domingo, 18 de outubro de 2015

Escritos experimentais 3

             Após vários livros, tornei-me incapaz de me imaginar antes de absorver todo aquele conhecimento, não mais conseguia me enxergar como não possuindo um pensamento refinado e uma constituição conceitual múltipla. Infelizmente, meu conhecimento fez com que me tornasse ainda mais discrepante, ainda mais incomum, ainda mais nocivo às ilusões que todos nutriam; como um Sócrates contemporâneo, eu saía por aí, sem rumo, enxergando em demasia e destruindo qualquer ideal que as pessoas tentavam impor a mim.
            Não demorou muito para que as conversas das pessoas à minha volta se tornassem insuportáveis para mim. Sentindo que ninguém tinha nada de relevante a dizer, tornei-me recluso, isolando-me em mim mesmo; tranquei-me em minha mente e decidi aprofundar ainda mais meus conhecimentos sobre a psique.
            Descobri que a interpretação que eu fazia do ambiente à minha volta era classificada como sendo o espírito. Possuindo uma definição mais precisa para um dos assuntos que tanto me interessavam, comecei a aprofundar ainda mais meus conhecimentos sobre o espírito, tomando como referência minhas próprias experiências e alguns livros. Desde o princípio percebi que a tarefa à qual me propunha seria extremamente complexa e perigosa. Em contraposição àqueles que se autointitulavam pesquisadores da psique, eu realmente analisava e sentia as informações e parâmetros aos quais me empenhava para desvendar e compreender. Os poucos leitores e professores que conheci fizeram com que eu passasse a desprezar o conhecimento adquirido em universidades, em instituições de ensino. Para mim, todos os pseudointelectuais, que frequentavam e estimavam as instituições de ensino que tanto me enojavam, careciam de um espírito amplo e múltiplo, assim como careciam de imaginação e conceitos próprios. Passei a considerar os universitários como sendo pessoas que possuíam espíritos duros, inflexíveis; como possuindo uma alma exata e única, cheia de mecanismos de proteção; como sendo quase que completamente inconscientes e incapazes de realmente enxergar algo; por fim, considerava-os nada além do que exímios repetidores de conceitos, sem nunca terem a capacidade de realmente verificarem aquilo que falavam com tanta convicção. Infelizmente, por mais que eu tentasse, nunca consegui refutar essas minhas impressões. Essas características fizeram com que eu me tornasse um explorador solitário, por mais que eu não desejasse isso.
            Às vezes, eu me deparava com pessoas que realmente possuíam algum aspecto interessante, que realmente poderia me ajudar em minhas investigações. Infelizmente, todas essas pessoas realmente interessantes, que lidavam com emoções avassaladoras e conceitos complexos, eram miseráveis, assustadoramente miseráveis e destruídas pelas profundezas do intelecto.

CONT....

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