segunda-feira, 8 de junho de 2015

Aula de história

      Considero-me muito sortudo por ter lido o livro Guerra e paz em tenra idade. Esse livro me proporcionou uma perspectiva mais coerente, com relação a muitas coisas com as quais eu me deparava na minha vida, fazendo com que eu, finalmente, fosse capaz de compreender algumas coisas, que antes eram indecifráveis para mim, sendo essa incompreensão extremamente pungente. Mas, acima de tudo, o livro me permitiu perceber o quão ineficiente e limitado é o ensino escolar, ele me mostrou o quanto os professores não estudaram e não entendem os assuntos que estão expondo aos alunos; o livro me mostrou que os professores simplesmente decoram algumas informações, sem as relacionar a nada, sem tentarem entendê-la em todas as suas nuances, e as expõem aos alunos como sendo verdades absolutas, exigindo que os mesmos absorvam aqueles conceitos infundados, e os reprovando se não são capazes de enxergarem o mundo dessa forma limitada e pré-concebida. Leon Tolstoi me permitiu perceber tudo isso, com suas palavras simples e certeiras. O conhecimento que o livro me proporcionou, permitiu que eu adquirisse uma perspectiva importantíssima, que foi estabelecida após uma aula de história, que se tratava das guerras napoleônicas, e que descreveu toda a campanha francesa em território russo, dando ênfase à “estratégia russa” de combate, e que o professor falava com orgulho, classificando-a como um grande trunfo da inteligência russa; toda vez que repetia as palavras: “terra arrasada”, ficava entusiasmado.
      Ele era um professor novo, tanto em idade quanto em tempo em que exercia a profissão. Recém-saído da universidade, que era uma das mais renomadas do país, ele expunha com convicção seus conhecimentos adquiridos naquela instituição.
      — Os russos aproveitaram a extensão do seu território, auxiliado às condições climáticas rigorosas da região, para atrair os franceses para o interior do país, queimando todas as cidades e provisões, com isso enfraquecendo o exército francês, o que possibilitou uma vitória esmagadora
do exército russo em um combate posterior, onde os franceses, que se encontravam em condições deploráveis, sucumbiram de maneira vexaminosa...
      Eu me contive perante a essa explanação simplificada e errônea, sobre a campanha de Napoleão em território russo. Fiquei calado e indignado, pensando nos verdadeiros motivos da derrota francesa, que foram apresentados de maneira abrangente e direta no livro Guerra e paz. Comecei a pensar em como seria a reação de Tolstoi se assistisse a essa aula. Pensei em como o grande responsável pela vitória russa — que o livro deixava claro como sendo a ideologia russa, arraigada pela religião ortodoxa que incutiu na mente dos russos a relação de Napoleão com algo como que um anticristo — foi simplesmente ignorado pelo professor. Fiquei espantado em não ouvir o professor mencionar as represálias do governo russo ao recuo do exército, que era suscitado pelo medo ao exército de Napoleão, que parecia ser invencível. Era insuportável ouvir o meu professor, sabendo que aquilo que ele chamava de  “estratégia da terra arrasada” na verdade era uma consequência menos organizada e despretensiosa, proveniente do desespero da população russa, que por enxergarem Napoleão como um anticristo, preferiam queimar e destruir todos os seus pertences — mesmo com as represálias das autoridades — do que entrega-los a esse ser que era visto como sendo um demônio. Fiquei triste por ver que o verdadeiro herói russo, na guerra contra Napoleão, foi esquecido. Kutuzov foi um general corajoso, que enfrentou o desprezo de grande parte do exército russo, acreditou em sua percepção e estratégia, e deixou que o “animal ferido”, que ele considerou como sendo o exército francês após a grande batalha de Borodino, deixasse de ser um exército e se transformasse em um bando de saqueadores, que por si só incendiou a grande Moscou, que era constituída, em grande parte, por edifícios de madeira, pois ela é um ótimo isolante térmico. Minha indignação beirou o absurdo quando um C.D.F. babaca elogiou os russos, por serem capazes de bolarem essa estratégia. Aquilo foi demais para mim, eu odiava ouvir aquele imbecil falar; um dia, ele questionou a existência da vida na terra, pois tinha visto uma matéria que falava sobre um robô que foi construído para identificar indícios de vida em outros planetas, mas que quando testado no planeta Terra não indicou a presença de vida; eu tinha que me deparar com esses tipos de comentários; quanto de estupor é
necessário para que uma mente se tornasse aquela porcaria, que deturpa todo o conhecimento e dá formatos absurdos para tudo? Pior que os seus comentários eram valorizados em demasia; talvez ele tenha se tornado o tipo de burro idiota que a escola almeja criar, e que eu nunca seria capaz de me permitir ser.
      Fui abrigado a me retirar daquela sessão emburrecedora, e fiquei sentado pensando, em um dos bancos de concreto no pátio. Depois daquele dia eu nunca mais prestei atenção a nenhuma aula, eu ficava sentado no funda da sala, fazendo qualquer coisa que não fosse prestar atenção às merdas que eram pronunciadas por todos. No final, eu me tornei muito melhor do que todos eles, eu não me deixei emburrecer.

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