segunda-feira, 8 de junho de 2015

O arquétipo longínquo

   De acordo com Jung, todos os seres humanos possuem projeções que amenizam e tornam suportável a nossa existência. Para ele, essas projeções — que poderiam ser caracterizadas como ideais que prometem satisfazer os nossos desejos profundos e inverificáveis — devem ser elaboradas em relação a objetos externos longínquos, que não podem ser experimentados por nós. Jung afirma que a desconstrução de um arquétipo acorre quando o conteúdo do mesmo acaba por ser experimentado por nós, dessa maneira não mais sendo um conteúdo inexplorado e desenvolvido estritamente pela imaginação, mas sim se tornando um ideal acessível à consciência e todo o seu senso crítico e sua desconstrução e invalidação sistemática dos parâmetros. Essa percepção consciente nos permite a reordenação do conteúdo do arquétipo, que não mais poderia ser utilizado como ideal que ameniza nossos impulsos mais profundos e desesperadores; nesse caso, para que o arquétipo continue a existir e nós não nos deparemos com o potencial absurdo e desesperador das profundezas do nosso intelecto, é preciso que estabeleçamos arquétipos inverificáveis, que podem permanecer para sempre como ideais que não permitem que nos deparemos com a assustadora profundeza selvagem, insaciável e potente do nosso intelecto.

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