A
confraternização chegou ao fim. Mais uma das constantes reuniões
despretensiosas, que eram realizadas com frequência na casa dessas pessoas que
se conheciam há muito tempo, havia sido encerrada sem que alguém estivesse
demasiado bêbado ou feliz; sem que alguém se encontrasse em um estado de
irritação colérica ou em um estado de paz inabalável. Ninguém aprendeu alguma
coisa nova, ninguém conseguiu adquirir informação para aprimorar seu modelo de
funcionamento das coisas, ninguém discutiu, ninguém ficou ressentido com algo
que foi dito — e se ficou não deixou transparecer, pois, durante
as poucas horas em que esses amigos se reuniram, todos mantiveram expostos seus
belos e radiantes sorrisos brancos —, ninguém exagerou na bebida, ninguém
ampliou suas perspectivas com relação à vida; mais uma vez, as principais notícias
da semana foram debatidas de maneira superficial e preconceituosa, alguns casos
e fofocas fúteis foram contados e alguns objetivos de vida medíocres foram
defendidos e exaltados por todos os integrantes da reunião. Dessa vez, o grupo
de amigos conseguiu permanecer unido por quatro horas, o que era um recorde,
eles nunca antes haviam conseguido se suportarem por tanto tempo.
O opulento quintal, no fundo da casa, onde constantemente
eram realizadas essas reuniões, possuía ornamentos belos e impecáveis, sendo
eles distribuídos de forma homogênea e minuciosa; toda a harmonia e beleza
estonteante eram provenientes de um projeto arquitetônico caro e que foi exaustivamente
planejado, além do interesse especial por parte dos donos da casa, que para
suprirem suas ausências interiores, encontravam as mais variadas distrações,
sendo a manutenção da beleza do quintal a atividade predileta entre os
moradores da casa. A família que morava ali era constituída por pais que se
casaram relativamente cedo, e por duas filhas, sendo que uma delas já havia se
casado e não morava mais ali. A filha mais nova, que tinha em torno de 27 anos,
era uma pessoa de natureza apagada, alguém que nasceu póstumo e com a
contribuição da imposição dos pontos de vista diminutos e incoerentes,
provenientes dos pais e das imposições sociais, essa mulher desenvolveu um tipo
de existência que poderíamos caracterizar como sendo uma espécie de anti-vida,
que nutria apenas aquilo que era absurdo e desprezando e ridicularizando
qualquer coisa um pouco mais elevada.
Preferencialmente, as confraternizações eram realizadas
na casa dela, todos os integrantes do grupo eram unanimes em admitir que aquele
era o local mais belo e confortável, características que o tornavam o lugar
ideal para que fossem realizadas as reuniões.
Mesmo com suas limitações evidentes, a dona da casa
aparentava possuir muito dinheiro, o que a tornava uma das pessoas mais
influentes do grupo, tendo sua opinião valorizada em demasia e até mesmo sendo
copiada em alguns aspectos pelas colegas.
Algumas vezes, essas pessoas se empolgavam e conversavam
sobre aquilo que eles consideravam como sendo a vida, mas que seria
classificado de maneira diferente por qualquer observador externo, mesmo sendo
ele dotado de uma capacidade mínima de discernimento. Eles eram um grupo de
jovens que abandonaram qualquer tipo de senso crítico, que diminuíram e
distorceram suas perspectivas até não poderem mais, que se enfraqueceram,
jogando toda a sua fibra, seus pensamentos próprios e sua força de vontade por
água abaixo, desvalorizando as únicas características que nos tornam seres
humanos evoluídos. Esse tipo de reunião cadavérica — que é cada vez mais comum
entre os jovens — é capaz de fazer qualquer ser humano de verdade chorar.
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