O medo e a resignação humana são
naturais, e ocorrem antes mesmo de qualquer imposição externa; o ser humano
possui expectativas absurdas, interpretando todas as situações que vivencia de
maneira exagerada, extrema. Fazemos uma interpretação incoerente com relação a
todos os fatos, principalmente os ruins, que devido a desenvolvimentos
infundados da mente, adquirem proporções aterradoras. Até mesmo a fugacidade
dos acontecimentos é motivo que proporciona sofrimento para os seres humanos;
sabemos que as coisas são passageiras, e sentimo-nos tristes, mesmo antes de
realizarmos algo que possa nos satisfazer, pois sabemos que aquilo não é
duradouro, desse modo tendo uma provável futura decepção sendo desenvolvida
pela mente, que exagera em sua concepção sobre o que pode acontecer e cria uma
possibilidade dolorosa. Com isso o ser humano estabelece utopias longínquas,
que irão lhe proporcionar a felicidade duradoura que ele tanto almeja.
Podemos
caracterizar o que foi dito até aqui como sendo o estado primordial de
funcionamento da mente; a proteção excessiva, que repudia qualquer parâmetro que
possa nos magoar, acaba por transformar as pessoas em seres limitados, que não
exploram a vida e que são muito vulneráveis, podendo sucumbir à menor das
situações adversas. A religião é seguida com fervor, pelas pessoas que possuem
uma mente primitiva; as promessas de felicidade eterna são os únicos conceitos
que conseguem suprir o medo e a decepção com a existência, satisfazendo a
constituição inicial da mente e instaurando uma perspectiva que torna a vida
suportável.
Em
um estágio mais elevado de maturidade mental, encontramos as pessoas que se
deparam com algum tipo de acontecimento adverso, sendo esse acontecimento
explorado pela mente, que percebendo as verdadeiras condições e acontecimentos, deixa de desenvolver perspectivas infundadas e exageradas para
todos os acontecimentos. Essas pessoas são capazes de perceber que os
acontecimentos não são tão nocivos para a nossa existência, elas percebem que
alguns dos parâmetros, desenvolvidos pela mente, eram exagerados e descabidos,
desse modo refutando-os e estabelecendo conceitos que se aproximam do
verdadeiro modo de ser das coisas. Uma mente nessas condições não mais precisa
da promessa de uma vida além-túmulo cheia de paz e felicidade, ela experimentou
o que era repudiado e evitado a todo custo, refutou os exageros da mente e
finalmente está preparada para desenvolver perspectivas mais coerentes, para
possuir uma vida mais próxima da realidade.
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