é motivo suficiente para evitar um desprezo profundo, um ódio profundo.
            Em se tratando dos principais objetivos do livro, posso dizer ser a desconstrução de uma interpretação Freudiana a principal razão da minha empreitada em desenvolver a história. Não sei te explicar o quanto a perspectiva comum me enoja; as pessoas são incapazes de analisar o que quer que for, e, consequentemente, reproduzem, sem nem ao menos parar para analisar aquilo que repetem e valorizam, tudo aquilo que foi dito e imposto como sendo a verdade. Nesse mundo alienado e sem qualquer tipo de senso crítico, vejo Freud como sendo um dos autores responsáveis por definir os pilares da nossa cultura cotidiana, e, portanto, alguém a ser combatido, desacreditado, tendo como objetivo a destruição de regras e definições incoerentes. Meus estudos sobre as teorias Freudianas foram exaustivos, e seus textos são, em grande parte, muito incoerentes; mas, ainda mais distante do que muitas proposições inconsistentes do autor, vejo as pessoas como reprodutoras de tais conhecimentos, sendo elas incapazes de ler qualquer um dos textos e conceitos que citam, mas, ao mesmo tempo, possuindo uma vontade imensa de citá-los, incorporando-os a definições impensadas e ridículas, e isso é o que mais vejo atualmente. Essa vontade, essa necessidade, de citar o autor tem relação com a mistificação do mesmo como sendo a pessoa mais precisa, mais coerente, em se tratando de interpretar a realidade e a natureza humana, o que considero ser completamente equivocado, exigindo, por minha parte, um esforço literário para introduzir novas possibilidades e alternativas, que permitem que as pessoas possam refutar as limitadas teorias Freudianas, que, infelizmente, ditam a forma como as pessoas interpretam os acontecimentos atualmente. Para tal tarefa, que não foi fácil, fiz uso de escritores que refutam as bases das proposições Freudianas, sendo Jung o principal deles, utilizei-os para que pudesse adequar minha forma de pensar a modelos anteriores, que já haviam sido elaborados e que não parecessem absurdamente estranhos para as pessoas. Infelizmente, alguns desses conceitos, opostos aos conceitos Freudianos, possuem aspectos místicos, atributo mortal em nosso mundo moderno materialista, sendo essa outra razão para a publicação do livro, o estabelecimento de conceitos, antes místicos, inexplicáveis e raros, tendo como base aspectos realistas e palpáveis.
            Mesmo sendo essa uma razão suficiente, ao meu ver, para a publicação do livro, ela não foi a única, e, até certo ponto, foi um motivo quase que secundário. Aquilo que muito me motivou a escrever o livro foi a vontade de estimular as pessoas a desenvolverem seus próprios conceitos, suas próprias histórias, permitindo com que se tornassem independentes, donas do seu próprio mundo, não mais necessitando de instituições que determinem aquilo que elas devem pensar ou sentir; além disso, quis fornecer uma vasta referência literária, a qual não é encontrada durante o ensino médio, mas que, na minha opinião, é de suma importância em se tratando de elucidar questões pelas quais passam alguns adolescentes, sendo, até mesmo, imprescindível para um adolescente intelectual, que se depara com problemas intelectuais. Vi a necessidade de fornecer tais referências em função dos livros que fui obrigado a ler no colegial, sendo todos eles completamente inúteis em se tratando de fornecerem ferramentas que me ajudassem a resolver questões que me incomodavam, e servindo apenas para fazer com que eu repudiasse a literatura, por considerar que os livros eram sempre enfadonhos e desnecessários, atributo esse que é não correto.
            No manuscrito original é possível encontrar muitos e muitos erros gramaticais, de concordância, etc. Minha intenção era deixar clara a falta de conhecimentos gramaticais que, mesmo assim, não foi capaz de impedir o autor de desenvolver no papel as suas ideias. Essa característica, que permaneceu na versão final, tornando-se apenas menos frequente, tem como intuito incitar a sensação que tive quando descobri que Dostoiévski escrevia muito mal, que Bukowski escrevia como um semianalfabeto e que Rimbaud não se importava nem um pouco com a gramática, desde que suas ideias estivessem claras no papel; saber que esses grandes escritores não se importavam muito com a gramática fez com que eu abandonasse minha insegurança com relação ao uso correto da língua portuguesa, permitindo-me, somente após a superação desse medo paralisante, desenvolver minhas histórias e impressões, e é isso que almejei transmitir às pessoas que leram o meu primeiro livro.
            Quando jovem adquiri uma certa obsessão por livros que desrespeitavam regras gramaticais ou tentavam criar uma gramática própria, um sistema próprio de descrição e classificação das coisas. Esse ato de transgressão não era apoiado por ninguém, mas muito pelo contrário. Minhas tentativas exaustivas de abolir a crase ou de criar uma gramática sem ss, sc, c, ç, sem acentos, em vista de criar palavras mais fáceis e uniformes, com o intuito de diminuir o tempo que as pessoas gastam aprendendo o idioma e as permitir gastarem mais tempo com o desenvolvimento de suas ideias, eram tidas apenas como uma necessidade preguiçosa, o que era totalmente equivocado, sendo, pelo menos para mim, a adequação a regras anteriormente estipuladas uma atitude muito mais fácil de ser alcançada, quando comparada à criação de um sistema próprio e coerente. Lembro-me até mesmo da primeira vez que descobri que gostava muito de literatura, sendo essa vez uma conversa que tive com um amigo, que me disse que prezava muito mais os autores analfabetos, pois esses pareciam dedicar muito mais tempo ao desenvolvimento de suas ideias e impressões do que à maneira gramaticalmente correta de descrever aquilo que sentiam e pensavam, fazendo com que seus livros se tornassem muito mais completos e interessantes do que os livros de autores muito preocupados com a gramática, que pareciam dedicar muito mais tempo pesquisando a forma correta de se escrever, em detrimento do aprimoramento de suas ideias. Essas palavras, de um amigo meu, soaram, para mim, como um ato extremo de transgressão, que ia completamente contra tudo aquilo que eu havia aprendido como sendo literatura desde então. Eu via professores analisando autores apenas através da capacidade de seguir regras e escrever corretamente, sendo esse atributo colocado em primeiro lugar e eclipsando qualquer tipo de análise mais profunda dos textos, aspecto esse que me incomodava muito, exageradamente, exigindo, de minha parte, a necessidade de tentar mostrar que a literatura de verdade é muito mais do que um arranjo, embasado em regras pré-estipuladas, de palavras, é muito mais do que concordância ou ideias rasas e mal elaboradas; ela é, na verdade, um ato de transgressão, de verificação daquilo que nos é imposto, de criação daquilo que sentimos e percebemos, de identificação e de definição do nosso mundo; e foi esse tipo de literatura que pretendi externar no meu livro, fazendo com que as pessoas abandonassem aquilo que professores pedantes e burros dizem ser a verdadeira literatura.
            Tendo todos esses objetivos a serem alcançados, fiquei muito feliz por ter conseguido escrever um livro que relacionasse tais parâmetros que eram extensos, discrepantes entre si e me deram muito mais muito trabalho para relacioná-los de forma coerente , assim como me senti satisfeito por ser capaz de descrever uma a história sob a perspectiva de um personagem complexo, atributo esse que também não foi nada fácil.
            Em sua faceta mais sensível e profunda, o livro fala sobre amor e sobre aquilo que acho que as pessoas sentem, de acordo com livros e algumas poucas observações pois em Sertãozinho é impossível estimar intensamente alguém, as pessoas aqui são, em sua grande maioria, mega toscas, e aquelas que são um pouco interessantes são desvalorizadas pela grande maioria tosca, por não se adequarem aos parâmetros ridículos, e são deixadas de lado, ficam meio que desaparecidas, escondidas por aí. A princípio, o protagonista está apaixonado, deparado com uma sensação nova, que faz com que ele se sinta mais potente do que nunca, fazendo com que, consequentemente, ele se sinta muito bem e feliz; ao mesmo tempo, ele se vê receoso perante a valorização exagerada de uma pessoa em particular, de um objeto em específico, incitando-o a tentar desconstruir aquilo que é intenso e está se formando em sua mente — nesse caso, posso considerar essa como sendo mais uma característica intrínseca de uma constituição mais consciente, mais racional, e isso me deixa muito satisfeito, por ser eu alguém responsável por descrever mais profundamente tal mecanismo; sei que outros autores desenvolveram essa característica muito bem, considero Proust como sendo o melhor deles, mas, mesmo assim, fico feliz por poder abordar um tema que considero estar muito presente ao longo de nossas vidas, e, ao mesmo tempo, fico muito feliz por poder identificar mais uma característica da nossa razão pura, que no incrível livro de Kant foi especulada muito rasamente, definindo o menor esforço como sendo uma parte intrínseca do nosso ser, e parando, infelizmente, por aí; ou, melhor dizendo, posso considerar essa descoberta como podendo ser caracterizada como derivada de uma crítica da razão consciente, pois as pessoas buscam, avidamente, possuírem ideais e estruturas exatas, ilusões bem definidas e muito bem direcionadas, que as tornam absurdamente vulneráveis, em se tratando de quando se deparam com qualquer aspecto que ameaça tais ideais profundos, aspecto esse que não é encontrado em pessoas racionais, que ao perceberem algum tipo de construção exagerada tratam de alterar e afugentar tais parâmetros. Assim o personagem se esforça para desconstruir esse sentimento, relacionando-se com outra pessoa, que, em sua mente, será capaz de fazer com que ele desconstrua seus sentimentos intensos, que são direcionados a uma direção específica, atributo esse que o torna vulnerável, suscetível e fraco, não importando o quanto essa pessoa em específico o faça se sentir bem.
            Tendo essa perspectiva profunda instalada em seu intelecto, o personagem se sente satisfeito ao ler o livro de Schopenhauer sobre o amor, que lhe incita a ideia de que pode direcionar seus sentimentos para onde bem entender, sendo seus sentimentos relacionados a nada além do que desejos sexuais.
            Sua mente, que estava bem estruturada e tinha Ana como base dessa estrutura, sofre uma desconstrução completa no momento em que o personagem vai se encontrar com a Isabela, o que lhe permite sentir o nirvana (sensação essa que tentei descrever mais profundamente no segundo livro).
            Obtendo sucesso na tarefa de abdicar à sua construção intensa, ele continua a viver satisfatoriamente, sem saber que aquilo que o faz se sentir bem ainda está presente, influenciando-o, sem que ele perceba. Esse aspecto, que coloquei no livro, tem como intuito fazer com que as pessoas passem a questionar a sua capacidade de identificar seus verdadeiros motivos, seus verdadeiros desejos e estruturas mais profundas, que, na realidade, permanecem muito longe de qualquer percepção consciente, influenciando-nos, de forma intensa, sem que possamos identificar o que realmente é importante e essencial para nós. Essa característica nos remete a nossa constituição em grande parte obscura e inconsciente, sendo que podemos considerar que grande parte de nossas atitudes e motivos são misteriosos para nós.
            Ao perder aquilo que o agradava, ele mergulha em uma fase dolorosa, de desespero, que foi floreada no livro, diminuída, para não expressar sentimentos intensos, contra os quais as pessoas comuns se protegem desde sempre e, portanto, estaria muito aquém de suas realidades, não as permitindo compreender tais sensações. Nesse momento, finalmente percebendo aquilo que o influenciava profundamente, ele passa a desenvolver inconscientemente a ideia que Ana passou a representar em sua mente. A distância do objeto que passou a ser desejado intensamente só faz com que o protagonista exagere ainda mais em suas definições, criando, dessa forma, uma imagem completamente equivocada e irreal.
            Tornando-se uma ilusão exagerada, a Ana passa a representar algo que todas as pessoas ou possuem ou buscam avidamente, mas que, quase sempre, permanece oculto e muito longe de uma identificação consciente.
            Percebendo tais aspectos da nossa constituição, o protagonista consegue facilmente refutar aquilo que estava escrito na metafísica do amor, dessa forma refutando a base da teoria psicanalítica e se vendo no papel de definir uma nova perspectiva que realmente relacione aquilo que ele percebe, conduzindo-o à definição final do livro, que tenta estabelecer uma nova forma de enxergarmos as coisas e nossos impulsos profundos.
            Tentando explicar agora, vejo o quanto eu perdi o controle do livro, vejo o quanto eu ainda preciso melhorar e desenvolver mais satisfatoriamente os meus conceitos. Mas, mesmo com minha falta de habilidade, as pessoas gostaram do livro; e isso, digo novamente, é o mais importante.
            No final do livro, tentei externar uma nova forma de interpretar a psique humana e nossa necessidade mais profunda, e imprescindível. Essa parte final, que ficou confusa, tenho de admitir, foi como que um guia para o livro, sendo que sua existência é anterior a qualquer tipo de possível elaboração de um roteiro do livro, sendo ela utilizada como uma das referências, como um guia que me direcionasse durante a elaboração da história.
           Muitas pessoas dizem ser evidente a minha pressa, ao longo da história, em alcançar a revelação final, a definição das impressões desconexas, do protagonista, ao longo do livro. Tal observação é precisa, exata, sendo essa pressa mais um dos meus defeitos.
            Deixando de lado a correria e os acontecimentos mal desenvolvidos, em função da minha vontade exagerada de apresentar o ensaio final, passo agora a me concentrar no surgimento, na formulação e na adaptação do final do livro, que constitui na inserção de elementos e conceitos comuns, que poderiam ser assimilados pelas pessoas. Para tanto, tive de alterar o conceito principal, com o qual realmente me identifico — que foi expresso em sua total dimensão no livro O diário —, inserindo conceitos desenvolvidos por Platão — Anima Mundi, para ser mais exato — e um enfoque mais materialista, que me permitiu até mesmo apresentar o vergonhoso exemplo da gravidade, que encontrei em um dos livros que li, das teorias de Nietzsche e sua vontade de potência. Essas alterações foram necessárias para fornecer ferramentas que facilitassem a compreensão, que, por fim, parece não ter sido alcançada pelas pessoas que leram o livro, que, na maioria das vezes, são incapazes de externar qualquer tipo de interpretação própria com relação ao último capítulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário