segunda-feira, 29 de junho de 2015

O único resquício

Paro por um instante; tento me desvencilhar de tudo o que possa me distrair. Muito lentamente minha mente vai se acalmando, os turbilhões violentos e intermináveis de pensamentos vão se tornando uma linha organizada e serena, calma a ponto de poder eu compreender o que se passa nas profundezas do meu intelecto; e é isso que me proponho a fazer.
Essa tarefa de investigador da psique sempre me entreteve ao longo da minha vida. Desde pequeno me esforço para entender tudo aquilo que sinto, tarefa essa que, a princípio, foi muito difícil para mim. Com o passar do tempo minha mente se tornou mais ágil, minha capacidade de imaginar se tornou mais potente, mais domesticada, assim como minha capacidade de me dedicar, por muito tempo, à investigação de algum assunto; todos esses novos atributos me permitiram elaborar modelos mais precisos e abrangentes, relacionando quase todas as coisas que eu sou capaz de perceber.
Atualmente, esse meu exercício constante adquiriu novas proporções. Utilizando papeis e uma lapiseira, proponho-me a tentar transmitir todas as minhas impressões e concepções. Agora eu faço com que meus pensamentos turbulentos e inconstantes repousem serenos, claros e eternos, em várias folhas de papel. Eu escrevo, escrevo e escrevo; tento expressar desde o pensamento mais simples até o mais complexo, sem deixar nada escondido na minha mente. Essa tarefa, um tanto complicada, passou a ser minha prioridade, tomando espaço de muitas outras formas de utilizar o meu tempo.
Esse direcionamento específico do meu tempo já foi, em momentos anteriores da minha vida, uma atitude que muito me incomodou. Minha imaginação, sempre incansável, criava os cenários mais incríveis para todas as minhas possíveis atividades, fazendo com que a limitação de tudo aquilo que eu poderia fazer se tornasse absurdamente sufocante, quase sempre me obrigando a abandonar a direção à qual me propunha seguir. O tempo passou e consegui domesticar a minha imaginação; atualmente utilizo-a para o meu próprio benefício, e não mais me permito acreditar em quimeras absurdas, infundadas.
Entretanto, mesmo com toda minha maturidade adquirida —  que se deve, em grande parte, à literatura e à escrita —, não sei se a minha imaginação, mesmo em uma condição quase que incontrolável, seria capaz de desconstruir ou desmerecer essas atividades tão nobres, às quais me proponho, cheio de vontade, atualmente. Digo isso pois a arte — que desenvolvo na forma de escrita — é a única forma de externarmos a nossa introspecção e comunicar a todas a forma como interpretamos as coisas; ela será o único vestígio de nossa existência, e eu, que sempre pensei diferente, sinto uma necessidade quase que alucinante de fazer arte, de poder mostras para as pessoas como eu enxergo o mundo, a existência.

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