quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

The will to power

            The will to power is something present on us, in a deep sense, but not in a conception to reach a higher position in society, but in a strictly inner way.
           We also must have to kill all the god conceptions, all the reincarnation concepts, and all the illusions about life. The will to power is a super-sensible aspect of ourselves, something that remain hidden for almost everyone and that is only observed by the genius, who has a different mentality.
            Talking about genius, I think that all people can become one, but the journey to achieve that is cruel, hard, deadly; it is a journey against human nature, to the depth of the mind, a desperate and unnecessary journey, that require an uncommon strength and will, that will bring the vast conscience, the absolute control and wisdom.

           For those who have a vast conscience; that can understand and measure some of our deepest actions, the will to power is easily found in the actions during life. 

The multiple interpretations

           Melancholy can be characterized as a scenario that is multiple, with many possibilities, that not allow a definitive mind-set. A state without a surly idea, a well defined goal, that permit a kind of certainty to the person.
             Even if our certainty is a pseudo-reality, this is our biggest wish, the condition that we deeply want. It seems that life become easier in a well defined state of mind, maybe we feel that because of the lack of contradictory thoughts, that make our actions more precise and powerful. When we become more efficient, more strong, we become more satisfied.

            Related to the melancholy we can expose the mainly characteristic of our mind, that develop the phenomena by itself. In this case, when we start to have a multiple point of view about things, we start to lose our strength and this scenario becomes even more terrifying with the consequences, that are always unreal and exaggerated, developed by our unconscious thoughts. This characteristic make us try to establish a well set state of the mind, always when we start to feel a decay in our thoughts, in our power. This is our manly aspect, our manly primitive aspect, and don’t allow us to have a multiple point of view, a view of the whole; we only change this characteristic of our constitution after we start to become more rationalist.  

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Os dois mundos

            Podemos perceber a existência de dois mundos dentro de nós. Um deles, o maior, parece conter as informações mais valiosas sobre aquilo que somos, aquilo que desejamos, aquilo que tememos. Nesse mundo vasto, do qual não temos controle, nossas concepções permanecem distantes do nosso alcance, assim como o funcionamento da mente permanece escondido para nós.
            O segundo mundo, presente dentro de nós, é um ambiente mensurável, onde os acontecimentos e nossas reações parecem adquirir proporções que nos permite entendê-los, controla-los. Entretanto, por mais que potencializemos esse nosso segundo mundo, muitos acontecimentos permanecem inexplicáveis para nós, permanecem obscuros, sem que consigamos defini-los e transportá-los para nosso segundo mundo, onde tudo é mais claro e coerente.
        Com o auxílio do nosso segundo mundo, podemos alterar os conteúdos que permanecem nas profundezas da nossa mente. No entanto, essa é uma tarefa complexa, e exige que tenhamos um segundo mundo muito bem estruturado e abrangente; essas características são necessárias pois nossa mente almeja, involuntariamente, manter nossas concepções e objetivos. Nesse caso, para que possamos driblar essa resistência intrínseca, é preciso que tenhamos a capacidade de atacar os conceitos do primeiro mundo em todas as suas frentes, não possibilitando a presença de nenhuma parte do mesmo que não consiga ser refutada veementemente. Sem executarmos uma desconstrução nesses parâmetros, não nos tornamos capazes de alterar os nossos conteúdos profundos, pois um resquício que seja, que alimente concepções anteriormente estruturadas, será o responsável por permitir a manutenção, a sobrevivência, daquilo que queremos alterar.
              Referente a essas construções profundas, que são incrivelmente difíceis de serem alteradas, podemos dizer que elas ocorrem naturalmente, sendo sua elaboração uma característica estrutural imprescindível para nossa mente. Nesse caso podemos salientar o quanto é necessário que nos atentemos aos acontecimentos à nossa volta, para que sejamos capazes de identificar os conteúdos que são absorvidos pela nossa mente e que se tornam incrivelmente influentes sobre nós.
            Nossos atos possuem relação com as estruturas do nosso primeiro mundo, sendo eles oriundos de conceitos previamente elaborados pelo nosso intelecto, sem a necessidade da participação do nosso segundo mundo para que fossem definidos.
         Essas estruturas profundas e inconscientes são construídas desde tenra idade. Nesse caso, seria necessário que o indivíduo possuísse uma memória incomum para que ele se tornasse capaz de identificar, no segundo mundo, acontecimentos que determinaram a nossa forma de ser. Sem uma memória diferenciada, torna-se difícil estruturarmos e definirmos as nossas sensações, e, sem isso, torna-se ainda mais difícil encontrarmos os verdadeiros motivos e combatermos, alterarmos, nossos conceitos profundos.

Será que alguém é capaz de me entender?

                De repente algum pensamento, sendo ele incitado por algum acontecimento, ou podendo ocorrer de forma espontânea, faz com que desenvolvamos um cenário obscuro e desesperador na nossa mente. Perante essa nossa estrutura desesperadora, onde nos sentimos oprimidos perante as características do mundo à nossa volta, sentimo-nos impelidos a agir, a fazer algo que altere, que substitua nosso espírito desesperador.
            Nesse contexto, talvez a sexualidade seja a nossa atitude mais primitiva, tendo como intuito amenizar o cenário desesperados com o qual muitas vezes nos deparamos. Nesses casos, sentimo-nos impelidos ao gênero que mais nos agrada, ao gênero que estruturamos em nossa mente como sendo o responsável por nos proporcionar o único objetivo da nossa existência, por nos proporcionar a potência máxima, por nos proporcionar o nirvana.
            Durante a interação sexual, nosso espírito adquiri novas nuances, sendo elas satisfatórias, desse modo oferecendo um cenário mais aconchegante, mais tranquilo, fazendo com que nossa alma abandone o cenário anteriormente desesperador e aumente sua potência em um cenário menos opressor, desse modo fazendo com que nos sintamos mais satisfeitos.
            No entanto, nossa satisfação geralmente dura pouco; logo nos vemos novamente deparados com os agentes que incitam pensamentos penosos, que incitam a construção de um ambiente, no qual estamos inseridos (espírito), que é desesperador para nós.
            Novamente, em função do cenário opressor que se forma na nossa mente, sentimo-nos impelidos a agir de novo, a novamente executarmos ações que façam com que transformemos nosso espírito, que façam com que, novamente, o tornemos um cenário satisfatório.
            Esse ciclo pode ser considerado como sendo eterno nos animais e na maioria das pessoas. Na nossa vida os verdadeiros agentes que nos incomodam nunca serão pormenorizadamente investigados, sanados, restando a nós apenas ações impulsivas, que somente nos fornecem soluções provisórias para os verdadeiros problemas.
            No entanto, diferentemente da maioria das pessoas, alguns seres humanos adquirem um conhecimento e um poder de controle sobre a mente que impressionam. Eles se tornam capazes de mensurar as profundezas do intelecto, assim como são capazes de entender a maneira como seus conceitos estão estruturados em suas mentes. De posse dessas informações preciosas, esses seres raros são capazes de sanar o desespero, gerado por uma construção espiritual abjeta, apenas com a sua imaginação, assim como são capazes de estruturar cenários, em suas mentes, que os permitam direcionar toda a sua força rumo a objetivos que eles almejam, racionalmente, alcançar.
            Em um número relativamente alto de seres humanos, podemos observar a substituição do sexo por outra atividade que adquiri o poder de proporcionar parâmetros espirituais satisfatórios. Entretanto, o ser raro se diferencia dessas pessoas por ser capaz de direcionar, de forma racional, suas ações.
            Ah, a mente é tão vasta, e nossa consciência pode se tornar tão abrangente e eficiente, mas, para a infelicidade da maioria das pessoas, alcançar conceitos profundos e estruturar uma consciência abrangente são tarefas perigosíssimas, que, a princípio, exigem que o indivíduo suporte uma dor insuportável, sendo ela totalmente desnecessária, sendo ela coerente apenas aos teimosos destemidos, que não possuem nenhuma consideração pela vida.
            Por causa dessa característica, provavelmente meus textos, minhas ideias, podem ser compreendidos por poucas pessoas; para a grande maioria, minhas ideias serão, para sempre, esdrúxulas e incoerentes.

domingo, 29 de novembro de 2015

O materialismo e o ser humano primitivo

           As proposições materialistas parecem possuir um conteúdo quase que estritamente irracional, sistemático, dessa forma transformando em leis obrigatórias as características humanas mais deploráveis e primitivas.
        Após a invenção do dinheiro, as coisas e as pessoas adquiriram um novo modo de serem analisadas. Nesse contexto inteiramente monetário e materialista, os sentimentos e a moralidade foram abandonados, cedendo espaço para avaliações que têm como base o capital.
      O materialismo simplificou, ainda mais, as relações humanas. Baseadas em interesses particulares, as interações humanas ocorrem apenas quando alguma das partes nota a presença de algo que lhe possa beneficiar.
           Se Kant identifica a lei do menor esforço como sendo uma característica intrínseca em nós, podemos considerar o materialismo como sendo aquilo que mais nos agrada. Com ele nossos principais defeitos se tornam virtudes, as análises complexas e demoradas se tornam rápidas e práticas, e a interação entre as pessoas se torna simples e bem direcionada.
             Quando as pessoas vão finalmente entender que o ser humano é algo a ser superado?

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Be materialistic, please

          “Where do you think that this feeling will put you? I can answer this question for you, it will bring nothing to you. After your delusional thoughts are gone, after the reality shows to you the real meaning of things, you will regret about the lost time, about the crazy journey after the feeling. This aspect of your life will be so oppressive to you that when, in the future, you start to remind about your crazy youth acts, that when you remember of those old days, without a delusional mentality, you will feel desperate about your thoughts, at the point do despise everything that reminds you about love. It is necessary for you to adapt yourself to the social needs and expectations; it is necessary to surrender yourself to the reality that was created for us, nobody care if this concepts are true or not, the most important thing is that everyone believe in them, everyone build a life to reach them, and this is the most important thing!” After his words, the father looked anxious to his son, expecting his reply, already building up some scenarios and answers in his head, to deconstruct any kind of thought that was against his wish to direct his son to the path that he thinks was the most reasonable one.
            “You use the community to hide yourself from your feelings, from your thoughts. This is a coward move from you, a conception related to a weak person, who doesn’t have enough strength to run after his believes, to care about his thoughts, because of his weak constitution. You are someone who will always hide from something that wakes you up for action, that create a goal that demands a huge will to be reached. You are weak, and I will not listen to you.” Saying these words in a calm way, the son look to the father, to see his reaction. He get surprise to see an indifferent expression of his father, who start to respond the proposition said by the son.
           “Oh, my naïve kid. Tell me if you see me stepping back when I saw something that really interest me. Tell me if you see me talking about my opinions to anyone. Tell me if you see me trying to impose my point of views, and trying to be superior than persons who don’t agree with me. Tell me if I already said something that did not contain an amazing and unquestionable logical relation.” Said the father, looking indifferently to his son.
             “I cannot remember of you doing such things.”
          “Then you need to believe when I tell you about something that I really disagree. I am not saying any irrational word, I am saying something deeply developed, deeply analyzed.” The words came out vividly through the mouth of the father, hitting the son by surprise. He drop down his guard and start to speak in a more passive way.
             “Then what do you have against my search for love? Do you understand something about it?”
           “More than you think, my beloved son. And I can tell how it is irrelevant, and how you can use your uncommon strength to some easier and more worth task, at least a task that people will respect you by doing it.” The attention of the son, who was disperse in the beginning of the conversation, now was strictly directed to his father.
         “Now you caught my attention, I want to hear about what you have to say to change the direction of my efforts.”
            “This is nice, I have many things to say to you; I know that I don’t speak much but I might, and today I will show you that, but only for you, my son. Our feelings should remain locked in our mind; it is sad to say that, but trust no one, it is a crazy worlds that we live in, they hunt rare people and kill them, without mercy. Lock your feelings, or they will be used against you; preserve yourself, this is really important to be done.” The father looked thee; two sincere looks encountered themselves and the moment was perfect for the deepest thoughts, for deepest analyzes that probably will have the power to change conceptions forever.
            “No one, father? I think that you are exaggerating. Do someone that could be special to me will never exists? Everyone only wishes to fulfill their own vacancy, to reach their own goals, without caring about other person besides himself? Is that the only aspect that I will find on people?” The face of the son was scared by his thought. He pronounced his last words looking apprehensive to his father, waiting for an answer that will eliminate his bad state of mind, the bad constitution acquired by his spirit with his speech.
            “Almost that, my son. Someone who doesn’t think only about yourself is such a rare person that we find only a few ones during our life time. And even when you find them you need to test them, to really see their constitution; only after many tests you can trust in your judgement, only after that you can really say if you are with a rare person or not. But this kind of phenomenon are so so rare, that is easier don’t even think about it.” The answer of the father seems to bring calm to the mind of the son, and, with that, he fells even more curious about his father thoughts.
             “Then you are saying that the only thing that I will see in life is persons who will be with me, and care about me, only because their self interests?”
            “Yes, this is exactly what I am saying. And these common people have their own definition about love, and it is funny, and primitive. They believe that they are in love when they find someone that brings more benefits than everybody else. And, most of the time, this definition is considered superior, enlightened, because the majority of them consider that love is equal to sex.” The father couldn’t contain how this conception make him laugh, and with a discreet smile he look to the son, who was seriously looking to the wall above his father, thinking.
              “Then you are preventing me to abandon many things to discover this simply conceptions?”
            “Of course not” the father responded vividly “what I said was conceptions about love wrote by monkeys, by dull persons. If you search for love, I have sure that you will write something more human, more rational. Bur this is not the point here, the real human beings also talked about love. Some of them had the constitution to be in love, but they cannot found some idea that brings that make then understand this subject. These are a sad kind of poet, they defend love above all the things, but they are not able to feel it; they wrote about an ideal, about some image in their minds that will bring fulfillment to them. This kind of poets are common, unfortunately. They are dull ones, who swap their lives for illusions.” The son cannot comprehend all the father words, then, looking inquisitive to him, he starts to try to understand even better his father conception.
                “Now I am confused, father. What is the real definition about love?”
            “It is something complicated to explain without some detailed explanation about how our mind work. If you promise me to study and memorize your school matters I can try to explain it to you someday.”
            The son nodded and went to his room to study. While he was on his way to the room, the father, happy with the results of the conversation, scream to the boy who were already distant.
          “The real great men stay beyond love, my son. Remember that, it will help you a lot to understand my future explanation about the theme.”

domingo, 22 de novembro de 2015

Sometimes I fucking hate the so called artists

           The sign of decay, that is what we saw everywhere in art. The human beings seem to get even more lazy and irrational with the pass of the years, and this characteristic is express on the work of art.
            The huge task of the great men, who runs against their nature to see and understand the depth of the mind, seems to be an obsolete subject; the great sacrifice and the destructive experiences was replaced for the unconscious feelings, for the irrational love, for the common sense, and for the limited point of view.
            The artists are now rewarded by a work that doesn’t contain many aspects and interpretations. We all know that our mind is inclined to the right and surly definitions, that doesn’t have many parameters or possibilities; but this aspect of our thoughts was already proved as a wrong and primitive way of thinking. The real artists have to be able to bring to his works the view of the whole, the view of someone who sees beyond his wishes, beyond any interest; of someone who isn’t driven by irrational constructions, but, in the opposite way, has a big conscience that is capable to create a rational scenario for his feelings, for the events, for the things around they.
            The real artists, who struggle to create something inwardly, who doesn’t have a reactive and irrational form of expression, who risk everything to overcome his primitive constitution, his primitive mind, are often seen as a bad and untalented artists, that was not able to create something esthetically beautiful, to create something that set the mind in a state of accuracy and conviction, being that our highest definition of beauty.
            On the opposite way of these primitive conceptions, the real artists try to spread their multiple point of views and the feelings that is brought to our life by a complex way of thinking, that is more close to the reality.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Two worlds

           Our fears seem to block some aspects that life presents to us; it seems that our personality is built around those fears that remain as untouchables and danger areas within us.
           Casually, an old memory stick so hard on our mind that we are not able to deconstruct it. Differently of the real proportion of the things, of the situations that originate those bad memories, our mind develop, by itself, those memories until transform them into desperate scenarios. When we start to see these scenes forming around us, we do our best to run away from those situations, to improve the scenario that our mind crate about the world.

            Those bad scenarios terrifies us by their hopeless and the absurd scary consequences. We run from that all the time, at the first sight of some object that remember us of these bad memories, that make our mind access those scenarios that terrifies us. And we run away, every time, again, again and again, till we discover the deconstructive power of our conscience.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Eles ainda são melhores, por enquanto

            O homem sem imaginação deve se sentir feliz, pois não possui uma característica que torna a vida ainda mais complexa, ainda mais difícil.
            Incapaz de fazer associações próprias, os seres sem imaginação se adaptam facilmente àquilo que é imposto a eles. Por causa da falta de imaginação, provavelmente essa assimilação será lenta, assim como exigirá que os conceitos, a serem assimilados, sejam simples e não muito diferentes daquilo que estão costumados a enxergar, não contendo relações complexas e inovadoras, desse modo permitindo a assimilação dos mesmos por um ser intelectualmente limitado. A lentidão e a restrição do aprendizado são compensadas pela ausência da criação de concepções múltiplas, aspecto esse que incomoda, e muito, os seres dotados da capacidade de imaginar as coisas e estabelecer conceitos.
            Por causa da ausência de parâmetros múltiplos, em suas mentes, os conceitos morais são tratados como dogmas, pelos indivíduos intelectualmente limitados, garantindo que suas ações estejam sempre de acordo com os conceitos morais. Esse aspecto, que evidencia a incapacidade dessas pessoas de criarem e analisarem conceitos por si próprios, faz com que exista a necessidade de uma ordenação superior das coisas, sendo essa ordenação criada por um líder, ou, até mesmo, por um Deus.
            Esses seres possuem um olhar limitado, que apenas enxerga as concepções limitadas que eles possuem, dessa maneira restringindo a multiplicidade de conceitos e de causas que determinam as coisas, e estabelecendo relações, com as coisas, que não transmitem, não englobam, o real funcionamento, a verdadeira dimensão, daquilo que observam.
            Infelizmente, os seres intelectualmente limitados são a maioria, e implementam e obrigam todas as pessoas a aderirem às suas concepções limitadas sobre o mundo e os acontecimentos.

Into the despair

         At some point, everyone will feel desperate about your life, about your condition. The obscure scenario, that can be formed in our mind, create a deep necessity of action, a giant tension that become actions, that has the intention to correct, to erase, the frightful scenario that is established in our mind.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A consciência ampla

            A nuvem que é interpretada por Polônio, e que adquiri novas formas quando Hamlet externa suas impressões, talvez não tenha sido definida com diferentes formas apenas para que o príncipe da Dinamarca se sentisse satisfeito por possuir alguém que concordasse com suas suposições, talvez aquela nuvem pudesse ser interpretada de várias formas discrepantes entre si, atributo esse que permitiu que Polônio mudasse sua opinião, sinceramente, toda vez que Hamlet desenvolvia uma nova perspectiva sobre a nuvem.
            Tomando como base esse exemplo, podemos perceber o quanto nossas impressões variam, o quanto as coisas possuem interpretações múltiplas, plausíveis e lógicas. Essa característica intrínseca de tudo à nossa volta faz com que enxerguemos um novo arranjo das coisas, dependendo apenas da maneira como olhamos para essas coisas e a associação que fazemos daquilo que enxergamos.
            Essas nossas construções variáveis, e constantes, de conceitos e de cenários, faz com que nos portemos diferentemente perante situações similares, faz com que alteremos, por completo, nossas impressões e sentimentos.
            Um exemplo banal, que ilustra essa nossa característica profunda, é a concepção que se tinha de mulheres que usavam óculos. A princípio essa característica transmitia a ideia de deselegância, estupidez, fragilidade, sendo que, com o passar do tempo, com a alteração dos conceitos, essa mesma imagem passou a suscitar uma ideia de empreendedorismo, imponência, força; fazendo com que enxergássemos a mesma situação com uma concepção completamente diferente.
            Essa mudança de conceitos, que é frequente para aqueles que são muito racionais, evidencia o quanto a realidade que percebemos é virtual, assim como nos mostra o quanto são importantes e relevantes os conceitos pré-estabelecidos na nossa mente, sendo eles os responsáveis por nos situarem perante aquilo que percebemos. Só iremos ter sentimentos por aquilo que, de alguma forma, já está construído na nossa mente, por uma concepção previamente verificada e desenvolvida — sendo esse desenvolvimento, na maioria das vezes, inconsciente, situando-se nas profundezas do intelecto, sem que possamos percebê-lo conscientemente —; o novo nunca suscitará nada em nós, porque, por causa da presença de parâmetros que nunca observamos, não sabemos como nos portar perante esse novo cenário que encontramos.
            Com o desenvolvimento da nossa consciência, e com o aprimoramento das nossas interpretações, tornamo-nos capazes de enxergar as coisas sob as mais variadas perspectivas. Nesse caso, encontrarmos alguém que possua alguma coisa em comum conosco se torna uma tarefa simples, por causa da pluralidade conceitual que faz com que o ser consciente possua vários aspectos, várias interpretações das coisas.
            A ampliação do raciocínio destrói os sentimentos, sendo eles apenas reações nervosas, que têm relação com concepções exageradas, que não possuem relação com a realidade. Assim como os sentimentos, o amor também é abolido, após passar por uma análise estritamente racional.
            Dotados de uma frieza e de uma indiferença sem limites, os seres possuidores de uma consciência vasta são acusados, pelas pessoas comuns, como sendo falastrões, por não possuírem uma paixão irracional quando expressam suas opiniões e desejos. As mesmas pessoas comuns afirmam que os seres cheios de consciência são insensíveis, quando, na verdade, eles são incrivelmente sensíveis, ultrassensíveis.

É muito difícil, mas para os estúpidos é fácil

            Como é difícil entendermos as pessoas! Por mais que nos esforcemos, por mais que conversemos com elas por horas e horas, nunca somos capazes de estabelecer uma concepção exata sobre aquele com quem conversamos.
            A falta de clareza, a ausência de definições exatas, são parâmetros que sempre irão atormentar nossa mente, que não consegue suportar a presença de nada que possua uma definição imprecisa. Dessa forma, suprimindo o incômodo que uma interpretação imprecisa nos causa, criamos conceitos que não se aproximam da realidade daquilo que queremos definir.
            Nunca confiei em minhas construções inconscientes referentes às pessoas com as quais eu tive contato ao longo da minha vida, e sempre me espantei quando me deparava com aqueles que definiam uma pessoa após uma observação rápida, sendo esse espanto ampliado, ainda mais, quando via essa impressão capciosa perdurar ao longo dos tempos, sem nunca ser verificada ou observada com atenção.
            Por fim, esses desenvolvedores de conceitos capciosos são considerados os gurus do espírito, alguns, até mesmo, recebem o título de médiuns ou espíritos evoluídos. Todos esses construtores de conceitos capciosos são valorizados por todos, e eu nunca consegui entender o porquê.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Preferimos os burros convictos

            A multiplicidade de proposições e formas de se enxergar as coisas nos assusta demais; é do feitio humano estabelecer metas concisas e precisas, que não permitem espaço para interpretações complexas e múltiplas.

            Tendo em vista essa característica humana, todo discurso sincero, que demonstra incertezas e possibilidades variadas será desvalorizado por quase todas as pessoas. A vida verdadeira, assim como sua complexidade que envolve causas e consequências complexas, é sempre tida como assustadora, desesperadora, e será evitada pela maioria das pessoas.

O conceito de angústia

            Desde que a ideia de que aquilo enxergamos, que percebemos, não passa de um reflexo da realidade tornou-se um conceito preponderante em nossas análises, percebemos uma mudança drástica no modo como enxergamos as coisas, como interpretamos nossos conceitos e como consideramos conceitos alheios aos nossos. A relatividade de cada interpretação, de cada forma de perceber, tornou-se parâmetro essencial para que analisemos, com precisão, determinadas atitudes e definições.
            A imagem virtual do mundo, sendo ela particular e única, nos situa em meio às coisas, perante os acontecimentos.
            É tarefa do gênio enxergar mais do que as pessoas comuns, se esforçar e aprofundar seu pensamento, em um nível que um ser comum nunca será capaz de alcançar ou compreender. Essa empreitada perigosíssima é necessária para que a proposição que mais se aproxima do verdadeiro funcionamento da mente, que engloba e relaciona tudo aquilo que percebemos, seja descoberta, dessa forma, e apenas assim, nos permitindo controlar os nossos pensamentos e reações.
            Kierkegaard pode ser considerado como um desses gênios desbravadores, destemidos, que mergulharam em seus conceitos virtuais, explorando regiões inóspitas da existência, para que, com isso, pudesse nos fornecer elaborações importantíssimas.
            Ele foi categórico ao salientar o quanto nossas mais variadas possibilidades mais nos incomodam do que nos beneficiam; ele também soube desenvolver muito bem o estado de queda, de desespero, perante as condições que percebemos e que incitam a criação de um cenário virtual desesperador.
            Entretanto, mesmo com toda a sua percepção incomum, Kierkegaard parece não alcançar a ultraprofundidade encontrada em outros pensadores, e é por isso que grande parte de seus conceitos devem ser transportados, realocados, mesclados a proposições mais profundas, complexas e modernas, desse modo estabelecendo uma visão inovadora sobre o funcionamento do intelecto.
            Nietzsche talvez seja um dos pensadores mais profundos que já existiu; quando seus conceitos são mesclados aos de Kierkegaard, encontramos uma combinação quase que perfeita, que supre a doutrina religiosa que tanto obstruiu o pensamento do filósofo dinamarquês.
            Uma das proposições mais ousadas de Nietzsche foi sua vontade de potência, que, mesmo pertencendo ao mais moderno dos filósofos, repousa sobre a metafísica. No entanto, quando a vontade de potência é adaptada para uma concepção ainda mais relativa, subjetiva e inerente apenas aos seres vivos, aí então obtemos aquela que parece ser a mais coerente das proposições.
            Aplicando uma forma readaptada e mais moderna da vontade de potência às proposições de Kierkegaard, obtemos uma teoria extremamente coerente, que aprece ser capaz de abarcar todas as nossas sensações, desse modo fazendo com que nos tornemos capazes de mensurar corretamente e alterar os nossos conteúdos que antes nos eram ininteligíveis.
            Com o auxílio da vontade de potência podemos elaborar uma resolução para o motivo da queda, que permanecia misterioso para Kierkegaard, que foi incapaz de arriscar um motivo referente a isso.
            Primeiramente, é preciso que salientemos o quanto as nossas possibilidades nos oprimem, o quanto elas são nocivas e desesperadoras. Em nossa mente, onde os parâmetros são desenvolvidos em um ambiente particular, relativo, e os conceitos são estruturados e definidos sem que esses possuam uma relação exata com a realidade das coisas, costumamos definir nossas possibilidades de forma exagerada. Os cenários exagerados nos influenciam, por mais que existam apenas na nossa mente, esses parâmetros são absurdamente influentes em nossas decisões e estados de espírito.
            Essa característica do nosso intelecto é absurdamente opressiva quando o indivíduo possui múltiplas possibilidades, quando ele possui interpretações variadas e discrepantes entre si.
            É até mesmo engraçado ouvirmos os tão comuns pseudointelectuais falando sobre aumentarmos as nossas possibilidades. Suas interpretações, como sempre, são completamente equivocadas. Sem um espírito vasto, sem conceitos múltiplos, os pseudointelectuais apenas repetem conceitos, sem serem capazes de compreendê-los.
            Aqueles que possuem um espírito vasto, que enxergam as coisas com perspectivas discrepantes entre si, são os únicos capazes de explicar com precisão o efeito que o aumento das possibilidades causa em nós.
            O desespero sufocante e aterrador, é com isso que os seres cheios de espírito devem se acostumar, a princípio.
            Detentores de possibilidades variadas, os seres cheios de espírito permanecem tranquilos, serenos, até que uma de suas possibilidades seja definida como sendo a direção para onde o indivíduo deve seguir. Quando o intelecto do indivíduo começa a se restringir em função de uma possibilidade em particular, todas as outras possibilidades se tornam opressivas, aterrorizando o indivíduo até que esse se sinta desesperado.
            Com a definição de uma das possibilidades, aquilo que imaginávamos que essa possibilidade nos proporcionaria acaba por se perder em meio à realidade, proporcionando-nos resultados muito menores do que aqueles que esperávamos. Ao mesmo tempo que nos frustramos com a nossa decisão, todas as nossas outras possibilidades — que permanecem intactas na nossa mente, ainda apresentando os aspectos mais incríveis e satisfatórios, que só existem nas profundezas do intelecto — nos atormentam sobremaneira, fazendo com que nos sintamos ainda mais frustrados com a decisão que restringe as outras possibilidades, que passaram a ser ainda mais importantes para nós, ainda mais essenciais.
            Funcionando como um ideal opressivo, que torna a realidade insuportável, nossas mais variadas possibilidades fazem com que nos amedrontemos com os aspectos que a realidade passa a nos apresentar.
            A decisão, que anteriormente nos parecia ser tão correta, agora apenas nos oprime, nos aterroriza. Esse aspecto negativo penetra na nossa mente, adquirindo proporções ainda mais desesperadoras. Nosso espírito se torna um cenário completamente desolador, fazendo com que sintamos uma dor profunda, como que se o mundo estivesse desmoronando.
            O desespero impele o indivíduo a abandonar a decisão anteriormente definida, fazendo com que as possibilidades opressivas voltem a se tornar possíveis, dessa forma deixando de causar dor.
            Retornando à condição anterior de ausência de definições, o espírito volta a apresentar um cenário satisfatório, fazendo com que a alma se torne mais potente, mais ampla, característica essa que a aproxima das dimensões do espírito, fazendo com que o indivíduo se sinta satisfeito.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Keeping yourself distracted

          We can see clearly how we get used to work all week, to get our head busy with some tasks, to almost eliminate our reflexive contemplation of things around us and concentrate in specific and simple tasks.
            With this characteristic of our common behavior, we acquire constantly thoughts that have a lack of development, a lack of definition. These uncertain memories remain in our head; they stand hidden and still have a huge power to influence our feelings and actions.
            When we receive a time to rest, a time to be absent of our usual activities, our usual distractions, these memories that have a lack of development come back to us in a monstrous oppressive way, hurting us with the crazy and exaggerated interpretations that our unconscious is skilled doing.
            At the beginning our free time scares us, making us try to find anything that distract us, that make us forget about our oppressive and poorly developed memories.
            This scary characteristic makes a reflexive contemplation a hard state to achieve; it is easier stay afloat on the surface of our lives, it is easier and safer keep our mind distracted with constant tasks that only hide our real life and feelings, conducting us to nowhere.

domingo, 25 de outubro de 2015

Demorei muito, muito mesmo, para finalmente conseguir elaborar isso

              As coisas à nossa volta parecem ser inertes, irrelevantes, não suscitando nada de especial, ou diferente, em nós. No entanto, às vezes nos deparamos com algum elemento que ultrapassa a nossa indiferença e frieza perante as coisas e parece nos atingir violentamente, adquirindo um poder descomunal sobre nós. Esse objeto, que se torna um elemento de suma importância, passa a influenciar diretamente o nosso estado de espírito, o nosso humor. Cada vez que esse elemento se afasta, cada separação forçada, faz-nos sentir uma tristeza profunda, uma redução da potência; assim como cada aproximação do objeto é responsável por uma alegria reconfortante e satisfatória, um aumento da potência.
            Entretanto, o objeto que tanto estimamos apenas pode nos influenciar quando se encontra à distância, quando permanece intocável e inverificável. A partir do momento em que conseguimos entender e perscrutar pormenorizadamente o objeto que tanto estimamos, esse simplesmente é desconstruído, perde-se em meio a uma definição embasada em proporções realistas, que refutam tudo aquilo que havíamos imaginado que aquele objeto poderia nos proporcionar.
            Após a nossa desilusão inicial, vamos percebendo o quanto nossa alma apenas almeja desejar, ser direcionada a algo, sendo a obtenção dessa algo um acontecimento aterrorizante, desesperador. Então, podemos nos considerar como sendo perseguidores de ideais; para ser mais exato, podemos nos considerar como ciclistas, que precisam estar em movimento, em direção a algo, para que não paremos, atitude essa que muito provavelmente nos fará perder o equilíbrio, nos fará cair.
            Mas, mesmo com a nossa necessidade intrínseca de movimento, de ideais, às vezes algumas pessoas obtêm um nível intelectual que não as permitem se desvencilhar da dolorosa constatação de que a vida é totalmente inútil, que nossos ideais são completamente absurdos e nunca nos levam a nada. Nesses casos, de desconstrução intelectual profunda, a vida começa a se assemelhar a um sonho, a um acontecimento distante e sem relação conosco, onde nada mais tem a capacidade de se tornar um ideal, de nos influenciar de forma intensa.
            Incrivelmente apáticos e desiludidos, os seres intelectualmente desenvolvidos passam a desprezar as suas atitudes e esforços, que para eles passam a ser considerados como sendo desnecessários. A vida e todos os seus aspectos passam a ser insuportáveis; o intelecto perde por completo a possibilidade de elaborar objetivos inconscientes, cabendo apenas à analise consciente do indivíduo a tarefa de elaborar e se posicionar perante as coisas; essa característica, a princípio, incomoda sobre maneira, por não mais permitir a construção de qualquer tipo de ideal, de meta, mesmo sendo essas elaborações inconscientes e equivocadas. Cada novo acontecimento apenas entristece, apenas incomoda. No auge do desespero, o ser racional quer, a todo custo, fugir de si mesmo, por não mais se suportar, por não mais suportar as condições que a vida lhe apresenta.
            Esse aspecto raro e perigoso, é o responsável por causar a mais sensível e profunda das mudanças, fazendo com que o indivíduo perca sua capacidade primordial e primitiva de formular sua alma, e adquira uma definição mais refinada e evoluída para os aspectos referentes à sua alma.
            Após essa mudança drástica, o indivíduo se torna capaz de formular sua alma tendo como base parâmetros que não possuem relação direta com o próprio indivíduo e seu corpo. Dotada de uma elaboração que se tornou completamente virtual e desprendida dos aspectos corporais, a alma não mais consegue adotar parâmetros limitados, que tenham relação apenas com o próprio indivíduo.
            Esse ser racional e evoluído, que atingiu essas condições psíquicas, torna-se capaz de amar, torna-se capaz de valorizar algo externo a ele de forma muito mais intensa do que o modo como valoriza a si próprio.
            A capacidade de amar desses seres raros faz com que eles obtenham uma condição parcialmente exata da maneira como as coisas devem ser. Esse cenário de admiração profunda por algo restringe as múltiplas possibilidades que constantemente estão competindo para influenciar nossas ações, nosso jeito de ser e de nos portarmos perante as coisas. Essa característica permite que esses indivíduos se sintam completamente seguros de si e de suas ideias e atitudes.
            Durante essa paixão profunda dos seres evoluídos, a ausência de múltiplas possibilidades torna as ações muito mais potentes, precisas; torna a vida mais bem direcionada, mais precisa, mais fácil. A mente não mais se depara com parâmetros múltiplos a serem desenvolvidos, analisados e ponderados, aspecto esse que proporciona uma maior capacidade de concentração e uma calma profunda à mente.
            Entretanto, o ser de raciocínio evoluído acaba por desconstruir o objeto que tanto o encantou, que lhe direcionou e que proporcionou tanta satisfação. Ainda possuindo sua estrutura apaixonada e bem direcionada, o indivíduo raro vai desconstruindo o objeto amado. Em sua mente bem direcionada e que não mais possui parâmetros múltiplos e concorrentes, que incitam avaliações e proposições imensuráveis, a desconstrução permite que o indivíduo se depare com o nirvana, com a ausência da alma.
            A sensação de êxtase absoluto, de satisfação absoluta, do fim da vontade, da potência máxima, nunca dura muito tempo. A mente se propõe, de imediato, nesses casos, a reconstruir a alma, a posicionar-se perante o espírito.
            O retorno dessa experiência rara é sempre transformador. Após conhecer a necessidade mais profunda e primordial do intelecto, da nossa existência, o indivíduo adquiri uma informação que irá fazer com que ele altere, por completo, a forma de analisar e de se posicionar perante as coisas.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Escritos experimentais 4

              Eu nunca conseguia manter contato por muito tempo com esses que caracterizei como sendo meus verdadeiros professores. Todos eles acabavam por adquirir algum vício – sendo esse vício tanto químico quanto comportamental, nos dois casos os verdadeiros problemas eram simplesmente ignorados, abandonados, para que em seu lugar surgisse uma condição superficial e aceitável de existência -, ou se suicidavam, ou eram diagnosticados como possuindo os mais variados problemas, que lhes rendiam receitas médicas intermináveis, fazendo com que os remédios os tornassem zumbis, fazendo com que as questões complexas e os sentimentos avassaladores fossem abandonados de imediato. Logo após um breve período, todos eles perdiam por completo suas características profundas, lindas e incomuns, restando apenas o rosto apagado daquilo que um dia foi um verdadeiro ser humano. Sempre que encontrava essas pessoas raras e passageiras, tentava absorver o máximo de conhecimento possível, tentava me aproximar delas da forma mais abrangente e sincera, desvendando tudo o que tinha para ser descoberto, de forma acelerada e ininterrupta, pois meu tempo com esses seres raros era sempre limitado, escasso, nunca demorava muito para que eles se perdessem por completo.
            Percebendo a fragilidade da nossa mente, não mais repudiei os intelectuais universitários em demasia. Percebi o quanto é perigosa a verdade, o quão facilmente ela pode destruir uma pessoa, mesmo sendo essa pessoa a mais forte de todas. Por um momento eu valorizei a moral, artifício esse que permitia os homens se manterem na superfície do intelecto, sem se arriscarem em demasia. No entanto, por mais que sentisse medo de mergulhar no intelecto, não conseguia suportar os conceitos morais e as teorias que tinham muito pouca relação com a realidade; não consegui suportar os universitários fazendo discursos sobre o certo e o errado, sem qualquer tipo de sentimento ou relação profunda, como se esses conceitos fossem a mesma coisa, nada além do que regras sem relação nenhuma com a existência. Por mais que eu sentisse medo, decidi não possuir uma existência falsa e superficial; a busca pela verdade passou a ser meu objetivo mais profundo.

            Em meio à minha mais recente resolução, às vezes me perguntava: quanto de verdade serei eu capaz de encarar sem que me destrua, assim como um de meus verdadeiros professores?

domingo, 18 de outubro de 2015

Escritos experimentais 3

             Após vários livros, tornei-me incapaz de me imaginar antes de absorver todo aquele conhecimento, não mais conseguia me enxergar como não possuindo um pensamento refinado e uma constituição conceitual múltipla. Infelizmente, meu conhecimento fez com que me tornasse ainda mais discrepante, ainda mais incomum, ainda mais nocivo às ilusões que todos nutriam; como um Sócrates contemporâneo, eu saía por aí, sem rumo, enxergando em demasia e destruindo qualquer ideal que as pessoas tentavam impor a mim.
            Não demorou muito para que as conversas das pessoas à minha volta se tornassem insuportáveis para mim. Sentindo que ninguém tinha nada de relevante a dizer, tornei-me recluso, isolando-me em mim mesmo; tranquei-me em minha mente e decidi aprofundar ainda mais meus conhecimentos sobre a psique.
            Descobri que a interpretação que eu fazia do ambiente à minha volta era classificada como sendo o espírito. Possuindo uma definição mais precisa para um dos assuntos que tanto me interessavam, comecei a aprofundar ainda mais meus conhecimentos sobre o espírito, tomando como referência minhas próprias experiências e alguns livros. Desde o princípio percebi que a tarefa à qual me propunha seria extremamente complexa e perigosa. Em contraposição àqueles que se autointitulavam pesquisadores da psique, eu realmente analisava e sentia as informações e parâmetros aos quais me empenhava para desvendar e compreender. Os poucos leitores e professores que conheci fizeram com que eu passasse a desprezar o conhecimento adquirido em universidades, em instituições de ensino. Para mim, todos os pseudointelectuais, que frequentavam e estimavam as instituições de ensino que tanto me enojavam, careciam de um espírito amplo e múltiplo, assim como careciam de imaginação e conceitos próprios. Passei a considerar os universitários como sendo pessoas que possuíam espíritos duros, inflexíveis; como possuindo uma alma exata e única, cheia de mecanismos de proteção; como sendo quase que completamente inconscientes e incapazes de realmente enxergar algo; por fim, considerava-os nada além do que exímios repetidores de conceitos, sem nunca terem a capacidade de realmente verificarem aquilo que falavam com tanta convicção. Infelizmente, por mais que eu tentasse, nunca consegui refutar essas minhas impressões. Essas características fizeram com que eu me tornasse um explorador solitário, por mais que eu não desejasse isso.
            Às vezes, eu me deparava com pessoas que realmente possuíam algum aspecto interessante, que realmente poderia me ajudar em minhas investigações. Infelizmente, todas essas pessoas realmente interessantes, que lidavam com emoções avassaladoras e conceitos complexos, eram miseráveis, assustadoramente miseráveis e destruídas pelas profundezas do intelecto.

CONT....

sábado, 17 de outubro de 2015

Escritos experimentais 2

          Desde muito cedo eu enxergava as coisas dessa forma, e desde muito cedo eu ficava impressionado com as resoluções exatas, as interpretações precisas das pessoas, que encaravam a realidade como sendo exatamente aquilo que elas pensavam ser. E, retornando à falta de pertencimento que passei a sentir quando me encontrava junto à minha família, sentia-me sempre impressionado em meu ambiente familiar, que possuía respostas exatas e imutáveis para todos os questionamentos, característica essa que me fez sentir, ainda mais, como se eu fosse um estrangeiro.
            Com o tempo minha discrepância passou a incomodar todas as pessoas com as quais eu convivia. Minha pluralidade e a falta de parâmetros específicos era nociva para todos aqueles que cultivavam, desde sempre, um ideal, uma meta, que os iludia e tornava a existência suportável. Para todos os iludidos eu representava a pior das ameaças; meu jeito os fazia questionarem seus ideais mais profundos e entorpecedores. Quando eles sentiam seus serem refutados, quando eles viam suas proposições absurdas e irreais se perdendo e não mais sendo capazes de esconder o vazio doloroso, eles se voltavam contra aquele que incitou esses acontecimentos deploráveis; dessa forma todos eles se voltavam contra mim, todos eles queriam rebaixar e desmerecer as minhas opiniões, a minha personalidade, a minha forma de enxergar as coisas. Todos almejavam me rebaixar, para que minhas opiniões fossem consideradas absurdas e provenientes de alguém sem razão, sem coerência, dessa maneira sendo eles capazes de afugentar e ignorar aquilo que ameaçava seus ideais.
            Toda a hostilidade que havia contra mim, às vezes me fazia questionar minha maneira incomum de ser; no entanto, eu nunca conseguia me submeter aos conceitos daqueles que tanto me odiavam. Por mais que eu me concentrasse para elaborar análises pormenorizadas e extensas, sempre me sentia incapaz de encontrar um raciocínio lógico irrefutável nos parâmetros tão essenciais e inquestionáveis das pessoas à minha volta.
            Cada vez mais isolado, cada vez mais discrepante, cada vez mais desprezado por todos, eu comecei a achar que possuía uma constituição que me diferenciava de todas as outras pessoas, e, por ser incapaz de encontrar alguém com quem me sentisse seguro para me relacionar, alguém que se parecesse comigo, que provavelmente me entenderia, tornei-me ainda mais reservado e recluso.
            Sem nunca conseguir concordar com nada que me era apresentado, e vivendo completamente isolado de tudo e de todos, tomei a decisão de tentar intensificar minhas buscas para encontrar alguém que se parecesse comigo. Direcionei essa minha empreitada rumo aos livros, rumo às constituições raríssimas, que talvez poderiam me fazer companhia. Como eu não concordava com nada, entrei em um site de busca e iniciei minha procura por pessoas com as quais eu poderia me identificar com a seguinte frase: Autores que não concordam com nada. Minha busca teve como resultado um autor com quem eu passei a me identificar de modo incomum, sendo ele o filósofo Friedrich Nietzsche.
            O primeiro livro dele que li foi: Para além do bem e do mal. Fiquei fascinado com o livro, desde a primeira página. Meu senso crítico apurado, finalmente, encontrou algo incapaz de ser profundamente desprezado, assim como a minha busca incessante por uma família, que percebi nunca ter possuído, finalmente foi recompensada, finalmente eu havia encontrado algo com o que poderia me relacionar.
            Meu novo amigo passou a me acompanhar em todos os lugares; sempre quando possível eu tentava ler alguma passagem de seus livros geniais. Muitas vezes eu permanecia imóvel, em algum canto da minha casa, pensando sobre as mais variadas informações contidas nos livros, tentando, de uma forma exaustiva, aprimorar, o máximo possível, o jeito como eu pensava, enxergava e classificava as coisas.
            As proposições com as quais me identifiquei nos livros de Nietzsche foram suas críticas ao cristianismo, sua crítica à moral – à definição inquestionável, dogmática, daquilo que seria o bem e o mal – e por último, mas não menos importante, fiquei fascinado com a definição do autor daquilo que seria o nosso impulso mais profundo e essencial, sendo ele a vontade de potência. Essas foram apenas algumas das ideias que mais me agradaram, mais me impressionaram, pois tudo em seus livros era mágico, transformador.
            Tenho de admitir que muitas críticas contidas em seus livros me passavam despercebidas, por causa da minha falta de conhecimento daqueles que eram criticados. Mesmo com a minha falta de erudição, não me desvencilhava da tarefa de entender tudo o que os seus livros propunham. Constantemente me via em meio a pesquisas intermináveis sobre Immanuel Kant e Arthur Schopenhauer, filósofos que me vi obrigado a conhecer, por serem constantemente citados nos livros.

CONT....

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Escritos experimentais

           Antigamente, eu não era capaz de desconstruir minhas impressões e objetivos inconscientes. Naquela época eu ainda não possuía a profundidade de pensamento que possuo atualmente, assim como não possuía conhecimento suficiente para que me tornasse vitorioso, em minha empreitada corajosa, em busca da obtenção do controle absoluto dos meus pensamentos.
            Desde pequeno eu possuía pensamentos incomuns. Minha primeira lembrança ocorreu quando eu tinha apenas 3 anos, e, junto com ela, vi-me inundado por reflexões complexas. Em minha primeira lembrança eu estou perdido em uma praia, andando desesperado, procurando pela minha família que deveria se encontrar em algum lugar por ali. Cada novo grupo de pessoas que encontro, e que verifico não ser a minha família, faz com que meu desespero aumente; no entanto, em meio a essa procura intensa, eu paro por um instante; percebendo a minha falta de parâmetros para descrever aquilo que seriam meus parentes; eu me concentro para ser capaz de definir, com precisão, aquilo que procuro, para estabelecer, com exatidão, o lugar onde pertenço. Essa tarefa de classificação não dura mais do que um breve período; sem obter sucesso, eu me senti ainda mais desesperado, percebendo que não possuía qualquer tipo de parâmetro que definisse o lugar onde eu deveria estar, as pessoas com quem eu deveria estar. Esta constatação agravou ainda mais, ainda mais, a minha condição já delicada, fazendo com que as lágrimas começassem a deslizar, de maneira ininterrupta, pelo meu rosto. O cenário que se formava em minha mente era o mais desesperador, o mais absurdamente assustador e obscuro.
            No auge do meu desespero, o mundo à minha volta começou a apresentar aspectos incomuns, que se distanciavam da realidade com a qual eu sempre estive acostumado. Em meio a minhas vertigens, provenientes de um medo incomum, que se alastrou rapidamente pela minha mente, fazendo com tudo à minha volta apresentasse proporções exageradas e irreais, fiquei petrificado perante o cenário que era construído pela minha mente, sendo ele muito aquém de qualquer possibilidade real, muito aquém de qualquer tipo de controle que poderia ser exercido por mim.
            Não aguentando mais o desespero, eu me dirigi até uma família que me pareceu ser receptiva. Ao chegar, eu mal conseguia pronunciar qualquer tipo de sentença coerente. Felizmente, eles logo perceberam a minha situação e me levaram até um quiosque, onde fui anunciado por dois cantores que estavam tocando lá. Uma de minhas tias se encontrava nas proximidades do quiosque e me reconheceu. Ela agradeceu à família que havia me encontrado e me levou de volta ao lugar onde eu deveria estar, onde eu pertencia. Entretanto, eu não senti aquilo que esperava sentir, mas muito pelo contrário, eu me senti ainda mais confuso.
            Meus momentos desesperadores, enquanto eu estava perdido na praia, fizeram com que eu pesasse a refletir mais pormenorizadamente sobre o local onde eu pertencia. Ainda mantendo essa minha forma recém adquirida de analisar, olhei para as pessoas à minha volta, para o lugar onde eu deveria pertencer, e, por mais que eu me esforçasse, não consegui encontrar nenhuma característica que me fizesse sentir pertencente àquele lugar.
            Essa minha primeira lembrança é um cenário que sempre esteve presente em minha vida; sempre que tento descrever essa experiência a narro como se ela se encontrasse no presente, pois é dessa forma que a memória funciona. Quando nos lembramos de algo, fazemos com que ele se torne real novamente, fazemos com que ele se torne o nosso presente, e foi desse modo que enxerguei o acontecimento na praia enquanto o narrava. Novamente me vi percorrendo aquele local aterrorizante, que mudou minha vida para sempre. Como naquela época minha percepção ainda era diminuta, o cenário onde essa situação ocorreu é escasso em minha mente, carecendo de referências e de aspectos mais abrangentes, que eu me policio sobre maneira para não reconstruir, tendo como objetivo, com essa não construção, a conservação das características do acontecimento original, sem contaminá-lo com interpretações e conhecimentos posteriores, que poderiam deturpar a minha experiência original.
           Essas lembranças, que são frequentes, me mostram o quanto nossas interpretações e o mundo, que serve como base para a elaboração dessas concepções, são discrepantes, fazendo com que aquilo que enxergamos seja extremamente relativo, virtual. Desde pequeno, após analisar algumas das minhas memórias, eu percebia que havia a realidade, algumas características percebidas por nós - em meio à infinidade de aspectos que possui a realidade – e o mundo virtual que nossa mente criava para definir a realidade, tomando como base os poucos aspectos percebidos por nós. Junto com essas interpretações eu percebia o quanto nossas impressões sobre as coisas eram mutáveis, bastando apenas uma pequena mudança de perspectiva para que criemos um cenário, uma interpretação da realidade, completamente diferente daquilo com o que estávamos acostumados a enxergar.
                         CONT....

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Ninguém, ou, melhor dizendo, todos

          Todas as pessoas que me conhecem tentam definir quem sou eu, meus desejos, meus medos, meu jeito de ser, minha personalidade. Quando os vejo em meio a esse exercício constante, e infrutífero, finjo não perceber seus esforços inúteis em busca do entendimento de algo tão misterioso, complexo e múltiplo. Infelizmente, sinto que seus esforços serão para sempre improdutivos; primeiramente, eles cometem um grave erro em relação à pergunta inicial, sendo que o questionamento mais apropriado e eficiente serio o seguinte: quem eu não sou?

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Ambivalência

Minha mente pensa com lógica,
Mas o coração dispensa a razão.
Respiração acelera,
Mas o olhar muda de direção.
Arrepio que se espalha,
Vontade que assusta;
Querer
E não querer,
Medo de se entregar,
Alegria em te ver.
É difícil entender.

Sem qualidades

Vazio, cheio de oportunidades.
Um homem de possibilidades
Com realidades à distância da própria vontade.

Sempre relativo e evolutivo
Nunca parado e seguindo,
Ou copiando e se escondendo,
Mas sim acordado e vivendo.

Enxergando simplesmente como a vida é,
Destituído de ilusões,
Com um sentimento puro e verdadeiro de existência.
Esse mero acaso,
Sem porquê ou pra quê;
Sem o que devo ser,

Mas alguns insistem em não enxergar,
Encolhendo, apagando o que é bonito,
Limitando o que era vasto,
Restringindo esse infinito.

Apesar de alguns isso perceber,
Medíocres continuam a ser.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Vazio

            Desde cedo eu me esforcei muito para não aprender nada, para não ser influenciado por nada, para que, finalmente, eu me tornasse capaz de aprender qualquer coisa, de desejar qualquer coisa.

Enxergando como um ser social

            O pai comprimia, com o pé, o rabo de um pequeno rato, que se debatia desesperadamente, pressentindo a iminência de sua morte. Próximo ao rato, um garoto, de idade em torno de 11 anos, permanecia imóvel e assustado, observando apreensivo à cena.
            O ambiente onde ocorria esse acontecimento havia se tornado desimportante, encontrando-se praticamente ausente, restando, como referência, apenas os pisos brancos, que pareciam ser de uma cozinha; esse único detalhe perceptível apenas era possível por causa do rato, que, de cor cinza escuro, se tornava ainda mais evidente, quando se debatia sobre o piso branco.
            Ignorando o olhar assustado do garoto, o pai se inclinou até ele e o aproximou ainda mais do rato.
            — Olhe para mim, olhe para mim — disse com um tom de voz autoritário — Hoje irei lhe ensinar uma valiosa lição. É preciso que se concentre; que deixe fluir sua imaginação, que, por sinal, é formidável, e capaz de construir cenários e personalidades complexas; e faça tudo o que eu disser. Tudo bem?
            Ainda assustado, o filho foi incapaz de responder, olhando aterrorizado para o pai, tentando pronunciar as palavras que insistiam em permanecer ocultas.
            — Não tenha medo, meu filho. Essa lição é de suma importância, e será muito útil em sua vida, isso eu posso lhe garantir.
            O garoto se sentiu mais confiante com as palavras obstinadas do pai, fazendo com que consentisse, com a cabeça, gesto esse que agradou o pai, que prosseguiu com a experiência que estava disposto a proporcionar ao filho.
            — Agora feche os olhos. Imagine-se como um ser único no mundo, todo o resto, externo a ti, é inanimado, uma ilusão. O mundo existe em função apenas de ti, e nada mais; você é o único ser de verdade nesse mundo, sem você nada disso existiria, tudo ocorre em função de você, é referente a você. Nada além de ti tem sentimentos, ou uma personalidade, ou objetivos, medos, etc.; tudo o que existe está presente apenas em função de você, o mundo não existiria se não fosse por sua causa — disse o pai com sua voz convicta, sem hesitação — Consegue se imaginar como sendo um ser desses?
            O garoto consentiu com a cabeça. O par, então, continuou a falar.
            — Abra os olhos, filho. Agora lhe peço que continue a imaginar que você é uma pessoa desse tipo. Quero que você permita que que essa possibilidade de ser se aproprie de ti, sem restrições, passando a direcionar seus pensamentos e coordenar seus atos. Quero que você estruture seus conceitos de acordo com essas características que citei para você.
            Os dois permaneceram em silêncio por um breve momento. A expressão do filho, anteriormente assustada, havia se transmutado por completo; agora ele possuía uma feição imponente, convicta, que não mais demonstrava toda a sua insegurança anterior, o medo de alguns momentos antes. Seu olhar anteriormente passivo e analítico, agora era tomado por um direcionamento convicto, inabalável, que demonstrava a presença de uma interpretação específica para as coisas, que era aplicada independentemente daquilo que era observado, aquilo que se apresentava, externamente.
            — Meu filho — disse o pai se ajoelhando, ainda mantendo o rato preso pelo rabo, e se aproximando ainda mais do filho — Eu lhe forneci informações que agora lhe permitem enxergar o mundo da maneira que a maioria das pessoas, e dos animais, o vê. Eu fiz isso não para que você adquira uma perspectiva igual a essa, mas muito pelo contrário. Nós somos seres evoluídos, situando-nos em um patamar onde não existe qualquer tipo de mesquinharia, ou parâmetros primitivos e animalescos. No entanto, não quero ser eu o responsável por criar um bobo, que, por causa da inexistência de aspectos egoístas em sua mente, não consegue enxergar as ações mesquinhas, egoístas e abjetas das pessoas; é preciso que você consiga produzir, em seu espírito, não só a bondade, mas também a perversidade, a fim de você seja capaz de identificá-la nas pessoas com quem você irá se relacionar ao longo de sua vida; afinal, nós apenas identificamos aquilo que esteja, de algum modo, presente dentro de nós.
            O filho absorveu cada palavra daquele discurso, alojando-as em sua mente, de forma abrangente e profunda. O pai, quando percebeu a rápida assimilação daquilo que ensinava ao garoto, sorriu satisfeito, e continuou com a lição que pretendia ensinar ao filho.
            — Ainda mantendo essa personalidade recém-criada, esmague esse rato, sem dó. Ele não é nada, só você existe.

            O garoto direcionou um olhar indiferente ao rato, ergueu o máximo que pôde sua perna direita e pisou, violentamente, no rato, três vezes.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Definindo as sensações

            Reservo um breve momento do dia de hoje para transmitir alguns de meus pensamentos para o papel, para dar forma às minhas percepções, para transferi-los, para expressá-los, desse modo tirando-os das profundezas obscuras e desconhecidas da minha mente, onde tudo é exagerado e intenso, e os desenvolvendo em um ambiente racional, palpável, que me permite fornecer uma dimensão real — ou, pelo menos, que se aproxime da realidade — para tudo aquilo que percebo e que sinto.
            Todas as minhas numerosas impressões, que percorrem minha mente com um ritmo alucinado, são desenvolvidas quase que inteiramente através de pensamentos irracionais, que estabelecem conexões absurdas, exageradas e muito, mas muito mesmo, aquém da realidade. Tendo como base esses pensamentos irreais, que me acompanham desde sempre, sinto, quase que constantemente, uma vontade impulsiva de falar sobre os aspectos que me amedrontam, que entorpecem minha mente e deixam meu corpo em estado de alerta, fazendo jorrar o medo mais assustador, por todos os meus órgãos. Essa necessidade descontrolada de falar, está relacionada com a vontade de estabelecer uma perspectiva mais realista para tudo aquilo que sinto, dessa maneira estabelecendo uma interpretação mais condizente com o verdadeiro aspecto das coisas, fazendo com que todas as minhas interpretações errôneas sejam reestruturadas, fazendo com que o pensamento racional altere todos os pensamentos incrivelmente absurdos, que minha mente sempre se mostrou exímia em criar.
            Entretanto, é muito raro encontrarmos alguém com quem possamos conversar sobre nossos pensamentos mais profundos, é incrivelmente raro encontrarmos pessoas que são de confiança e que nos permitirão expressar tudo aquilo que se passa na nossa mente.
            Tendo em vista essa impossibilidade de comunicação, esforço-me para encontrar outras formas de racionalização de minhas impressões, sendo elas solitárias e não dependendo da presença de outrem. Após algumas tentativas infrutíferas, finalmente fui capaz de encontrar a forma de racionalização que melhor me permite relacionar e externalizar minhas impressões; essa atividade, que se tornou de suma importância para mim, é a escrita.
            Almejando estabelecer uma interpretação coerente e racional para os meus desenvolvimentos inconscientes, fico, pelo menos uma hora por dia, escrevendo sobre minhas experiências, fico corrigindo minhas interpretações e tornando-as mais reais, mais condizentes com a realidade.

            Essa tarefa constante, e extremamente satisfatória, proporciona satisfações que antes me eram inimagináveis. Ultimamente, posso dizer que meu espírito se aproximou, e muito, da realidade das coisas, equiparando-se a fenômenos e situações que observo, dessa forma fazendo com que eu possua uma intuição muito realista, permitindo-me utilizar meu intelecto como uma oficina, como um laboratório, onde analiso as mais variadas perspectivas, desenvolvendo-as em todos os seus aspectos, característica essa que acelera minha definição de conceitos, que potencializa minhas experiências, e me  permite possuir uma imaginação empírica, bem próxima da realidade, onde posso analisar qualquer parâmetro, ou aspecto, da minha vida.

Angústia desnecessária

            À cada novo trabalho sinto-me, em parte, receoso, preocupado. Esse sentimento parece surgir em função da possibilidade de me encontrar perante um cenário que irá me reduzir, que irá me fazer sentir impotente, diminuto. Por causa dessa minha linha de pensamento, busco não estender meus escritos em demasia, o que me permite evitar deparar-me com um cenário que me fará sentir impotente; o mesmo ocorre durante minhas leituras, não as estendo por medo de me deparar com situações que sou incapaz de entender de imediato.
            Percebendo esse meu receio profundo, tentei analisá-lo mais pormenorizadamente, almejando observá-lo em outras situações da minha vida. Após uma longa análise, percebi que esse receio é uma característica intrínseca em mim, presente em todas as situações da minha vida.

            Esse medo de reduzir-se, essa impotência relacionada a novas atividades, que exigem um novo arranjo de nossas concepções e que, a princípio, nos fazem sentirmo-nos reduzidos e deslocados, talvez seja a principal característica que nos faz evitar o novo, que nos desestimula a empenharmo-nos profundamente a uma tarefa.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Um ambiente complexo exige um ser complexo

          
                 Minhas análises são complexas, abrangentes e ininterruptas; desde sempre me esforcei para fortalecer o meu espírito, e hoje posso considerá-lo forte, imponente, inabalável, incansável.
            Em cada nova tarefa, em cada novo ambiente ou situação, que exigem uma construção conceitual quase que completa, não me sinto cansado, aterrorizado, ou impotente, acuado, com minha alma se tornando diminuta e insegura, a ponto de introduzir em minha mente o desespero profundo e insuportável, que abastecia meu corpo com uma energia proveniente das profundezas do intelecto, e que era direcionada, com violência, a uma tarefa que prometia, ao menos em minha mente, expandir minha alma, até que essa atingisse as dimensões do espírito, dessa forma sanando meu desejo primordial. Essas características, antes tão comuns, tornaram-se parâmetros longínquos, que não mais estão presentes em minha vida, em minhas atitudes.
            Diferenciando-me, por completo, daquele indivíduo que eu era há, o que passou a ser, muito tempo atrás, hoje me sinto completamente separado de uma concepção individual primitiva, anteriormente primordial e inquestionável, que impunha concepções pré-determinadas à minha alma. Sem um direcionamento fisiológico e limitado, sinto-me capaz de estruturar qualquer tipo de arranjo da alma, tornando-a maleável e independente de aspectos físicos, e direcionados estritamente às minhas particularidades, sem levar em consideração parâmetros exteriores a mim.
            Desde que adquiri esse arranjo psíquico, que considero evoluído, tornei-me capaz de sentir aquilo que muitos classificam como sendo o nirvana, a realização do desejo primordial do intelecto. Quando um arranjo de alma não mais me é necessário, eu simplesmente o abandono, deleto, e, por um curtíssimo período de tempo, sinto a satisfação mais sublime, mais perfeita; possuindo a máxima potência possível, sinto-me ocupando toda a dimensão do espírito, sinto-me pleno, em êxtase. Mas esse acontecimento dura muito pouco, logo minha mente estrutura um novo arranjo de alma e me vejo apartado da satisfação mais sublime.
            Durante o retorno do nirvana, o ambiente, no qual estou inserido, e que foi percebido por mim sem filtros, sem deslocamentos, em toda sua intensidade exacerbada, vai sendo reconstruído, e, às vezes, adquiri uma interpretação completamente diferente daquela que anteriormente direcionava e ocupava a minha mente.
            Tendo consciência desse arranjo abrangente, empenho-me, muito raramente, em sentir o nirvana, pois, na maior parte do tempo, encontro-me atarefado, preocupado em estruturar uma alma e um espírito que melhor me situem em meio ao ambiente e aos meus objetivos, tarefa essa que exige uma construção contínua, acumulativa, tornando-a, desse modo, uma estrutura que eu não gostaria de abandonar tão facilmente, ou, melhor dizendo, desnecessariamente.
            Após a elaboração e a implementação de todos esses conceitos, que considero incrivelmente condizentes com tudo aquilo que percebo, que sinto, considero-me detentor de habilidades e de conhecimentos raros, que me permitem tornar-me mais eficiente e abrangente, fazendo com que o cenário complexo e múltiplo da existência, que se aproxima da realidade, não mais seja penoso para mim.