terça-feira, 30 de agosto de 2016

Sobre a cultura organizacional

           Na última organização onde trabalhei, a cultura organizacional era quase que absolutamente informal, sem que ninguém se preocupasse em defini-la ou regulá-la com precisão. Entretanto, mesmo com essa ausência de controle, em um parâmetro fundamental de uma empresa, todos os colaboradores seguiam normas que eram compartilhadas por todos. A palavra Deus era usada por todos, constantemente, sendo eles incapazes de definir com precisão o que aquilo queria dizer, mas que, de alguma forma, trazia conforto e satisfação quando pronunciada. As pessoas tinham como principal objetivo o sexo, e todos valorizavam isso acima de tudo; no entanto, essas mesmas pessoas associavam o acúmulo de capital a oportunidades de transarem com pessoas melhores, e isso fazia com que elas se dedicassem a seus trabalhos, assiduamente, pois pensavam que promoções e aumentos lhes proporcionariam mais, e melhores, oportunidades de sexo. Essa mentalidade básica, que era seguida por todos, sem exceções, era explicita naqueles que eram chamados de “peões” e implícita, floreada e disfarçada, em pessoas que ocupavam cargos que exigiam maior esforço intelectual. Aqueles que conseguiam disfarçar bem sua sexualidade exagerada e doentia eram tidos como sendo educados e inteligentes. Um dia, um desses seres “super-educados” disse que leu um livro de Freud; todos do seu setor ficaram curiosos e o consideraram como sendo um dos poucos homens que havia lido aquilo que consideravam como sendo uma espécie de “bíblia contemporânea”. Em uma outra situação, um homem disse que havia ido na igreja; ninguém entendeu o que queria dizer aquilo, então o homem tentou explicar o que era: “Ah, eu fui por curiosidade, achei que era uma espécie de museu; chegando lá peguei um papel na porta, que era tipo um itinerário, com músicas e textos. Um homem com uma roupa esquisita ficava lendo um livro para as pessoas. Lá dentro pude ver umas imagens e estátuas legais, mas quando tentei andar pelo local, para vê-las melhor e mais de perto, percebi que as pessoas, pelas suas reações, não aprovavam essa minha atitude, então retornei ao lugar onde estava sentado e fiquei imitando o que todos à minha volta faziam.” Tudo mundo continuou olhando, meio sem entenderem nada; então alguém falou: “Esse local pode ser considerado como sendo um de clube do livro.” Aquele que havia ido à igreja pensou por um momento e disse, logo em seguida: “Você tem razão, é exatamente isso. Um grandioso clube do livro.” Todos acharam aquilo interessante; o mesmo homem que havia definido aquele local como sendo um clube do livro disse: “ E ainda dizem que a literatura está em baixa hoje em dia.” Todos riram e voltaram aos seus afazeres.

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