segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Escritos experimentais 4

              Eu nunca conseguia manter contato por muito tempo com esses que caracterizei como sendo meus verdadeiros professores. Todos eles acabavam por adquirir algum vício – sendo esse vício tanto químico quanto comportamental, nos dois casos os verdadeiros problemas eram simplesmente ignorados, abandonados, para que em seu lugar surgisse uma condição superficial e aceitável de existência -, ou se suicidavam, ou eram diagnosticados como possuindo os mais variados problemas, que lhes rendiam receitas médicas intermináveis, fazendo com que os remédios os tornassem zumbis, fazendo com que as questões complexas e os sentimentos avassaladores fossem abandonados de imediato. Logo após um breve período, todos eles perdiam por completo suas características profundas, lindas e incomuns, restando apenas o rosto apagado daquilo que um dia foi um verdadeiro ser humano. Sempre que encontrava essas pessoas raras e passageiras, tentava absorver o máximo de conhecimento possível, tentava me aproximar delas da forma mais abrangente e sincera, desvendando tudo o que tinha para ser descoberto, de forma acelerada e ininterrupta, pois meu tempo com esses seres raros era sempre limitado, escasso, nunca demorava muito para que eles se perdessem por completo.
            Percebendo a fragilidade da nossa mente, não mais repudiei os intelectuais universitários em demasia. Percebi o quanto é perigosa a verdade, o quão facilmente ela pode destruir uma pessoa, mesmo sendo essa pessoa a mais forte de todas. Por um momento eu valorizei a moral, artifício esse que permitia os homens se manterem na superfície do intelecto, sem se arriscarem em demasia. No entanto, por mais que sentisse medo de mergulhar no intelecto, não conseguia suportar os conceitos morais e as teorias que tinham muito pouca relação com a realidade; não consegui suportar os universitários fazendo discursos sobre o certo e o errado, sem qualquer tipo de sentimento ou relação profunda, como se esses conceitos fossem a mesma coisa, nada além do que regras sem relação nenhuma com a existência. Por mais que eu sentisse medo, decidi não possuir uma existência falsa e superficial; a busca pela verdade passou a ser meu objetivo mais profundo.

            Em meio à minha mais recente resolução, às vezes me perguntava: quanto de verdade serei eu capaz de encarar sem que me destrua, assim como um de meus verdadeiros professores?

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