Ela
direcionou o seu olhar vazio na direção do homem que parecia estar se sentindo
entediado. Rodeada por pessoas que se esforçavam muito para manterem semblantes
alegres e simpáticos, ela ficou espantada quando viu aquela expressão que demonstrava
tédio, que não se preocupava com o que pensariam as pessoas à sua volta, que
não se esforçava para simular qualquer tipo de expressão facial que
demonstrasse satisfação, interesse.
Sem
conseguir deixar de prestar atenção nele, ela se ausentou das conversas dos
seus amigos e se concentrou para ser capaz de observar todos os gestos daquele
homem indiferente, com o intuito de entende-lo, de decifrá-lo.
Mesmo
se desvencilhando de qualquer coisa à sua volta que pudesse distraí-la de sua
empreitada, ela não foi capaz de deduzir nada sobre o homem que ela observava.
Os inúteis quinze minutos de observação — tempo esse que passou rápido e
apenas deixou a impressão de um breve momento — só serviram para deixá-la
ainda mais curiosa, mais apreensiva, ansiosa para descobrir a mentalidade
daquele homem entediado e de olhar vazio. Mesmo se sentindo hipnotizada pelos
gestos intensos e despreocupados dele, ela se esforçou para abandonar aquela
observação intensa e se concentrou em tentar encontrar uma forma de falar com
aquele homem, de tentar ter uma interação mais eficiente com ele, que a
permitiria entendê-lo.
Naquele
momento, enquanto tentava imaginar a melhor possibilidade que a permitiria
falar com ele, ela percebeu um princípio de construção de um ideal,
característica essa que ela tanto repugnava e que se esforçava para ser capaz
de controlar. Sentindo sua mente começar a criar perspectivas exageradas, ela
se esforçou ainda mais para elaborar uma maneira de conversar com aquele homem e
eliminar, já no início, aquela construção exagerada, que, inconscientemente, a
mente dela sempre fazia.
Após
alguns pensamentos improdutivos, ela viu o homem se levantar e ir em direção ao
banheiro. Sentindo-se incapaz de formular algo mais elaborado, ela decidiu
iniciar uma conversa quando o homem saísse do banheiro. Com o intuito de
realizar aquilo à que ela havia se propôs, direcionou seu olhar para a saída do
banheiro masculino, enquanto se ajeitava de acordo com a melhor maneira de se
levantar rapidamente e sair de onde estava, para conseguir conversar com aquele
que ela já começava a valorizar exageradamente, antes que ele chegasse até a
mesa onde estava sentado.
Enquanto
olhava ansiosamente para a porta do banheiro, ela não conseguia evitar olhar
constantemente para o relógio, para ter uma noção de quanto tempo fazia que
aquele homem havia entrado, o que a permitiria possuir um parâmetro com o qual
poderia fazer uma estimativa, um tanto imprecisa, do momento em que ele iria
sair. Olhando para a porta do banheiro e em seguida para o relógio, em um ritmo
quase cíclico, ela teve a sensação de que a hora não passava; os dois minutos
que haviam se passado, desde que o homem havia entrado no banheiro, pareciam
ter demorado uma eternidade. Ela teve a impressão de que o tempo havia parado,
impressão essa que era muito diferente a alguns momentos antes, quando estava distraída, observando atentamente um indivíduo específico, atitude essa que a desvencilhou
do turbilhão de informações e impressões contidas no ambiente à sua volta; após essa
constatação inicial, ela teve um insight poderoso; nele ela foi capaz de
identificar o porquê de o tempo ser tão relativo em nosso dia-a-dia. “Em alguns
momentos ele passa devagar, em outros ele voa, e todas essas nossas impressões
sobre o tempo não passam de situações onde estamos muito distraídos com algo, a
ponto de diminuirmos a quantidade de informação que absorvemos, ou situações onde não conseguimos nos
distrair e ficamos olhando, sem um direcionamento, para tudo à nossa volta, absorvendo uma quantidade absurda de informação, característica essa que nos causará a impressão de que o tempo passou rápido, quando, na verdade, nossa mente simplesmente comparou a quantidade de informação absorvida e considerou, utilizando como referencia uma percepção menos turbulenta, que nos é mais comum, que um determinado período de tempo passou, analogia essa que é completamente errônea; o tempo não passa devagar nesses momentos, nós simplesmente absorvemos mais informações do que o que consideramos normal. Sem um elemento que direcionasse a minha atenção e me fizesse ignorar a grande quantidade de impressões à minha volta, eu me deparei com vários acontecimentos que teriam passado despercebidos. Por causa da grande quantidade de informação, eu tinha a impressão de que o tempo havia passado, mas, quando olhava para o meu relógio, ele não havia passado, parecia estar estagnado.”
Com
o surgimento daquela nova linha de pensamento, ela se esforçou para elaborar
uma interpretação banal para o homem que havia impressionado ela, desse modo
tornando-se capaz de desconstruir tudo aquilo que sua mente começava a atribuir
a ele. Não mais se concentrando em entender aquele homem, ela começou a se
concentrar em desenvolver o seu insight sobre a impressão das pessoas com
relação à percepção da passagem do tempo.
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